Por Itaney Campos*
Ontem,
pra variar, depois de tantos desencontros e desencantos, chegou-nos, pela rede
social, uma notícia alvissareira. Calejado pela experiência, perguntei-me se
não se trataria apenas de mais uma fake
news, tantas são a proliferar nas plataformas digitais. Pesquisei. Era uma
boa, surpreendente e verdadeira notícia: instituíra-se, em Goiás, uma data
comemorativa do escritor goiano.
O
dia coroado: 29 de abril. O mesmo dia dedicado a Santa Catarina de Sena, a
doutora da Igreja, da congregação das freiras de Uruaçu. E dia mundial da dança.
Os escribas estão mesmo em ótima companhia! E ora vejam, em Goiás, terra do
agronegócio e da música sertaneja! E sancionada por, nada mais nada menos, que
o governador Caiado! O mundo dá mesmo muitas voltas.
Curioso,
fui averiguar de quem fora a iniciativa de homenagear os intelectuais da terra,
em geral relegados à obscuridade e ao anonimato. Como ocorre, aliás, da mesma
forma, às instituições que os congregam. E é até engraçado como, à época das
eleições, aparecem tantos mecenas, tantos benfeitores da cultura, com promessas
sedutoras de fomento às artes. Depois do pleito, só resta às entidades o pires
na mão. E a costumeira mendicância.
Quem
foi o autor dessa lei? Foi fácil obter a resposta, está tudo na internet. A
proposição foi do deputado Virmondes Cruvinel Filho, o Virmondinho. Que grata
surpresa, pra mim! Seu pai Virmondes foi meu colega de República estudantil, e
também político, e o filho foi meu aluno no curso de Direito da Universidade
Federal de Goiás. Já exercia liderança estudantil, por aquela quadra. Abonei
muito de suas faltas às aulas, acolhendo justificativa de que se achava em
reuniões no Centro Acadêmico. Não tinha motivos para não acreditar.
Agora,
Virmondes Filho, no seu terceiro mandato, e já intitulado deputado da educação,
causa orgulho a este seu velho professor do final dos anos 80. Bravo,
Virmondes! Mas isso é só o início! É preciso incentivar a leitura, ampliar as
bibliotecas, facilitar o acesso ao livro digital, divulgar entre nós a
literatura e os autores goianos, incluindo suas obras nos currículos e conteúdo
programático das escolas.
Ainda
é preciso muito, amigo! Essa data é uma homenagem significativa e simbólica -
não há vida sem símbolos - mas vamos em frente: promovam-se edições dos livros
dos goianos; instituam-se prêmios às obras mais bem avaliadas; incentivem-se as
editoras; distribuam-se livros aos estabelecimentos de ensino, sobretudo os
colégios militares; criem-se subvenções às Academias literárias, isentando-as
dos tributos ordinários.
Há
ainda muito o que fazer! Afinal, nossa obrigação é honrar a memória e a
produção literária dos ícones da escrita em Goiás, como Cora Coralina, Léo
Lynce, José Godoy Garcia, Bernardo Elis, Hugo de Carvalho Ramos e J.J. Veiga,
para citar alguns poucos, pouquíssimos, pois são daqui o poeta Afonso Félix, o
cronista Carmo Bernardes, o romancista Eli Brasiliense, (para mencionar só os
que passaram para a outra margem) e tantos, tantos mais!
Observem o tesouro que brilha na Academia Goiana de Letras. É ótimo haver o dia do Escritor! Melhor ainda quando pudermos nos gabar: aqui todo dia é dia da escrita!
*Itaney Campos é desembargador, escritor, poeta e membro da Academia Goiana de Letras.
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