sábado, 31 de agosto de 2024

Dia do Blog serve para comemorar muitas conquistas

Ilustração de Marco Antônio Soares Júnior

Tem data comemorativa para tudo quanto é gosto no calendário. Já existe até o Dia Internacional do Blog, comemorado hoje (31/08). A escolha dessa data não tem referência histórica, nem serve para homenagear algo ou alguém relacionado a esse instrumento de comunicação da era tecnológica. Mas, achei interessante saber que se trata, simplesmente, de uma escolha por questão visual. O 3108 remete à palavra Blog.

O ZecaBlog surgiu em fevereiro de 2011. Veio com a proposta de divulgar a cultura, de forma ampla, para que ela se torne, cada vez mais, robusta, inclusiva e transformadora. De lá pra cá, foram publicados 895 textos, que geraram quase 490 mil visualizações de páginas, com 1.588 comentários.

O fortalecimento da cultura é fundamental em uma sociedade que se pretenda verdadeiramente democrática. Nesta década, tivemos a atuação ostensiva de um presidente contra as manifestações culturais. Pelo seu viés terrivelmente autocrático, sempre pressupôs que a cultura, assim como a educação, deveria ser sufocada para que não estimulasse a capacidade de pensar do ser humano.

O mundo sofreu uma verdadeira revolução na forma como nos comunicamos. Desde o surgimento do extinto Orkut (lembram?) ao Facebook, em 2004, e com o surgimento dos canais de mídia social – Instagram, Twitter (X), TikTok, LinkedIn e Thread, entre outras –, essas plataformas passaram a desempenhar papel fundamental na maneira como interagimos, compartilhamos informações e nos conectamos uns com os outros.

O impacto desse novo universo da comunicação é notável na cultura, que é o objeto maior e primeiro deste blog. Nas relações sociais, nos ambientes familiares e de trabalho há um interferência significativa, que gera tantos desafios quanto oportunidades para indivíduos e sociedade como um todo.

As redes sociais possibilitaram a disseminação de notícias falsas em uma escala sem precedentes na história da convivência humana. O surgimento das eco câmeras e bolhas de filtro deixou as pessoas expostas principalmente a perspectivas que confirmam suas próprias opiniões e crenças.

É necessário alertar, também, para o compartilhamento de informações pessoais nas redes sociais e a falta de cuidado no manejo. São situações que podem tornar-se uma ameaça à privacidade dos usuários, abrindo espaço para o roubo de identidade, assédio cibernético e outras formas de exploração.

Nossa participação nesse novo mundo tecnológico e de comunicação, ao longo desses quase 14 anos, é o de contribuir, por meio da cultura, para uma sociedade mais humana, socialmente justa, politicamente democrática, com direitos e oportunidades iguais para todos, independentemente de cor, raça, credo, gênero ou filiações partidárias e convicções ideológicas.

Assim, surgimos. Desta forma, estamos navegando por mares tenebrosos. E assim, seremos no futuro, que temos capacidade, inteligência, criatividade para construir de forma cada vez melhor.

Temos muito a agradecer às leitoras e leitores que por aqui passaram e aos que ainda passarão. Muito obrigado, e viva a cultura!


segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Envelhecer bem é do tamanho da alegria que se tem

“Envelhecer é muito triste!”, ponderou minha mãe Iracema no trajeto da casa de Celiana, minha irmã caçula, com quem ela mora, até a da mana Juracema, onde iria passar o fim de semana. No longo caminho, do condomínio Verde, no Jardim Botânico, até o Entre Lagos, na região do Paranoá, coloquei para tocar um playlist de músicas românticas, sentimentais, na maioria interpretadas por cantoras e cantores das antigas.

Fez esse comentário ao ouvir uma música que falava justamente sobre as dificuldades trazidas e ampliadas pelo passar dos anos. Ponderei que só vive muito quem vive bem, ou, em outras palavras, quem procura viver prazerosamente, com alegria e perfeita interação com as coisas do mundo e com as pessoas. Exceção, claro, do acometimento de doenças graves que ceifam a vida, em alguns casos, de forma dolorosa, sofrida, e dos acidentes fatais, que levam as pessoas antes do combinado, muitas vezes com tenra idade.

Preciso destacar que ela esteve feliz, ao longo de todo trajeto, com o repertório musical que a fazia viajar no tempo ao ouvir as vozes de Nelson Gonçalves, Dolores Duran, Francisco Alves, Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso...

Lá pelas tantas observou que a cantora que ela mais apreciava sempre foi Nora Ney. Interrompi para dizer, entusiasmado: “ela está no playlist, vai aparecer a qualquer momento”. Não demorou dez minutos. Entrou a voz bela e penetrante da cantora, dizendo “ninguém me ama/ ninguém me quer/ ninguém me chama/ de meu amor”.

Ela, radiante de alegria, fez vários comentários. “Essa música é linda demais, e ela canta maravilhosamente bem”, ponderou. E para minha surpresa disse que seu irmão Batista Barroso, meu padrinho de batismo, de saudosa memória, “adorava cantar essa música!”.

Sucederam-se vários outros momentos mágicos ao longo do caminho que acabou não sendo tão demorado assim. Outras músicas, até mesmo de cantores mais novos, como a bela Borbulhas de Amor, versão do poeta Ferreira Gullar, cantada por Raimundo Fagner. Bastaram os primeiros acordes para ela relembrar, cheia de uma felicidade indescritível: “dancei muito essa música nas festas da terceira idade”...

Outros momentos ainda vieram, como ao surgir a voz suave, melodiosa e romântica de Moacir Franco. “Só me vem à memória minha cunhada Vandira Barroso, que adorava as músicas do Moacir”, relembrou na hora. Também ao indagar, plena de convicção, quando surgiram os versos de “sua ilusão entra em campo, no estádio vazio”:  “ele fez em homenagem a Garrincha, né?”.

Justamente, Garrincha, que viveu e nos deu tantas alegrias nessa nossa existência. Mané, que com as pernas tortas, driblou tantos adversários e tantas adversidades na vida, sempre com alegria. Essa é a receita para se viver bem: buscar e compartilhar alegrias, felicidades, interagindo sempre e mantendo acesa a chama que alimenta os sonhos. A vida é longa sempre quando se vive bem no intervalo de tempo em que estivermos nessa dimensão.

Ao final do trajeto, minha mãe, que está com 86 anos, perdeu boa parte da visão e convive com o Mal de Parkinson, ressalvou: “é, você tá certo, a vida tem muitas coisas boas para se viver”.

Quanta coisa aprendi num trajeto de pouco menos de uma hora de duração. Imaginem o que minha mãe já aprendeu em quase 87 anos de existência...

 

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Antes de chegar setembro, a boa nova é o sabiá

Pintura de Gabriel Gavioli

Mês de agosto – de tantos desgostos, segundo a crença – traz de volta o canto do sabiá, associado ao desejo de chuva pra molhar a terra e umidificar o ar. Som suave, delicado, vindo cada vez mais cedo, bem antes da primavera... pra nossa sorte e deleite.

O ipê amarelo completa esse cenário, impondo uma beleza sem par, pronta para cobrir a grama seca, amarronzada, de um amarelo vivo, fulgurante e consolador. Nem tudo está perdido, embora o ser humano se esforce tanto para antecipar o fim de tudo. Até mesmo, o fim dos tempos...

Antes que o homem alcance seu objetivo tão desastroso, brindemos à natureza, com poesia e música. É o que nos resta e nos faz resistentes. Beijos no coração.

Cantar do Sabiá
José Carlos Camapum Barroso
 
Sabiá, no quintal, cantou, depois de um longo e tenebroso inverno...
Era fim de tarde, início de manhã? Bem mais cedo, o mundo mudou.
Veio o ar da Primavera, o gosto seco de chuva...
 
O vento de setembro pôs fim ao de agosto.
Sabiá-laranjeira, ave do peito-roxo,
Canto de primeira, som de Altamiro Carrilho na flauta...
Meu sabiá, bandeira, Brasão infinito de um Brasil brasileiro.
 
Sabiá-ponga,
Sabiá-piranga,
Meu Caraxué!
O sabiá-laranja
 
Cantou um canto triste no terreiro?
Barriga-vermelha, de um canto fino,
Um cantar sovina, bem brasileiro.
 
Sabiá, sabiá
Não me leve a mal...
Vem cantar de novo
Aqui no meu quintal?

sábado, 17 de agosto de 2024

Poema ao lavrador... porque hoje é sábado

Hoje é sábado, dia de descanso para o Senhor. Impossível fugir dessa realidade, como diria Carlos Drummond de Andrade. Nesse momento, os bares estão repletos de homens vazios. Porque hoje é sábado, também é tempo de poesia, para encantar nossa alma, enaltecer aqueles que merecem ser enaltecidos, lembrados e perpetuados na tempo e na história.

Porque hoje é sábado, brindemos aos poetas, cultivemos a poesia, como o lavrador cultiva a sua terra e usa o suor para abrandar a dor.


Lavrador
José Carlos Camapum Barroso
 
Lavra, lavra lavrador
A dor que é de todos nós
Terra do patrão-senhor
Que estancou a tua voz
 
Lavra bem a mandioca
Fruto que irás dividir
Em nacos de tapioca
Ou em sacos do porvir
 
Lavra e colha o feijão
Milho, batata e arroz
Salgados na tua dor
 
Adoçados no coração
Desatam todos os nós
Da vida de um lavrador


sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Feira de Brechós vai à Ceilândia neste sábado

Rafaela Fernandes, idealizadora do Remoda (Divulgação) 

A cidade de Ceilândia (DF) recebe, neste sábado, a partir das 11h até às 18h, a “Remoda, Feira de Brechós: Festival de Moda Circular”, evento que promete movimentar a cidade com desfile de moda, feira de brechós, workshop, roda de conversa, programação cultural e muita sustentabilidade. O projeto, idealizado pela jovem empreendedora e estudante de design de moda Rafaela Fernandes, será, nesta edição especial, realizada em duas etapas, sendo a primeira neste sábado, na Praça ao lado da Estação de Ceilândia Centro, e a segunda em 14 de setembro, em local a ser definido.

A Remoda busca um consumo consciente de moda, economia criativa e circular, sustentabilidade, fomento ao empreendedorismo, valorização do talento e entretenimento. Com entrada franca,  são conceitos diretamente associados ao “Remoda, Feira de Brechós: Festival de Moda Circular”. O público poderá assistir a lançamento de coleção autoral, garimpar produtos entre 40 expositores, participar de atividades capacitadoras e interagir em um meio que valoriza e pratica o consumo consciente e a produção sustentável.

DJ Kashuu (Foto Divulgação)

Muita Música –Todo o ambiente estará  imerso numa atmosfera festiva e musical, com apresentação de dj’s e pocket show de Rivas e Ravel. O projeto está sendo realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal. Surge como extensão e evolução dos encontros de brechós e desapegos que Rafaela Fernandes realiza desde 2021 em Ceilândia, cidade onde nasceu, foi criada e vive.

Inicialmente, a design de moda foi estimulada pelo desejo de renovar o próprio guarda-roupa e ajudar no orçamento doméstico. Em 2018 criou o brechó Mercado de Pulga, no meio digital. A ideia ganhou adeptos e passou a encontros presenciais mensais, reunindo outros brechós e atraindo público de todo o Distrito Federal e Entorno.

Consumo da Moda – Surgia, assim, o Remoda, uma proposta que combina consumo da moda com propósito nobres como a diminuição dos impactos causados pela indústria têxtil, o apoio a pequenos empreendedores e o estímulo à economia local. Além de brechós, o movimento cultural reúne produtores de moda autoral, artistas, lojas slow fashion, artesanato e gastronomia.

Mais que uma ação especial, o evento amplia os objetivos da iniciativa, uma vez que aposta na apresentação de uma marca autoral e atividades formativas. Entre as oportunidades abertas ao público estão workshops de customização de roupas e de aplicação do graffiti na moda, roda de conversa sobre moda sustentável e empreendedorismo feminino e programação cultural como apresentação de dj’s. Nas pick-ups revezarão os dj’s Ocimar, Tânia Black, Kashu e MC Rivas.

Coleção Remoda (Foto Vinícius Adorno)

Catálogo Eletrônico – Um dos pontos altos do evento será a apresentação da coleção Remoda e o lançamento do catálogo eletrônico da marca. Composta por 14 peças, a coleção de street wear, assinada pela estilista Rosangela Buerger, é inspirada na concepção de reciclagem de roupas, de moda circular e esbanja uma linguagem bem jovial.

Na ocasião, a estilista ainda apresentará coleção própria, a Maktub, que também ressalta o reaproveitamento de peças na composição de seus looks, desta vez com uma pegada mais clássica. Ambas as coleções receberam o toque de graffiti de Rivas. “Remoda e Maktub trazem estilos diferentes, mas compartilham a mesma mensagem de que o vestir com personalidade e criatividade pode e deve valorizar a sustentabilidade, desde as escolhas dos materiais até sua confecção e destinação. O desfile também vai reforçar o compromisso com a inclusão, ao convidar para o cast pessoas com deficiências e pessoas da comunidade”, explica Jane Alves, coordenadora de produção do projeto.

Rappers Rivas e Ravel (Divulgação)

Conscientização – Segundo Rafaela, “o brechó vem ajudando a criar nas pessoas outra compreensão sobre peças de segunda mão, a conscientização do papel da moda contemporânea e o reforço de conceitos sobre a inclusão, além de promover a descentralização da moda, tornando o acesso a ela mais igualitário”. Ela se considera uma profissional “feliz em fazer parte dessa revolução da moda, especialmente neste momento em que economizar e cuidar do planeta é cada vez mais importante. A moda sustentável é o futuro e nós já estamos nele!”.


Serviço:
Remoda, Feira de Brechós: Festival de Moda Circular
10 de agosto
Praça ao lado da Estação de Ceilândia Centro
Das 11h às 18h
Entrada franca
Obs.: O local da segunda etapa do evento, marcado para 14 de setembro, será informado em breve. 

Crônica filosofa sobre a difícil arte de viver

Recebi e compartilho com as leitoras e os leitores deste cantinho, uma interessante crônica do amigo, desembargador, poeta e escritor Itaney Campos (foto). Ele faz uma viagem poética e filosófica sobre as razões de viver em um mundo tão perigoso e cheio de curvas surpreendentes, sombrias e ameaçadoras. Vários escritores e filósofos já teceram longos textos sobre o tema. Esse do Itaney merece entrar para o time das grandes reflexões a respeito dos inúmeros perigos da vida. Como disse o poeta Vinícius de Moraes: “São demais os perigos dessa vida”. Confiram o texto e, se possível, comentem.

Viver é perigoso
Itaney F. Campos

« Viver é um constante rasgar-se e emendar-se”, escreveu João Guimarães Rosa, que acrescentou: “O que a vida requer é coragem”. Todo ser vivente é corajoso, que a vida é luta ferocíssima; corajoso o que prossegue, pelo pedregoso caminho, e aquele que se recusa a continuar e encara de frente a escuridão abissal. Vivemos de tragédia em tragédia, e declinamos de contá-las, que isso seria insuportável. Como diria o poeta, grávidos de dores seguimos, a contemplar um céu de estrelas inconstantes e volúveis, com sua luz de fogo fátuo.

E voltando ao Rosa, o que melhor descreveu o rude e belo sertão brasileiro e o agreste misterioso da alma sertaneja, “o correr da vida embrulha tudo; a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria, e ainda mais alegre no meio da tristeza...”.

Viver é ir se desfazendo de nós próprios, ou melhor, é constatar o desfazimento dos atributos que nos humanizam, a visão que se atenua, a memória que esgota, a audição que se reduz, a energia que se esvanece. Retomamos o caminho do rude pó, regressamos, iluminados ou não, à massa amorfa original, ao caldo primordial. Só o instinto de sobrevivência ainda nos faz rir. E agradecer aos fados. Os mesmos que nos feriram. Agradecemos, talvez prevenidos, talvez temerosos, de outros e maiores golpes. Encaramos os dias à frente, que outra opção não nos resta.

Se olharmos pra trás, como Ayla, de Ló, nos tornamos em sal, ou em pó. Se retroagimos, em retrospectiva, veremos dor, veremos lágrimas, veremos sangue. A melhor mãe do mundo ( e todas o são), minha mãe, mãe de sete filhos, mãe de puro amor, teve amputada a sua perna. Foi levada às muletas. Meu avô, um humanista, um puro de espírito e ecumênico, foi empurrado para a escuridão da cegueira, e para o deserto da desmemória. Minha mulher foi levada para as terras do são nunca aos 49, na força da vida, arrancada dos filhos, pouco mais que adolescentes.

Um conterrâneo idealista e lutador, um defensor das causas mais justas, foi levado à jaula, como se fora uma fera, quando era só um homem de bem, um solidário com os deserdados do mundo. Saiu do cárcere em que o jogaram, para o calvário da doença. No vigor da idade madura, foi ceifado pela indesejada das gentes. Sua vida exemplar, de entrega ao ideal de igualdade, foi à guilhotina da morte, broca no tecido da fruta exuberante. Aloísio, o nome ressoa como saudades.

Vênus Mara foi embarcada no trem da morte quando ainda não vivera sessenta anos. Isso depois de oito anos à beira do precipício, em luta para não sucumbir.

Na tragédia grega, Édipo, conforme profetizado, mata o pai Laio e vem a desposar a própria mãe, Jocasta, rainha de Tebas. Cientes de que se cumprira o oráculo, Jocasta se mata e Édipo fura os próprios olhos, abandona o trono e investe-se da condição de mendigo. Em nossa família, conhecida por sua conduta pacífica, episódios trágicos se perpetraram, alterando radicalmente o destino de muitos. Há algum tempo, em razão de um negócio mal resolvido, a família de um primo foi dizimada, a tiros, após severo confronto no curso da noite.

As tragédias, de tão cotidianas, fazem da vida um inferno, o resto é ilusão. Em cada berço de recém-nascido deveria haver uma placa de advertência, como nos pórticos dos círculos abissais de Dante: “Abandonai toda  esperança, ó vós que entrais!”  Para o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, a vida é insuportável em si mesma. A desgraça é a regra geral.

Em conclusão, nas palavras do pensador, a vida é por natureza um mar de dor à espera da dor maior de todas, a morte, e a nossa razão, que nos dá consciência do tempo, nos faz sofrer em antecipação. O filósofo é taxativo e não deixa margem para esperanças: “ A vida de cada indivíduo vale menos que o oblívio, o nada, a inexistência”.

Sobre o ‘post mortem’ nada posso dizer: nunca morri. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Encontro de Arte Urbana nas Escolas do DF está de volta

A 5ª Edição do Encontro de Arte Urbana nas Escolas será retomado agora em agosto, com atividades também em setembro e novembro. Recomeça hoje (8/8) por Ceilândia Sul e depois segue pelas escolas públicas do Sol Nascente/Por do Sol, Ceilândia Norte e Samambaia. Fazem parte do Encontro os shows de rap e crew de breaking e workshops de graffiti, danças urbanas e rap, com destaque para as rodas de conversa em que são abordadas temáticas que se inserem no contexto da juventude, como bulling, prevenção às drogas, combate à discriminação, cultura de paz e fortalecimento de vínculos.

Além da vivência prática, o objetivo de Arte Urbana nas Escolas é inspirar, capacitar e estimular o protagonismo do jovem, e despertar interesse pelo empreendedorismo através da cultura criativa e solidária. O projeto Arte Urbana nas Escolas é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal.

A equipe do projeto é composta por produtores culturais e artistas reconhecidos em suas áreas de atuação e são referências na cultura hip hop. Os workshops serão ministrados por Ravel e Markx (Rap); Will Locking (Dança Urbana) e Elom e Rivas (Graffiti).  “O projeto tem sido um marco nas escolas públicas do DF, a ponto de sermos procurados por inúmeras escolas que desejam nos receber. Sempre temos essas solicitações em nossos canais de comunicação. Pudéramos nós atender a todos, mas de edição em edição vamos alcançando cada vez mais crianças e jovens”, afirma Jane Alves, produtora cultural e proponente do projeto.

O Arte Urbanas nas Escolas acontecerá no CEF 427 (Samambaia), CEF 16 (Ceilândia Norte), CEF 04, CEF 07 e CEF 19 (Ceilândia Sul) e e CEF 32 (Sol Nascente). Atendendo aos dois turnos das instituições que somam cerca de seis mil alunos, o projeto é voltado para alunos dos ensinos fundamental e médio, com idade entre 09 e 16 anos, aproximadamente. A dinâmica tem início com um show de rap e apresentações de uma crew de breaking, abrindo espaço para o conteúdo ministrado pelos arte-educadores. O projeto deixa marcas no coração e mentes da comunidade escolar e, literalmente, no muro da instituição, que recebe a produção em grafitti feita conjuntamente pelos alunos e artistas.

As escolas que recebem o projeto estão isentas de qualquer custo.  Foram priorizadas instituições que oferecem atendimento a pessoas com deficiência, ampliando o conceito de inclusão através de equipamentos de áudio descrição, áudio descritores e tradutores de libras presenciais.


sábado, 3 de agosto de 2024

A violão dado não se olha as cordas

Minha mãe disse “como é assustador ter um filho com 70 anos de idade”! Retruquei, na hora: "não é tanto assim, não, mãe... a senhora vai dizer a mesma coisa quando eu fizer 100 anos". Então, é melhor deixar o dito pelo não dito...

E isso foi dito por que, no sábado passado (27/7), ela presenteou-me com um belo violão Yamaha, custeado pelos irmãos, e muito bem escolhido pela sobrinha Tatiana Barroso. Presente pelo 9 de julho, data em que entrei para o time dos setentões.

Peguei o violão, botei de baixo do braço, e pensei com meus botões: agora, lascou; vou ter que aprender a tocar esse instrumento. Lembrei de Kubitschek – apelido do querido amigo Manoel Fernandes Teixeira – exímio tocador de violão, filho do mestre Plínio, que foi o melhor cavaquinho do estado de Goiás, mas, também, um excelente violonista. Cheguei aos tempos atuais, lembrando que esses dois artistas do mundo da música nos deixaram o Rômulo – irmão do Check e filho do Plínio – que está, até hoje, dedilhando o instrumento na nossa querida Uruaçu, e preservando a cultura musical da região.

Lembrei-me, claro, dos amigos Iliomar Campos e Jorge Fernandes, dois parceiros de tantos anos, meses, dias, noites e madrugadas de tantas aventuras e venturas em busca da felicidade maior que só o mundo da música nos proporciona. Dois grandes violonistas, cada um no seu estilo e modo de tocar próprios: um mais próximo do ritmo, outro mais chegado à beleza da melodia.

Pensei também no amigo Hamilton Almeida, jornalista, colega de trabalho no Jornal de Brasília, durante anos, e que nos deixou muito mais cedo do que o combinado. Com ele, saíamos, após o fechamento do jornal, pra relaxar, divertir, tomar uma bem gelada e, vez em quando, quase sempre, tocar um violão e cantar belas músicas, por que, afinal de contas, ninguém é de ferro...

Claro, como não podia ser diferente, lembrei de Nélio Bastos, que não toca um acorde no violão, mas, tira todos os tons e faz todos os sons de forma maravilhosa com a voz. Aí, lascou mesmo... Ao lembrar do Nélio, pensei com meus botões: vou ter que tocar e cantar ao mesmo tempo!?! Fui.

Segui com o violão debaixo do braço e imaginei... em qualquer esquina eu paro, em qualquer butiquim, eu entro, e se houver motivo... Desviei o caminho, carregando o peso do pinho, a memória forte e grandiosa dessa gente toda, entrei resoluto numa escola de música e me matriculei.

Agora, seja o que Deus quiser. Se nada for adiante, ou tudo ficar como dantes, tenho uma lista enorme de elementos para colocar a responsabilidade e ajustar a desculpa. A culpa nunca será do tocador, muito menos do aprendiz. Bem menos ainda será do professor. Ou, menos ainda do instrumento.

Afinal, a violão dado não se olha as cordas, se são de aço ou de nylon. É só uma questão de afinação. Encontrar o tempo certo e o compasso adequado.

Ademã que eu vou em frente!