domingo, 21 de março de 2021

50 anos de uma Construção que marcou a música brasileira

 

Há cinquenta anos, em Belo Horizonte, na pensão da Avenida Olegário Maciel, em frente ao colégio Anchieta – que depois virou estacionamento pago –, tive um dos maiores contentamentos da minha trajetória de apreciador de música. Foi quando ouvi, pela primeira vez, Construção, de Chico Buarque de Holanda.

Uma viagem indescritível pela belezas de versos alexandrinos, ricamente terminados em proparoxítonas. Melodia encantadoramente embelezada pelos arranjos de Rogério Duprat. Direção e produção de Roberto Menescal, que ficou responsável por viabilizar o Long Play que marcaria a volta de Chico ao Brasil, depois de longo e tenebroso inverno no autoexílio, escapando dos anos de chumbo da ditadura militar.


Ouvi aquela coisa monumental. Emocionei-me. Comecei a passar a letra para o papel todas as vezes que tocava no radinho de pilha, único meio de ouvir música naquele tempo de estudante, na bela e acolhedora BH.

O disco Construção é todo maravilhoso. Parcerias de Chico com o maestro Tom Jobim e Vinícius de Moraes . Com arranjos também do saudoso Magro, um dos fundadores do grupo vocal MPB4 e que nos deixou, prematuramente, em 2012.

A fantástica Valsinha era para se chamar Valsa Hippie. Chico, fez alterações na letra e sugeriu a mudança no nome. Vininha concordou. O movimento hippie já estava em fase de decadência.  Outras mudanças ocorreram em músicas e versos por imposição da censura, que vetou Deus lhe Pague por ter sido considerada um “recado” de duplo sentido, que “tanto podia ser dirigido para alguém ou algo abstrato”, posteriormente, liberada.


Em uma entrevista a Geraldo Leite, em 1989, Chico explicou as condições para a elaboração da obra.

"Construção teve uma criação que esteve condicionada ao país em que eu vivi. Existe alguma coisa de abafado, pode ser chamado de protesto, e eu nem acho que eu faça música de protesto....mas existem músicas que se referem imediatamente à realidade que eu estava vivendo, à realidade política do país. Até o disco da samambaia (Chico Buarque, 1978), que já é o disco que respira, o disco onde as músicas censuradas aparecem de novo. Enfim, a luta contra a censura, pela liberdade de expressão, está muito presente nesses cinco discos dos anos 70."

Construção é uma página importante da nossa história musical, principalmente daqueles jovens do final dos anos 1960 e do início de 1970. Um momento efervescente e rico da nossa cultura. Neste 50 anos do LP, temos que parar e ouvir Chico Buarque de Holanda e sua Construção. Que Deus lhe pague!


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