Lá pelos idos da década de
1970, o jornalista e amigo Cláudio Cunha, com quem trabalhei muitos anos na
redação do Jornal de Brasília, morava numa República em Porto Alegre, cercado
de estudantes de Medicina por todos os lados. Sua então namorada Tânia chegou
certo dia para visitá-lo. Perguntou à senhora que fazia faxina:
- O Cláudio está aí, minha
senhora?
- Cláudio...? Num sei não....
Os doutor saiu tudo! Só tem o repórtir!
Tânia não se fez de rogada:
- Tem problema, não... Eu tô querendo é o repórtir, mesmo!
Lembrei-me dessa história
por ser hoje o Dia do Repórter, o jornalista da linha de frente, geralmente mal
compreendido e pouco valorizado. Sair da condição de repórtir e chegar à de repórter não é fácil, não. Tem que percorrer
uma estrada longa e espinhosa. Trajetória seguida por tantos jornalistas que
são referência para todos nós.
Quantos tombaram pelo
caminho, a exemplo de Tim Lopes. Poucos alcançam a consagração, e pouquíssimos
a tão sonhada estabilidade financeira.
No ano de 1985 (ou terá sido 1986?) quando era
subeditor de Política e Nacional do Jornal
de Brasília, foi apresentada na reunião de pauta uma foto de Carlos
Menandro. Ele tinha feito o registro de um circo armado na Esplanada dos
Ministérios. Ao fundo, coberta pelo circo, a abóbada do Senado Federal, no
mesmo contorno. Quando estávamos saindo, após o fechamento das páginas de
Política e Nacional, o grande e saudoso Gualter Loyola, gritou lá da primeira
página:
- Zezão (era o meu apelido
na redação), tem uma foto do circo em frente ao Congresso na Primeira, cadê o
texto?
Expliquei que não tinha
matéria sobre o assunto nas páginas internas. Deveria ser feito um texto-legenda
apenas para a primeira página. Mas, insatisfeito, pediu que alguém produzisse o
texto. Sobrou para o editor de Política, Luiz Turíbio, o Turiba. Voltou pra
fazer a legenda. Fui me embora.
No dia seguinte, a
repercussão foi assustadora, com dezenas de parlamentares se revezando na
Tribuna da Câmara dos Deputados, então presidida por Ulysses Guimarães. Nos
discursos, inflamados, os parlamentares protestavam contra a canalhice que os
comparava a palhaços de circo. Detalhe: a Câmara, há vários dias, não
conseguia quórum para votação de projetos; no dia da publicação da foto, o
Plenário esteva lotado. O repórter fotográfico e o jornal foram atacados furiosamente.
Carlos Menandro ganhou o prêmio Esso de Fotojornalismo.
Faltou ao jornal ousadia para
dar a seguinte manchete ao noticiário da repercussão:
...E
o Congresso pegou fogo!
Por todas essas e outras histórias,
ficam minhas homenagens aos repórteres, que são a alma do jornalismo. Eu, que
sempre me escondi por trás das edições, sou um grande admirador dessa turma.
Salve o Dia do Repórter!
Isso aí, repórtir!
ResponderExcluirQue interessante... A viajem no tempo que você faz deixando o texto bem íntimo ao leitor... Sem contar a política que é uma das grandes fontes do jornalismo.
ResponderExcluirValeu, Rodrigo. Obrigado pela participação.
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