sábado, 8 de maio de 2021

Uruaçu é porto seguro para os migrantes nordestinos

 

O povo nordestino é migrante por sua natureza, por imposições da natureza e pela natureza perversa da nossa colonização, que gerou governantes despreparados e descompromissados com aquela brava gente. Um movimento secular que tem relevância na história migratória do Brasil, desde a época do Império, e que teve como destino mais acentuadamente a região centro-sul do país.

Foi assim que meus ascendentes do Piauí e do Ceará buscaram a região de Goiás e desaguaram na acolhedora Uruaçu (pássaro grande, em tupi-guarani), lá pelos anos de 1930. Quem veio primeiro foi o meu avô paterno Antônio Pereira Camapum, com Ana de Alencar Camapum e filhos, oriundos do interior cearense, mais precisamente da região de Santana do Cariri.

Depois, na segunda metade da década de 1930, veio o meu avô materno Edgar Barroso de Souza, no primeiro momento sozinho. Era viúvo. Depois, vieram os filhos homens; e num terceiro momento as filhas Iracema (minha mãe) e Enoy Coelho Barroso.

Foram recebidos de braços abertos pelos fundadores da antiga Santana do Machombombo, a família Fernandes Carvalho. Assim como foram bem recebidos os migrantes de outros estados, como Minas Gerais e Bahia, principalmente.

Essa junção de migrantes nordestinos e do sudeste brasileiro com o povo daquela região incrustada no coração de Goiás – no centro do Brasil, do mundo e quiçá do Universo – produziu uma cultura rica, em uma cidade que se tornaria cada vez mais acolhedora, sempre aberta a novos povos, novas gentes, novos saberes, dizeres e aprenderes.

Minha formação enquadra-se aí, influenciada pela veia poética e de escritor do meu tio Adail Coelho, a musicalidade dos Barroso, o espírito de luta dos Camapum e a riqueza cultural ampla e irrestrita dos fundadores daquela cidade mágica, agradável e acolhedora.

À cidade de Uruaçu, seu povo, sua gente, minha família e os inúmeros amigos, devo muito da minha formação. Minha gratidão é eterna. Estarei sempre tentando retribuir, pelo menos em parte. Uma dessas tentativas é o poema abaixo, um agradecimento estendido a todos os migrantes que por lá aportaram e aos que ainda continuam aportando.

Beijos no coração meu povo uruaçuense.

Despertar

José Carlos Camapum Barroso

 

Pássaro grande, asas abertas,

Traz em um colo gigante

Povo de terras incertas,

Gente de locais distantes

 

Belo planalto central...

Uruaçu nele desperta

Uma  cultura celestial,

Arte viva, sempre alerta.

 

Para essa amada gente,

Povo migrante da dor,

És o futuro promissor

 

De uma alegria distante...

És esperança constante

De quem busca o amor.

2 comentários:

  1. Tinha apenas 18 anos e acabara de chegar a Brasília, vindo do Crato, Cariri cearense, em dezembro de 1968. Uma tropa de dez pessoas, que, no primeiro ano, se amontoava em um apartamento de dois quartos. Corriam os anos de 1969/70, quando meu pai, advogado do Banco do Brasil, convocou-me para ser seu motorista numa viagem, cujo
    roteiro inclua, entre outras cidades, Uruaçu. Local de gente simples e acolhedora, onde todos se conheciam. Foi nessa ocasião que conheci a família Camapum. Como havia um funcionário do BB, casado com uma moça da família, fomos convidados para nos hospedarmos na residência do seu sogro. Foi naquela ocasião, que tive a alegria de conhecer Zé Carlos (Zezão) e todos os seus primos, pais e tios. Voltei mais uma vez àquela simpática cidade e a alegria foi imensa ao rever e conviver com todos eles. E Uruaçú nunca mais saiu de minha memória... segue guardada, para sempre, no lado esquerdo do peito. Parabéns, Zezão pela iniciativa! Forte e fraterno abraço.

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    1. Muito importante e interessante a sua narrativa. Sua história se cruzou com a nossa, uruaçuenses, que tivemos o privilégio de uma convivência saudável e profícua. Foi muito bom ter te conhecido. Depois, fomos colegas no Banco do Brasil. Grande abraço e obrigado pela participação aqui no blog.

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