Tenho Brasília como minha
cidade há 44 anos. Cheguei por aqui em janeiro de 1973. Agora, a cidade chega
aos 57 anos de fundação. Aquela que escolhi para estudar, trabalhar, morar,
constituir família e viver em paz com os amigos. Brasília tem a capacidade de
se internalizar na nossa alma e na forma de pensar e de agir de cada um de nós.
Uma cidade que nos ajuda a projetar o futuro de forma ampla, traçado a partir
de novos horizontes, com um visual moderno e um pensamento inclusivo. Talvez
devamos isso ao seu desenho urbanístico e a sua ousadia arquitetônica, mas
também ao que ela se propôs desde sua criação.
Quando aqui cheguei,
Brasília era uma garota, uma adolescente de quase 13 anos. Cheia de vitalidade,
sonhos e esperanças. Os problemas maiores que cercam uma cidade grande ainda
não se apresentavam de forma ostensiva, mas já davam os seus primeiros sinais,
nas quadras, superquadras, eixos, vias e rodovias que desembocavam, cada vez
mais, em novas cidades.
Vejo Brasília em
três vértices. Tento expressá-los nos poemas que se seguem. E deixo aqui, mais
uma vez, meus parabéns a essa cidade tão querida e inspiradora. Cidade do
futuro, mas que traz em sua bagagem um passado enriquecido pelos sonhos e
esperanças de seus filhos-criadores, com um presente pujante e amplo de
possibilidades.
Horizonte em tela
Final de tarde em Brasília
Traz uma beleza infinita,
Que se perde no horizonte
E se encontra nos corações.
Da Catedral ao Cruzeiro,
Em pleno inverno seco,
As luzes se dissipam...
Convergem-se ao passar
Pelo memorial de JK,
Como prisma de nuvens.
E as imagens da Esplanada
Seguem pela torre, engalanadas,
Como se o centro do Universo
Fosse aqui, nas convenções
Criadas pelo traço do artista
Eterno, o Deus da natureza.
A cruz primeira do Cruzeiro
É o gesto final, derradeiro,
Para que o cavalete divino
Estique a tela do Senhor.
Faz-se a pintura maior,
Tingem-se as cores no céu
E o poeta crê que isso é amor...
A lua dá os matizes finais,
As estrelas salpicam no pano,
E a cidade dorme
suavemente...
Superquadras
Quadras quadradas,
Retângulos obtusos,
Saídas em círculos
De retas infinitas...
Triângulo (in) vértice,
Curvas imaginárias,
Onde paralelas finitas
Enfim se encontram
Entre duas asas.
Povo e povoado
Distantes do amanhã.
Casa e casebre...
Longe, perto, edifício...
Um mato que mata
Um sonho, pesadelo.
Árvore arvoredo...
De buscar bem cedo
Antes que o retorno
Sombrio da noite
Tire o Eixo dos eixos.
Brasília em brasa.
Círculo do circo
Que teima em circular.
Brasília de traços
Vistos do horizonte...
Hoje ainda de manhã,
Belas tardes de ontem.
Acorda Brasília!
Brasília, Brasília
Não és mais uma ilha,
Cercada de fantasias...
És senhora, adulta,
Cortada por viadutos
E vias congestionadas.
Por cidades-satélites,
De luzes reticentes
Que não brilham como a tua...
Por ruas que não se cruzam
No esplendor da simetria,
Na grandeza de monumentos
Que ostentas em curvas,
Entre retas infinitas...
Avião de asas cortadas,
Piloto sem plano de voo,
Perdido no quadrilátero
Incrustado no coração
De um Brasil Central,
Pleno de indiferenças...
Brasília, Brasília...
Não mais sorris aos filhos
Adotados e aos que são teus,
Que te ergueram e foram
Erguidos aos céus,
No sonho de dom Bosco,
Entre suor e lágrimas candangas.
Acorda antes que o sonho
Desperte
o medo,
No
século do pesadelo.
Acorda
Brasília!
Ouça
a voz que ecoa
No
Planalto Central:
Ainda
és sonho,
Esperança de vida!
Espero poder estar aqui quando o sonho for a realidade do céu infinito.
ResponderExcluirTambém, Tuim. Tenho esse sonho.
ExcluirExcelente. Bacana demais, José Carlos!
ResponderExcluirValeu, Jota, obrigado pela sua participação. Abraço.
ExcluirExcelentes traços do poeta. Linda homenagem para a Capital da Esperança. Parabéns!
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