No ano de 2006, Batista sofreu um
baque daqueles impossíveis de serem superados. Perdeu um filho de maneira
inesperada e repentina. Graças ao extraordinário valor espiritual que possui,
vem, ao lado de sua Marília, enfrentado a dura realidade e procurando levar a
vida de acordo com os desígnios de Deus.
No ano de 2007, durante as
comemorações dos 50 anos de seu casamento, meu padrinho revelou mais uma
qualidade na sua formação: a de poeta. Escreveu um poema relatando todo o drama
que estava vivendo e, com voz embargada, leu o texto para todos os que foram prestigiar
as Bodas de Ouro.
Como esse cantinho é jornalísticos,
artístico e cultural - por todos esses e outros motivos -, reproduzo abaixo o
poema de João Batista Coelho Barroso, o nosso querido e amado Batista Barroso,
desejando a ele saúde, paz e que continue a nos iluminar com a sua presença e
sensibilidade por muitos e muitos anos.
Quem sabe esse poema também ajude a
consolar os pais e mães que perderam seus filhos na triste tragédia de Santa
Maria, ocorrida na madrugada do último dia 27. Só quem passa por um drama
desses pode retratá-lo em toda a sua dimensão. Com a palavra meu tio, padrinho
e poeta Batista Barroso. Logo a seguir, Chico Buarque de Holanda com a sua extraordinária Angélica, acompanhado do violão de Miltinho do MPB-4.
O ser e o nada
Batista Barroso – 08/03/2007
Eu sou,
A brisa que beija e balança a copa
florida e perfumada das árvores.
Eu sou,
O murmúrio das águas cristalinas que
desce em cascatas nas cachoeiras cantando uma canção de ninar.
Eu sou,
O canto sonoro do sabiá apaixonado
que desperta a natureza com sua sonata saudosa do alvorecer.
Eu sou,
O sorriso meigo da criança que ainda
tem esperança de um dia chegar ao esplendor de seu sonho.
Eu sou,
O irmão pedinte que vaga maltrapilho
implorando caridade.
Eu sou,
O amor que consola a criança que
chora.
Eu sou,
O bem maior que dá equilíbrio ao
universo.
Eu sou,
O asteroide desgarrado do planeta
mãe, vagando na imensidão do cosmo em busca de luz.
Eu sou,
O sonho do sono que não desperta.
Eu sou,
A porta sempre aberta esperando você
chegar...
E agora...
Que faço do meu coração
Que está partido em pedaços
Desde que você se foi?
E agora?
Estás em tudo
E não te encontro em nada!
E agora?
Angélica
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar
meu filho
Que mora na escuridão do mar
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento?
Que canta sempre esse lamento?
Só queria lembrar o
tormento
Que fez o meu filho suspirar
Que fez o meu filho suspirar
Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo?
Que canta sempre o mesmo arranjo?
Só queria agasalhar
meu anjo
E deixar seu corpo descansar
E deixar seu corpo descansar
Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino?
Que canta como dobra um sino?
Queria cantar por
meu menino
Que ele já não pode mais cantar
Que ele já não pode mais cantar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar
meu filho
Que mora na escuridão do mar
Que mora na escuridão do mar
Que dizer da dor de um pai, do seu peito cravado de dor, ante a perda súbita do filho? As palavras soam inúteis...Nem o silêncio exprime a profundidade do pesar....Nossa solidariedade ao pai e admiração por essa pessoa humana, seu tio, e seu poema..Muita bela e oportuna essa canção do Chico, sobre uma mãe que anda, quase em delírio, à procura do filho desaparecido....
ResponderExcluirEstivemos com o Batista agora no início de janeiro, minha irmã Cida e eu. Não conseguimos falar com dona Marilia. Conversamos um pouquinho com ele. Saudades do tempo em que morávamos lá.
ResponderExcluirSó mesmo a poesia para conseguir dizer o indizível...
ResponderExcluirTio Batista é tudo de bom que um ser humano pode ofertar, nessa nossa rápida vida ele já veio especial, ele é quase tudo. Em sua poesia ele é a natureza que relata. Um ser encantado. "Só mesmo a poesia para dizer o indizível..." bela frase.
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