Geraldo
Pedrosa de Araújo Dias, compositor, cantor, poeta, advogado, conhecido por
Geraldo Vandré, faz, hoje (12/9), 88 anos de idade. Uma figura polêmica, cercada de disse-que-me-disse, Vandré – que herdou esse sobrenome do pai José Vandregíselo
– é antes e acima de tudo uma fonte inesgotável de inspiração musical para a
nossa geração.
Geraldo
começou sua carreira musical abraçado ao lirismo de Carlos Lyra, com quem compôs
“Quem quiser encontrar o amor” e “Aruanda”, também na sua formação religiosa, apoiada no
amor e na solidariedade, em canções como “Fica mal com Deus quem não sabe amar” e “Menino da
Laranja”, que estão no primeiro disco de 1964, ao lado da clássica “Berimbau”.
Esse
é Geraldo Vandré de corpo e alma. Mais ligado às coisas espirituais do que às materiais.
É esse artista que vai compor, cantar e enlouquecer o público, em 1966, no
Festival da Canção, com a belíssima “Disparada”, composta com Theo de Barros,
um hino aos sonhos e um louvor à insubmissão, em versos como “posso não lhe
agradar/ aprendi a dizer não/ ver a morte sem chorar”, ou em “os sonhos que fui
sonhando/ as visões se clareando/ até que um dia acordei”.
A
trajetória artística de Vandré, em tempos de festivais, repressão política e
cultural, vai desaguar em “Pra não dizer que não falei de flores” (“Caminhando”),
em 1968. Uma canção que é abraçada pelos movimentos estudantis na luta contra a
ditadura militar e vira um hino de protesto. Aqui também Geraldo está ligado às
suas raízes, ao ideal de solidariedade e à posição sempre firme e forte contra
a submissão: “Vem vamos embora/ que esperar não é saber/ quem sabe faz a hora/
não espera acontecer”.
São
dois momentos distintos dos apaixonantes e apaixonados festivais da canção. Em 1966,
a Banda foi escolhida em primeiro lugar, mas Chico Buarque não aceitou o
prêmio, alegando que a canção Disparada era melhor que a sua. Num decisão
política, dividiram o prêmio entre os dois compositores. Em 1968, Caminhando
ficou em segundo lugar, perdendo a primeira colocação para Sabiá, de Chico
Buarque e Tom Jobim. Mesmo sendo infinitamente superior do ponto de vista
musical, Sabiá foi vaiada pelo público que cantou “Pra não dizer que não falei
das flores” a todos os pulmões, naquele momento, naquele local, nas ruas e
praças, por anos e décadas.
O
último capítulo da carreira musical de Vandré é a canção “Das Terras de Benvirá”.
Uma obra sobremaneira poética, que explora temas como saudade, amor e
esperança. É como se Geraldo, depois de um longo e tenebroso inverno, desse um
mergulho vertical, profundo e certeiro em busca de suas raízes. Antes de
abandonar por completo o mundo da música, tinha que voltar às suas origens, mostrá-las
ao mundo e dizer em alto e bom som: este sou eu, o resto são meros efeitos
colaterais.
Geraldo
Pedrosa de Araújo Dias, o nosso querido e admirado Geraldo Vandré, faz 88 anos.
Nós temos muito o que comemorar por ter tido esse talento como inspiração para o
nosso universo musical.
Vandré
é poeta, um ótimo músico e um eterno cantador. Obrigado, de coração.
Parabéns Vander. Temos muito que comemorar a Existência de Geraldo em nossa Geração.
ResponderExcluirMuito a comemorar, sim, concordo. E obrigado pela participação aqui no blog.
ExcluirFalou exatamente o que é, caro amigo. Me intrigava essa diferenciação sobre os estilos dele, mas eu não observava os períodos.
ResponderExcluirAdelson
Valeu, amigo. Obrigado pela participação.
ExcluirDo amigo, poeta, escritor e jornalista Luís Turiba, recebi, pelo WhatsApp, um interessante comentário sobre este post: "Muito bom, Zé Carlos. Vandré está na memória da minha geração. Eu sou daqueles que fui ao Maracanã cantar e torcer por "Pra não dizer que não falei de flores', ao mesmo tempo que vaiávamos a lírica "Vou voltar", de Tom e Chico Buarque.
ResponderExcluirUma faixa que levantamos na arquibancada dizia: "Em terra de carcará, sabiá não canta'
Na realidade o título da canção era "Sabiá".
Parabéns!