O tempo tem sido, ao longo da história da humanidade, um grande desafio e ao mesmo tempo uma fonte inesgotável de prazer do ponto de vista do conhecimento, cultural, poético e filosófico, principalmente. Vários filósofos mergulharam de cabeça e mente no tema, convencidos da sua grandeza e complexidade. Um enigma a ser decifrado desde a antiguidade até os dias atuais.
Santo Agostinho nos dá o tom exato dessa complexidade. Dizia: “O que é, portanto, o tempo? Se ninguém me pergunta, seu sei; se quero explicá-lo a quem me pergunta, não sei”. Para Imannuel Kant, o tempo é um dos esquemas mentais; o outro, seria o espaço. O tempo é a forma do sentido interno, a intuição de nós mesmos e do nosso estado interior. O espaço estaria limitado aos fenômenos externos. E estes obedeceriam à condição formal da intuição interior, o próprio tempo, que seria a condição a priori de todo o fenômeno.
Nietzche dizia que
viver é como se tudo tivesse que retornar. Isso nos remete a Descarte, que
considerava fundamental, além da leitura dos livros, viajar e viajar, como
forma de conhecer outros povos, outras culturas e poder alcançar uma visão mais
segura do passado. Chegou a se alistar em exércitos estrangeiros para poder
ganhar maior mobilidade. Depois, vendeu seu patrimônio e continuou viajando no
espaço e no tempo.
Mas, para o filósofo Bérgson, o tempo da vida é a duração do presente. O presente é o que nos impele à ação. Em se tratando da ação, o passado é essencialmente impotente. Seria inútil caracterizar a lembrança de um momento no passado sem começar a fazê-lo pela consciência da realidade presente.
E os poetas? Mário
Quintana chegou a escrever um belo livro chamado Os Esconderijos do Tempo. Caetano Veloso, uma lindíssima canção denominada Oração ao Tempo. E muitos outros poetas, músicos e escritores viajaram por
esse tema.
E o amigo desembargador, poeta e
escritor Itaney Campos fez um belíssimo poema dedicado ao tema e perfeitamente contextualizado
neste momento de pandemia vivido pela humanidade. Também dei meus pitacos sobre
o assunto em um poema que está no livro Vasto Mundo, recentemente lançado.
Apreciem... enquanto há tempo...
Tempo
José
Carlos Camapum Barros
Tempo
do relógio
Não
é como o dos
Sentimentos
Que
passa como
Passa
o vento...
Tempo
do relógio
É
compassado,
Ritmado,
perene...
Tempo
da alma
Geme,
resistente.
Não
passa, ou passa
Tão
urgentemente
Que
o coração
Nem
pressente
O
descompasso
Entre
dor e lamento...
Ah...
O tempo...
É
o espaço entre
O
momento que se foi
E
o que ainda virá...
Entre
o fogo aceso
E
a chama apagada
Em
nossa mente...
Onde
o amor, presente,
E
a dor, ausente,
Tocam-se
suavemente.
Ah...
O tempo...
Vingança
divina
De
deuses em ruína
Na
imensidão do Universo,
Na
exatidão dos versos
De
um poeta qualquer...
Quão
desmedido é o tempo!
Tempo
Itaney Campos
Virá um tempo que não verás, um tempo que não haverá, um tempo antes do tempo, tempo sem templos e sem medida, salvo a medida da alma humana; um tempo que flui em nosso rio interior, tempo em que se colherão estrelas no chão e todas as formas de amor serão celebradas. Haverá um tempo anterior, para saciar a sede dos homens e alimentar a fome das mulheres. Um tempo de tréguas e delicadeza, quando a poesia será uma dádiva universal. Nesse tempo, todos os medos fenecerão, estiolados em si mesmos. A praga não passará de uma triste lembrança, que de pronto dissolveremos. Ninguém saberá de naufrágios. Emergirás do anverso do espelho, da calma do lago mais fundo, das dobras da noite mais silente. A tua pubescência se abrirá, como uma flor matinal. Haverá um tempo além do tempo, guardado nos túneis do nosso desejo. Haverá um tempo em que, sem saber, tu me amarás com o mudo desespero dos suicidas.
Belíssima reflexão, meu amigo Zeca!!!!!
ResponderExcluirObrigado, grande Maranhão. Sempre atento às coisas do ZecaBlog, você que é o padrinho desse blog. Valeu!
Excluir