Honestidade também tem tudo
a ver com cultura. A falta dela ou seu uso de forma adequada e cotidianamente dependem muito das raízes da sociedade, valores culturais, formação, educação. Sempre foi
assim, em maior ou menor escala, desde que os homens começaram a se agrupar, a viverem juntos, em família, sociedade.
Falo isso porque o nosso
calendário dedica o dia de hoje à Honestidade. E as primeiras coisas que vêm à
cabeça de todos são: isso existe nas sociedades atuais? A desonestidade é um
pecado só dos políticos? Todos eles são pecadores?
A honestidade não é um valor
ignorado apenas por corruptos. No dia a dia, muitas vezes, o cidadão que
talvez jamais venha a tornar-se um corrupto pode ter deslizes no quesito honestidade.
São as pequenas coisas, sedimentadas na cultura da esperteza, que nos fazem,
eventualmente, agir de forma desonesta com os nossos concidadãos. Ao furar uma
fila, pagar uma meia entrada sem ter tal direito, ocupar a vaga ou assento
dedicados exclusivamente a um grupo de pessoas, receber troco errado e ficar
calado, entre tantas outras situações cotidianas...
Estudantes da Universidade
Federal de Minas Gerais fizeram um teste interessante. Colocaram freezer com
picolé em cada uma das faculdades, com a placa indicando o valor de R$ 2,00 e
uma urna para depósito do dinheiro. Simples assim. Só pegar o produto e
depositar o valor correspondente. O objetivo dos estudantes não era o de taxar
determinados locais de honesto ou desonesto, mas entender a cabeça das pessoas
num momento tão delicado da vida pública brasileira.
No ranking da pesquisa, a
Faculdade de Direito foi considerada a mais “despreparada” – apenas 6% dos
picolés ali colocados foram pagos. A melhor “preparada” foi a Faculdade de
Arquitetura e Engenharia da Fumec, com 96% dos picolés pagos. Na avaliação dos
organizadores, não significa que o estudante que se furtou a pagar o picolé
será um corrupto no futuro. Mas...
Recentemente, em Brasília, um
catador de lixo, que mora em barraco na Vila Estrutural, devolveu dinheiro em
espécie, exatamente 1,4 mil dólares, ao ser procurado pelo dono, desesperado,
que já considerava a grana perdida. O músico Gabriel Pensador, numa ação
conjunta com amigos, presenteou o Cidadão com a quantia, em dinheiro, de 10 mil
reais.
Outros exemplos como esse do catador de lixo já
ocorreram Brasil afora. E demonstram que temos cidadãos honestos, capazes de
praticar o bem sem olhar a quem. O brasileiro não é desonesto como nos querem
impingir alguns aproveitadores de momento. Nossa formação, nossa cultura pode até trazer na sua raiz alguns desvios, é verdade, mas impõe-se a honestidade como
regra, embora o cenário político aponte em direção contrária.
Para contextualizar melhor o
dia de hoje, ouçamos Noel Rosa e o clássico “Onde está a honestidade”, na voz impecável de Beth Carvalho.
É vida que segue em busca de uma sociedade melhor. A honestidade pode ajudar muito nisso.
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