Queimaram
mais uma cantinho nobre da nossa memória cultural. Tragédia anunciada e lamentada
em prosa, músicas e versos. Um filme de terror passando diante dos olhos de
milhões de brasileiros que amam a arte cinematográfica. A sétima arte, como propôs,
lá em 1923, o intelectual italiano Ricciotto Canuto, em seu Manifesto das Sete
Artes e Estética da Sétima Arte.
Ocorreu
na noite de quinta-feira (29/7), o quinto incêndio a atingir a Cinemateca Brasileira,
responsável por guardar, preservar e difundir a produção audiovisual do país. O
anexo atingido pelo fogo tem cópias de longas e curtas-metragens de várias
épocas. Mais uma memória importante da nossa cultura virando cinzas.
Tragédia
anunciada em prosa, versos e cantos de todos os cantos desse Brasil prenhe de
desprezos e descasos para com a cultura. Artistas, autoridades e principalmente
os funcionários da Cinemateca já vinham há meses advertindo sobre a situação
precária da instituição e para os riscos de incêndio no local.
O
material ali armazenado tem, por si só, um considerável potencial de combustão,
os filmes antigos são a base de nitrato de celulose, e por isso mesmo exigem
revisões periódicas como único caminho para se evitar incêndios. Tanto isso é
fato que a Cinemateca, ao longo de sua história, já pegou fogo por cinco vezes.
Outros virão?
O governo do neonazifascista Jair Bolsonaro – que de novo não tem nada – deu bananas para a cultura brasileira desde sua posse no cargo de presidente. Também não disfarça, não tenta esconder nem pede desculpas para qualquer de seus atos terrivelmente contrário às artes, aos artistas e aos profissionais que vivem da cultura.
Foi
assim e assim será enquanto esse ser abominável tiver a caneta na mão, um bando
de seguidores fanáticos, o Centrão no centro do poder – que também de novo não
tem nada –, além de uma parte da mídia submissa e subserviente aos interesses
mais imediatos do capital.
Assim
tem sido e assim continuará sendo enquanto não tivermos uma consciência ampla e
generalizada do valor e da importância da cultura para o desenvolvimento
brasileiro. Os profissionais e produtores das artes no Brasil têm que viver
mendigando apoios e investimentos, correndo os corredores da burocracia com o
pires não mão. Saem de lá tal qual entraram... quando muito, carregando
migalhas.
Voltando
ao incêndio, enquanto as cinzas ainda exalam fumaça, a perícia ainda vai ser feita,
a investigação será levada adiante, mas, alguém aí tem dúvida de que ninguém
será responsabilizado ou pagará de alguma forma por mais essa tragédia? Outra
pergunta que não quer calar: alguém aí viu qualquer manifestação do secretário
da Cultura, Mário Frias, prometendo alguma coisa ou se solidarizando de alguma
forma? São muitos alguns para tão pouca existência...
Há
muita revolta e decepção no mundo da cultura brasileira. Estamos pagando um
preço muito alto por tanto descaso. E as gerações futuras vão sofrer as consequências
mais intensamente ainda.
Para
terminar, sem finalizar, faço minha as palavras da atriz Fernanda Montenegro:
"Toda a nossa cultura das artes
sofre um 'cala a boca' neste momento.
Mas vamos renascer, tenho certeza. Nós
temos certeza.
Das cinzas, vamos renascer. É sagrado o
eterno retorno.
Das artes, então. Na cultura das artes,
então.
Um país não existe sem cultura ligada às
artes."
Tem que enfiar esses irresponsáveis na cadeia.
ResponderExcluirSó posso lamentar o fato verdairo deste texto @ .
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