Palavras
são palavras, nada mais do que palavras. Provérbio antigo, assim como: águas
passadas não movem moinho. Ambos ficaram registrados na minha memória desde
criança. Lembro, como se fosse hoje, da figura esquálida, inteligente,
espirituosa, do jornalista e memorialista Filomeno Luiz França a dizer esses
pensamentos, sentado na cozinha da casa dos meus pais, em rodas de conversas
naquele tempo em que não havia televisão por lá.
Águas
que se foram não moverão mais aquele velho moinho, engenhoso, de saudosa
memória. Outras águas, provavelmente não tão límpidas e desprovidas de encanto,
por ali passarão a desempenhar tal função.
As
palavras, por si mesmas, se perdem no tempo e no espaço. Sempre foi assim,
desde que o ser humano deixou de grunhir, trocou o ranço do murmúrio por sábias
palavras, engendrou frases e construiu parágrafos. Por esse caminho, veio o
canto, a musicalidade da espécie e a filosofia.
Moinhos
movidos a água e vento são como literatura – poesia e prosa – que continua a gerar
beleza, encantamento e a revolucionar o mundo e a nossa existência, mesmo
quando as palavras já se foram. Águas passadas giram novos moinhos, produzem
energia e seguem curso afora, incólumes, deslizantes e suaves como o sopro divino.
Águas
e palavras são sonoras, de tonalidades átonas, preenchidas pela vogal “a”, a
mesma que inicia a palavra amor. Dois termos que, quando sobrepostos, podem gerar expressões como agualavras e paralaguas. Se muito misturadas, sacudidas e
soltas ao vento, moverão aqueles moinhos de Dom Quixote. Serão mais que
palavras, além das águas, muito mais do que nada mais. Voltarão no tempo e
seguirão rumo ao futuro.
Pensem
nisso hoje e amanhã. O dia de ontem, não nos deixará seguir incólumes e nem nos
deixará isolados, perdidos e soltos na imensidão da dúvida e do destempero.
Palavras
são muito mais do que palavras. Águas passadas nos conduzem, sempre, à vida
eterna.
Amém.
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