Há cinquenta anos, em Belo Horizonte, na pensão
da Avenida Olegário Maciel, em frente ao colégio Anchieta – que depois virou
estacionamento pago –, tive um dos maiores contentamentos da minha trajetória de
apreciador de música. Foi quando ouvi, pela primeira vez, Construção, de Chico
Buarque de Holanda.
Uma viagem indescritível pela belezas de versos alexandrinos, ricamente terminados em proparoxítonas. Melodia
encantadoramente embelezada pelos arranjos de Rogério Duprat. Direção e produção
de Roberto Menescal, que ficou responsável por viabilizar o Long Play que
marcaria a volta de Chico ao Brasil, depois de longo e tenebroso inverno no autoexílio,
escapando dos anos de chumbo da ditadura militar.
Ouvi aquela coisa monumental. Emocionei-me. Comecei a passar a letra para o papel todas as vezes que tocava no radinho de pilha, único meio de ouvir música naquele tempo de estudante, na bela e acolhedora BH.
O disco Construção é todo maravilhoso. Parcerias
de Chico com o maestro Tom Jobim e Vinícius de Moraes . Com arranjos também do
saudoso Magro, um dos fundadores do grupo vocal MPB4 e que nos deixou,
prematuramente, em 2012.
A fantástica Valsinha
era para se chamar Valsa Hippie. Chico, fez alterações na letra e sugeriu a
mudança no nome. Vininha concordou. O movimento hippie já estava em fase de
decadência. Outras mudanças ocorreram em
músicas e versos por imposição da censura, que vetou Deus lhe Pague por ter
sido considerada um “recado” de duplo sentido, que “tanto podia ser dirigido
para alguém ou algo abstrato”, posteriormente, liberada.
Em uma entrevista a Geraldo Leite, em 1989, Chico explicou as condições para a elaboração da obra.
"Construção teve uma criação
que esteve condicionada ao país em que eu vivi. Existe alguma coisa de abafado,
pode ser chamado de protesto, e eu nem acho que eu faça música de
protesto....mas existem músicas que se referem imediatamente à realidade que eu
estava vivendo, à realidade política do país. Até o disco da samambaia (Chico
Buarque, 1978), que já é o disco que respira, o disco onde as músicas
censuradas aparecem de novo. Enfim, a luta contra a censura, pela liberdade de
expressão, está muito presente nesses cinco discos dos anos 70."
Construção é uma página importante da nossa história musical, principalmente daqueles jovens do final dos anos 1960 e do início de 1970. Um momento efervescente e rico da nossa cultura. Neste 50 anos do LP, temos que parar e ouvir Chico Buarque de Holanda e sua Construção. Que Deus lhe pague!
Adoooro!!!
ResponderExcluir