Grupo Deolinda é uma das mais belas revelações da nova música portuguesa |
Nossos patrícios portugueses vivem atualmente uma grave crise
econômico-financeira, com forte repercussão na área social. A dívida externa,
que era de 64% do Produto Interno Bruto português, passou para o índice
assustador de 100% do PIB, o que vem reduzindo investimentos, aumentando o
desemprego e o custo de vida.
Alguns parlamentares de esquerda alertaram recentemente que a
situação social em bairros mais pobre chega a ser “gravíssima”. Pedem solução
emergencial e criticam os sucessivos planos de austeridades impostos pelo
primeiro-ministro José Sócrates.
Enquanto isso, Portugal, neste domingo, comemora 37 anos da
Revolução dos Cravos. A mesma que levou Chico Buarque a compor os versos “foi
bonita a festa pá, fiquei contente, ainda guardo renitente um velho cravo para
mim”.
Se os ventos não sopram lá muito bem para nossos colonizadores no
campo econômico, político e social, tal fato parece não acontecer, felizmente,
na área cultural. Artistas consagrados como Paulo de Carvalho, Jorge Palma e o
grupo Deolinda estarão neste domingo nas ruas e praças cantando, com o povo,
para comemorar a Revolução dos Cravos.
O grupo Deolinda é composto de dois irmãos, Pedro e Luís José, da
prima Ana Bacalhau e do baixista José Pedro Leitão, que é marido da vocalista.
Fazem uma música inteligente, bonita, carregada de ironia e de temas modernos.
Ouçam, vejam e acompanhem a letra dessa interessante “Parva que eu sou”. Mais
embaixo, na interpretação de Paulo de Carvalho, a belíssima canção “Os meninos
de Huambo”, de Rui Monteiro, compositor Angolano.
Parva, segundo o dicionário, é pessoa de pouca inteligência,
idiota, bobo. Huambo é uma província de Angola.
Parva Que Eu Sou
Deolinda
Sou da geração sem remuneração
E nem me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
E nem me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
Já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
Já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
Que mundo tão parvo
Que para ser escravo é preciso estudar.
Que mundo tão parvo
Que para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração 'casinha dos pais',
Se já tenho tudo, para quê querer mais?
Que parva que eu sou!
Filhos, marido, estou sempre a adiar
E ainda me falta o carro pagar,
Que parva que eu sou!
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar.
E ainda me falta o carro pagar,
Que parva que eu sou!
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração 'vou queixar-me para quê?'
Há alguém bem pior do que eu na tv.
Que parva que eu sou!
Sou da geração 'eu já não posso mais!'
Que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!E fico a pensar,
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar.
Há alguém bem pior do que eu na tv.
Que parva que eu sou!
Sou da geração 'eu já não posso mais!'
Que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!E fico a pensar,
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar.
Os Meninos de Huambo
Paulo de Carvalho
Composição : Rui Monteiro
Com fios feitos de lágrimas passadas
Os meninos de Huambo fazem alegria
Constroem sonhos com os mais velhos de mãos dadas
E no céu descobrem estrelas de magia
Os meninos de Huambo fazem alegria
Constroem sonhos com os mais velhos de mãos dadas
E no céu descobrem estrelas de magia
Com os lábios de dizer nova poesia
Soletram as estrelas como letras
E vão juntando no céu como pedrinhas
Estrelas letras para fazer novas palavras
Soletram as estrelas como letras
E vão juntando no céu como pedrinhas
Estrelas letras para fazer novas palavras
Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
Com os sorrisos mais lindos do planalto
Fazem continhas engraçadas de somar
Somam beijos com flores e com suor
E subtraem manhã cedo por luar
Fazem continhas engraçadas de somar
Somam beijos com flores e com suor
E subtraem manhã cedo por luar
Dividem a chuva miudinha pelo milho
Multiplicam o vento pelo mar
Soltam ao céu as estrelas já escritas
Constelações que brilham sempre sem parar
Multiplicam o vento pelo mar
Soltam ao céu as estrelas já escritas
Constelações que brilham sempre sem parar
Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
Palavras sempre novas, sempre novas
Palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo
Palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo
Assim contentes à voltinha da fogueira
Juntam palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
Juntam palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo
As estrelas são letras que as crianças inventam e soletram e não são do céu, são do povo...é mesmo uma canção forte e bela...de um povo que já sofreu na pele a ausência da liberdade e sabe o quanto ela lhe custa...mais do que uma canção é um hino à beleza da vida e à liberdade!
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