“Sonhei
que eu era um dia um trovador, dos velhos tempos que não voltam mais...”. Assim
diz a bela canção da imortal dupla Adelino Moreira e Evaldo Gouveia. Nos remete
a tempos antigos, em que poetas, seresteiros, saíam as ruas cantarolando versos
de amor a suas musas e deusas.
A
origem do termo trovador também é antiga. Vem da Provença, região do sudeste da
França. Lá o troubadour saía as ruas com seu alaúde ou a cistre,
compunha e entoava cantigas, acompanhado dos jograis e menestréis.
Os trovadores eram satíricos, além do lirismo, claro. O que nunca faltou na história da humanidade foi material para enriquecer a crítica, o escárnio e o maldizer. Nos tempos atuais, então...
O
trovadorismo caminhou em outras direções, também, além da poética. Uma delas, a
novela de cavalaria, relatava grande feitos de heróis e cavaleiros que
enfrentavam batalhas e monstros. Textos teatrais, compostos de mistérios, milagres,
moralidades e até de conteúdos satíricos e profanos, como os autos e os sotties.
Estes traziam um personagem bobo, que fazia o papel cômico.
Aqui,
no interior de Goiás, também saíamos às ruas entoando canções para as
namoradas, amigas, amadas e, louvem-se, amantes. Éramos os seresteiros, versão
mais modernas dos trovadores, acompanhados por violão, bandolim, flauta e
eventualmente um belo violino.
Nesse tempo de pandemia, isolamento social, quem sabe uma boa pedida seria resgatar os trovadores. Vão sair ao ar livre, na madrugada, sem aglomerações. O trovador poderá até tirar a máscara pra cantar. E não faltará tema para os satíricos. Têm muito o que maldizer e o que esculhambar em país dominado e governado pela estultice, burrice, irresponsabilidade e incompetência.
Trazer
de volta Altemar Dutra, Nelson Gonçalves, Adelino Moreira, Evaldo Gouveia e
Jair Amorim. Também Noel Rosa, cronista talentoso, um seresteiro nato, dono de
uma ironia fina um humor que atravessa os tempos.
Trovador
José Carlos Camapum Barroso
Trovador, sim, faz poesia
Pra exaltar o amor.
Transforma noite em dia,
Põe riso no lugar da dor...
Retira do fundo da alma
Tristeza que ainda restou,
Paixão que não acalma,
Nem alivia o sofredor.
Sai pelas ruas a enaltecer
Paixão que não lhe é dada,
Amor que não ousa ter,
Dor que traz emprestada.
Abre a voz na madrugada
E declama apaixonado,
Numa noite enluarada,
Sonhos nunca sonhados.
Dedilha, violão em riste,
Acordes em tom menor...
Menestrel de voz triste,
De dor que traz de cor.
Antes do dia amanhecer,
Fica firme a cantar,
Pois sabe que o anoitecer
Chega antes do sol raiar.
Trovador é um poeta
Que na rua não há mais...
Virou apenas profeta,
Amante de redes sociais.
Pobres casais de agora
De alma triste a soluçar.
Coração apenas chora
Sem trovador a trovar.
A vida segue vazia...
Em noite fria, sem luar,
Pois poeta é quem dizia
A supremacia do verbo amar.
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