quarta-feira, 6 de abril de 2011

O que fazer quando a saudade aperta?

Início de noite difícil a de hoje. Bateu uma saudade irrevogável de minha amiga e querida cunhada Vânia Daura. Amiga de tantos amigos e querida por todos. Mas, que, infelizmente, resolveu nos pregar uma peça e nos deixou muito cedo.
Foi a grande arquiteta, ao lado de tantos outros, do nosso hoje consolidado e reverenciado Carnaval dos Amigos, que percorre as ruas de Goiânia há nove anos, sempre no sábado anterior à semana do Carnaval (veja matérias neste blog e ouça a música do carnaval que cita a Vânia). Arquitetava todas as nossas outras festas, reuniões, saídas e entradas da deliciosa  boemia goianiense.
Quem a conheceu não esquece, jamais. Quem não teve essa oportunidade, de alguma forma já ouviu falar alguma coisa sobre a grandeza dos seus gestos e a beleza de sua alma.
Stela, minha mulher e irmã da Vânia, gostava, e gosta até hoje, de ironizar-me, dizendo: “Ê, José Carlos, você queria mesmo era ter casado com a Vânia Daura para os dois viverem na gandaia”. Pra esse fim, tivemos, sim, um casamento eterno enquanto durou. Nunca deixamos de prestigiar e apreciar os amigos e as noites goianienses, brasilienses, uruaçuenses, cariocas e tantas outras que ousaram nos desafiar por esse Brasil afora.
Algumas coisas estão martelando mais fortemente na minha memória neste início de noite. Uma delas, o tanto que Vânia implicava com seu próprio nome. Não gostava da sonoridade da palavra, e ainda mais porque, algumas pessoas – por descuido, relaxo ou gozação mesmo – acabavam chamando-a de Vaina. Com o complemento, Daura, então... chegava à loucura.
Depois vinham os sobrenomes. Freitas era inexpressivo, sem graça, comum demais... E o Martins? “Além de feio, isso é invenção da minha mãe”. Na realidade, o pai dela era conhecido como filho do Martinho, que algumas pessoas pronunciavam Martin. Daí o nome virou sobrenome Martins, que não existia nem na família do pai, nem, muito menos, na da mãe. “Um desastre”, lamentava.
A outra recordação que me persegue nesta noite é o tanto que ela adorava Canção da América, de Milton Nascimento. Com toda razão, porque realmente valorizava os amigos, como ninguém.
Só existe uma saída para matar um pouco a saudade nesta noite e tentar conciliar o sono, em paz. Publicar aqui a poesia que eu fiz para Vânia, no dia de seu aniversário, procurando brincar com seus nomes e sobrenomes. Claro, colocar também no ar o vídeo de Milton Nascimento, cantando Canção da América. Espero que vocês curtam e possam transformar esta noite em algo... Sei lá!



Dança dos nomes
(José Carlos Camapum Barroso)

Ah! A Vânia,
Quando Vaina
Dá vertigens
Só de olhar.

Mas a Daura,
Quando doura,
Toda loura,
Leva o ar.

Esses nomes...
Tão sobre nomes...
Feitos de Freitas,
Daqui e de lá.

De terras e ares,
De mares e bares,
Já tão bêbados
De Martinis
E de Martins,
Em todo lugar.

Ah! Palavras...
São só palavras!
Mas as mulheres,
Melhores, não há.



12 comentários:

  1. Ave, meu bom José, que falou por todos nós. Um registro triste e alegre da ausência de Vânia, como só a lembrança dela pode proporcionar. Interessante essa estória do Martins do nome dela, não sabia disso. Ela foi mesmo a nossa musa, a nossa vestal da boemia, ainda que uma boemia organizada, própria das grandes Divas, que isso é que ela foi prá nós....Vânia não morreu, encantou-se...

    ResponderExcluir
  2. Como dizia Cartola, "nada consigo fazer, quando a saudade aperta, foge-me a inspiração, sinto a alma deserta..."

    ResponderExcluir
  3. È quase impossível saber o que fazer quando a saudade aperta nestes casos. Vânia não só consolidou uma grande amizade como criou com seus gestos amáveis um grupo fiel de amigos. Vãnia não agia sempre como uma amiga,mas muitas vezes como uma legítima mãe protetora desse grupo. Mas, sabe de uma coisa? Lá no céu deve ter sempre uma roda de violão, cavaquinho, com poesias e tudo mais coordenado por ela. VIVA A VANIA!!!

    ResponderExcluir
  4. É isso aí, mestre Itaney! Quando fiz o título, depois de pronto o texto, lembrei de Cartola. Vânia também adorava o nosso Cartola, e a Jane Elmar adora, muito mais ainda. Essas irmãs Freitas são demais!

    ResponderExcluir
  5. Solange e Rômulo, concordo com vocês. A Vânia, com certeza, está lá no céu, naquele cantinho especial, à direita de Deus Pai, organizando uma boa rodada de chorinho pra matar a saudade dos que ficaram por este mundo, que ficou menor depois da partida de alguns amigos.

    ResponderExcluir
  6. Não consigo me lembrar desta moça, a Vânia. Vaina? Não, não me lembro. Ela virou purpurina? Encantou-se? Metaforanímia?
    Não, não me lembro... e por que ia me lembrar?

    ResponderExcluir
  7. Descreveu lindamente minha irmã, era assim mesmo, sem tirar nem por, aliás sempre arrumamos algo mais a "por" em Vania, dona de tantas virtudes e atitudes bacanas, humanas, amiga no verdadeiro sentido da palavra...Costumo dizer que ela foi como um meteoroque cruzou nossas vidas rapidamente, deixando brilho intenso por onde passava, o seu rastro de luz iluminou a todos nós, e hj ela está lá no céu, a Estrela "Daura"!

    ResponderExcluir
  8. Sempre ouvi dizer que os bons morrem mais cedo!

    ResponderExcluir
  9. Cadê voce (Leila XIV) - Chico Buarque

    Me dê noticia de você
    Eu gosto um pouco de chorar
    A gente quase não se vê
    Me deu vontade de lembrar

    Me leve um pouco com você
    Eu gosto de qualquer lugar
    A gente pode se entender
    E não saber o que falar

    Seria um acontecimento
    Mas lógico que você some
    No dia em que o seu pensamento
    Me chamou

    Eu chamo o seu apartamento
    Não mora ninguém com esse nome
    Que linda a cantiga do vento
    Já passou

    A gente quase não se vê
    Eu só queria me lembrar
    Me dê noticia de você
    Me deu vontade de voltar

    Compositor preferido de Vania, Chico fez esta composição maravilhosa. Sempre que a ouço, Vania está comigo.
    Ei turma, precisamos marcar uma noitada com violão e poesia.
    Ze, parabens, cada dia o Blog esta melhor

    ResponderExcluir
  10. Valeu poeta Zé Carlos!!!!!! Incrível que ontem me bateu uma sauuuuuudade incontroladaaaaaa do Maurício.
    Será que eles estavam comemorando e vieram curtir conosco???
    Foi muito forte o q senti ontem . E hoje lendo sobre a Vânia emocionei-me e a saudade mais uma vez me atracou. A TURMA LÁ DE CIMA TÁ FAZENDO MUIIIIIITA FALTA.

    ResponderExcluir
  11. Olá!

    Cheguei aqui por intermédio da Ceres Maura, uma "irmã" virtual que aprendi a amar e respeitar incondicionalmente. Gostei do que vi. Parabéns pelo blog e pela forma casual com a qual passeia entre as palavras. Estarei sempre por aqui!

    Abraço!

    ResponderExcluir
  12. Poxa, com tanta gente escrevendo linhas maravilhosas e a música deste blog, fascinante!!! Fica a minha emoção, meus olhos marejados de saudades de toda a história que Vânia e Margot sempre nos traz à mente. Parabéns pelo BLog.

    ResponderExcluir