Maria
Iracema e Raimundo Nonato Júnior, recém-casados, moravam na periferia de São
Luiz, no Maranhão. Ela, maranhense da gema, e ele piauiense de uma cidadela na
fronteira dos dois estados. Os dois construíram o teto em que moravam na
companhia do pai de Iracema, o seu José de Ribamar, depois que ficou viúvo. O
sogro dela, não poderia ser diferente, tinha a alcunha de Raimundo Nonato, o
pai do Júnior. Morava ali perto, num outro bairro.
Os
dois sempre comentaram entre eles o quanto os dois pais, ou os dois sogros,
eram teimosos. Conhecidos como os reis da teimosia. Mas, até então, não tinham
se encontrado em tempo suficiente para uma conversa mais alongada. No casamento,
seu Raimundo Nonato estava adoentado, não pode comparecer. Deu a benção por
pensamento já que naquele tempo não existiam celulares, nem, muito menos, redes
sociais.
Iracema
e Júnior temiam um encontro entre as duas peças. Viviam imaginando, e temendo,
o que aconteceria se a conversa desandasse para uma desavença, mínima que
fosse.
-
Querida, eu fico imaginando o que vai acontecer porque não sei qual dos dois é
mais teimoso – ponderava o marido. – Tem hora que imagino ser o meu pai. O
velho é muito cabeça-dura.
-
Qual nada! Acho que o meu pai ganha disparado – respondia Maria Iracema. – Zé de Riba
não é fácil, não.
Certo
dia, voltando da feira pra onde foi em companhia do pai, a mulher disse pro
marido.
-
Meu bem, seu pai e o meu se encontraram na feira.
-
Discutiram????
-
Não, não deu tempo. Foi um encontro rápido, seu pai tava apressado.
-
Graças a Deus!
Uma
manhã de domingo, depois da missa, seu José de Ribamar estava sentado numa
preguiçosa, na calçada, enrolando um cigarro de palha, quando percebeu a
aproximação de uma Vespa – ou, uma Lambreta, como é chamada em outras regiões. No
comando, ninguém menos que seu Raimundo Nonato, pai do Júnior, e por consequência
sogro de Iracema.
Foi
tirando os óculos e o capacete e cumprimentando o morador.
-
Bom dia, seu Zé de Riba, tudo bem com o senhor?
-
Bom dia, tudo na santa paz de Deus. E com o senhor, tá tudo bem?
-
Tudo certo, vamos levando a vida.
Para
fazer a conversa fluir e ser cordial, o morador emendou:
-
Boa essa sua motoca, hem?
-
Sim, ela é ótima... e já tá quitada. Num devo um centavo.
-
Que bom! – fez questão de frisar o seu José. – O senhor anda muito nessa Vespa
pela cidade?
-
Ando muito! – E acrescentou vaidoso: – Vou até no Piauí! Já fui várias vezes.
-
Nossa... Olha que o Piauí é bem longe.
-
Né, não; é perto! Vou com facilidade.
-
Sei não, seu Raimundo Nonato, mas o Piauí é bem longe...
-
Né não, é perto, eu garanto.
-
É longe.
-
É perto.
-
É longe, tô dizendo!
-
É perto, já falei!
Iracema
e o Júnior vieram correndo de dentro da casa e gritaram ao mesmo tempo, em uníssono:
-
Num é longe nem é perto! É a distância que tá no mapa! A distância que Deus
impôs. Os dois estão certos e ninguém está errado!
Acalmaram.
bom demaia|||||
ResponderExcluirQue bom que gostou! Abraço.
ExcluirJosé de Ribamar não é o Sarney não é?!
ResponderExcluirHehehe... José de Ribamar pode ser qualquer maranhense, né?
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