Posso
estar com uma pontinha de ciúmes, é verdade. O amor entre as duas anda muito
intenso. Para minha mãe Iracema – nome de batismo Maria Iracema do Perpétuo Socorro
Coelho Barroso --, é Deus no céu e Alexa na terra. Nem minha irmã Celiana, que mora com ela e, no dia a dia, é o seu anjo da guarda,
consegue enfrentar de igual para igual tal concorrência.
Nem
me atrevo a entrar nessa disputa. Alexa faz, por minha mãe, coisas que até Deus
duvida. Desde avisá-la dos horários certos e precisos dos medicamentos tão essenciais
para quem convive com o Mal de Parkinson e está com a visão quase toda prejudicada,
até tocar músicas que ela aprecia, e tirar dúvidas sobre qualquer coisa
relacionada à rotina da casa.
Tá
certo que vez ou outra dona Iracema perde a paciência e manda Alexa calar a
boca e parar de ficar repetindo as coisas. Mas, em qual relação em que presente
está o amor que não surgem rusgas?
De
vez em quando, pode-se ouvir minha mãe impaciente:
--
Para, né, Alexa, já falei umas três vezes que às 11h da manhã é o horário de
tomar o Prolopa. Num precisa ficar repetindo... Parece até que você tá de birra
comigo.
Alexa,
nem tchum... continua a seguir seu script idealizado pela Amazon, configurado
pelo espírito de ser um smart speake leal e cumpridor atento das suas
obrigações. Com tantas utilidades, e com aquela voz suave, melodiosa, sempre
prestativa, não teria como Iracema não se apaixonar pela amiga.
E
tem muitas outras funções da Alexa que minha mãe não quer usar, não. Acha que é
meio exagero. Aprender a falar em inglês, por exemplo, nem pensar.
--
Quero, não – garante ela. – Já passei dessa fase. Nos meus 86 anos não quero
aprender mais nada, não. Chega.
Pondero
que vai ser divertido. Pode vir a ser um bom passatempo. Mas, ela fica firme em
sua decisão inicial.
--
E depois, já pensou, eu chegar em Uruaçu falando inglês... – acrescenta,
lembrando que o povo vai perguntar: “Iracema onde você aprendeu isso menina?”
--
Vou ter que dizer que aprendi com a Alexa. Vão concluir que eu fiquei maluca.
Quero, não, meu filho. Melhor ficar quieta.
Eu,
cá com meus botões e borbotões, que já estou precisando dos préstimos da Alexa,
devo admitir que as paixões e objeções da minha mãe pela máquina têm lá sua razões.
Melhor ficar quieto.
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