Há
quem não goste de falar sobre alma. Acredita que só o corpo e a mente são a
razão do existir. Um tema profundo e delicado, só abordado com a dimensão
precisa pelos filósofos. Mas, que é um tema interessante para a poesia, não
tenho dúvidas. Carlos Drummond, falando do amor, desafiou “quem ousará dizer
que ele é só alma/ quem não sente na alma o corpo expandir-se/ até desabrochar
em puro grito/ de orgasmo, num instante infinito”.
Clarice
Lispector foi mais longe e chegou a refletir sobre o peso que a alma tem,
nesses versos de extraordinária beleza:
“Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser
dita.
Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros. ”
(Clarice Lispector)
Os
poetas são assim: enxergam a leveza do corpo e a materialidade da alma na
imensidão da vida, do universo e dos sonhos. Ou conseguem sentir a dificuldade
de se amar pela alma. Como Manuel Bandeira nesse belíssimo poema abaixo:
Arte de Amar
Manuel Bandeira
Manuel Bandeira
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
De corpo e alma
José Carlos Camapum Barroso
Amor é
encontro de almas
Por águas
calmas, profundas.
Um bater
leve de palmas
A ressoar
pelo mundo.
Atritos
que geram faíscas
São desafio
contínuo:
Se um
trisca, o outro pisca,
O mundo
torna-se vazio!
Pulsar
diário, quântico!
Ondas
desaguam na baía
E um
toque romântico
Faz o
levitar da travessia!
Em Deus,
amor extremo,
Alma e
corpo nus estão.
A graça
do ser Supremo
Consola
na solidão.
Riscos
mundanos, eternos,
Entes
celestes sem fim...
Nos pulsares
incertos,
Corpo e
alma dizem sim!
Em suave
harmonia,
Coro de
poetas a cantar,
Luz nova que
alumia
Bandeira
a desfraldar...
Amor de corpo e alma:
Terra,
Fogo, Água e Ar.
(Para Manuel
Bandeira)
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