Uma das mais belas e concorridas encenações da Paixão de Cristo na região Centro-Oeste ocorre, nesta sexta-feira (7/4), na cidade de São Sebastião (DF), a 22 quilômetros do Plano Piloto. Um grupo de fiéis da Comunidade Católica da então chamada Agrovila de São Sebastião, há 31 anos, decidiu narrar em forma de jogral a Via Crucis de Jesus Cristo, saindo da comunidade São Geraldo em direção à Paróquia Nossa Senhora Aparecida.
O evento ganhou repercussão junto à comunidade e, em
2004, os fiéis desta Paróquia se uniram aos da Santo Afonso. Por meio do Caminhando
com Jesus na Via Sacra, evoluiu para o formato de encenação teatral. Ganhava
força, a partir daí, o que se tornou um dos eventos culturais e religiosos mais
tradicionais do Distrito Federal.
Realizado no Morro Bela Vista, em frente ao Parque
de Exposição Agropecuário, a Encenação da Paixão de Cristo ao Vivo reunirá,
nesta sexta, mais de 80 atores em uma apresentação emocionante aberta ao
público. Para o evento financiado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do
Distrito Federal e pela comunidade de São Sebastião, são esperadas cerca de 10
mil pessoas.
Gildivan Rodrigues, diretor cênico da
Encenação da Paixão de Cristo ao Vivo, de São Sebastião, e presidente do Instituto
Chinelo de Couro, mantenedor do evento desde 2012, lembra que “foi um crescimento
gradual, envolvendo cada vez mais gente e movimentando a cidade a partir da
geração de empregos com a criação dos cenários, confecção de figurinos e uma
série de outros serviços necessários para realizar o evento”.
Segundo ele, existe e tem relevância também a parte
sentimental, “da fé das pessoas e do espírito de fraternidade, sempre muito
aflorados nessa época”. Ele ressalta que são muitos ensaios, com a maioria dos
atores e figurantes moradores de São Sebastião. “Então, acaba que se torna um
congraçamento entre os fiéis, atores, cidadãos, enfim, a comunidade”,
acrescenta.
O espetáculo a céu aberto traz a comovente história
da morte de Jesus Cristo em cenário especial. Construída pelas mãos de
talentosos artesãos e artistas, a cenografia está instalada em meio a vegetação.
Na parte da iluminação, a encenação, que começa às 18 horas, recebe um show de
cores proporcionado pelo pôr-do-sol do Cerrado. “Esse espetáculo da
natureza, combinado com a história contada, não há dinheiro que pague. É uma
daquelas imagens que você guarda no coração”, conta Viviane Xavier,
coordenadora da Via Sacra de São Sebastião.
A carga dramática é intensa e permeia toda a
apresentação. Nos ensaios, não se trabalha apenas a atuação. O controle
emocional e a concentração são fundamentais para não ser levado pela comoção do
público que reage a todo o momento, acompanhando o flagelo do Cristo. “São
quatro meses de preparação física, psicológica e, principalmente, espiritual.
Antes do espetáculo eu fico nervoso. Mas no final, podendo ver tantas pessoas
emocionadas e receber o carinho daquela multidão, o sentimento é de realização
e gratidão pela oportunidade”, compartilha o ator Vitor Caetano, o
intérprete de Jesus Cristo, na produção.
No calendário oficial do Distrito Federal desde
2008, o evento ressalta a cultura como direito à cidadania e instrumento de
integração social. Ao se promover e valorizar as manifestações culturais, laços
comunitários e vínculos familiares e sociais são fortalecidos. A tradição é
importante na vida do aposentado Manoel Augusto, pioneiro da Via Sacra: “Eu me
lembro da 1ª edição. Quanta coisa se passou de lá para cá. Era somente uma
caminhada. Hoje, aos 77 anos, vejo o surgimento de novos talentos, meus
familiares envolvidos neste espetáculo de evangelização através do teatro. É
muita felicidade. Agradeço a Deus”.
A “Encenação da Paixão de Cristo de São Sebastião”
não se limita aos ensaios e à apresentação. A geração de emprego é fator
importante na região administrativa com um dos menores Índices de
Desenvolvimento Social do Distrito Federal, ao mesmo tempo em que se destaca
como um celeiro em potencial de artistas. Ao todo, 150 pessoas, entre atores,
artesãos, carpinteiros, costureiras, eletricistas, maquiadores, fotógrafos,
cinegrafistas e tantos outros colaboradores de áreas diversas, atuam,
diretamente, na produção. É o caso, por exemplo, da cozinheira Eliene Souza,
que aproveita para reforçar o orçamento com venda de lanches para os atores e
equipe técnica. Cozinheira oficial do evento, ela faz o tradicional almoço de
Sexta-Feira Santa. “Mas o que mais me emociona é preparar os pratos da
encenação da Santa Ceia, e que não têm nada de cenográficos. É tudo de verdade
e feito com o maior amor do mundo”, assegura dona Eliene.
Há, ainda, a realização de oficinas oferecidas à comunidade. Com o apoio de um profissional de Serviço Social, as dinâmicas trabalham a linguagem teatral, criatividade, estímulo à leitura e outras aprendizagens. Como consequência, além de conhecimento e descoberta de talentos promissores, ganha-se em integração, mobilização, noção de cidadania e ética social. A cada ano, as oficinas relacionadas à Via Sacra recebem cerca de 40 jovens que são preparados para atuar na Encenação.
Serviço: Encenação da
Paixão de Cristo ao Vivo
Local: Morro da
Bela Vista, em frente ao Parque de Exposição Agropecuário- São Sebastião
Horário: das 18h às
21h
Entrada: gratuita
Indicação: livre
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