O
povo nordestino é migrante por sua natureza, por imposições da natureza e pela
natureza perversa da nossa colonização, que gerou governantes despreparados e
descompromissados com aquela brava gente. Um movimento secular que tem relevância
na história migratória do Brasil, desde a época do Império, e que teve
como destino mais acentuadamente a região centro-sul do país.
Foi
assim que meus ascendentes do Piauí e do Ceará buscaram a região de Goiás e
desaguaram na acolhedora Uruaçu (pássaro grande, em tupi-guarani), lá pelos anos
de 1930. Quem veio primeiro foi o meu avô paterno Antônio Pereira Camapum, com
Ana de Alencar Camapum e filhos, oriundos do interior cearense, mais
precisamente da região de Santana do Cariri.
Depois,
na segunda metade da década de 1930, veio o meu avô materno Edgar Barroso de
Souza, no primeiro momento sozinho. Era viúvo. Depois, vieram os filhos homens;
e num terceiro momento as filhas Iracema (minha mãe) e Enoy Coelho Barroso.
Foram
recebidos de braços abertos pelos fundadores da antiga Santana do Machombombo,
a família Fernandes Carvalho. Assim como foram bem recebidos os migrantes de
outros estados, como Minas Gerais e Bahia, principalmente.
Essa
junção de migrantes nordestinos e do sudeste brasileiro com o povo daquela região
incrustada no coração de Goiás – no centro do Brasil, do mundo e quiçá do
Universo – produziu uma cultura rica, em uma cidade que se tornaria cada vez
mais acolhedora, sempre aberta a novos povos, novas gentes, novos saberes,
dizeres e aprenderes.
Minha
formação enquadra-se aí, influenciada pela veia poética e de escritor do meu
tio Adail Coelho, a musicalidade dos Barroso, o espírito de luta dos Camapum e
a riqueza cultural ampla e irrestrita dos fundadores daquela cidade mágica,
agradável e acolhedora.
À
cidade de Uruaçu, seu povo, sua gente, minha família e os inúmeros amigos, devo
muito da minha formação. Minha gratidão é eterna. Estarei sempre tentando
retribuir, pelo menos em parte. Uma dessas tentativas é o poema abaixo, um
agradecimento estendido a todos os migrantes que por lá aportaram e aos que ainda
continuam aportando.
Beijos
no coração meu povo uruaçuense.
Despertar
José Carlos Camapum
Barroso
Pássaro
grande, asas abertas,
Traz
em um colo gigante
Povo
de terras incertas,
Gente
de locais distantes
Belo
planalto central...
Uruaçu
nele desperta
Uma
cultura celestial,
Arte
viva, sempre alerta.
Para
essa amada gente,
Povo
migrante da dor,
És
o futuro promissor
De
uma alegria distante...
És
esperança constante
Tinha apenas 18 anos e acabara de chegar a Brasília, vindo do Crato, Cariri cearense, em dezembro de 1968. Uma tropa de dez pessoas, que, no primeiro ano, se amontoava em um apartamento de dois quartos. Corriam os anos de 1969/70, quando meu pai, advogado do Banco do Brasil, convocou-me para ser seu motorista numa viagem, cujo
ResponderExcluirroteiro inclua, entre outras cidades, Uruaçu. Local de gente simples e acolhedora, onde todos se conheciam. Foi nessa ocasião que conheci a família Camapum. Como havia um funcionário do BB, casado com uma moça da família, fomos convidados para nos hospedarmos na residência do seu sogro. Foi naquela ocasião, que tive a alegria de conhecer Zé Carlos (Zezão) e todos os seus primos, pais e tios. Voltei mais uma vez àquela simpática cidade e a alegria foi imensa ao rever e conviver com todos eles. E Uruaçú nunca mais saiu de minha memória... segue guardada, para sempre, no lado esquerdo do peito. Parabéns, Zezão pela iniciativa! Forte e fraterno abraço.
Muito importante e interessante a sua narrativa. Sua história se cruzou com a nossa, uruaçuenses, que tivemos o privilégio de uma convivência saudável e profícua. Foi muito bom ter te conhecido. Depois, fomos colegas no Banco do Brasil. Grande abraço e obrigado pela participação aqui no blog.
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