quarta-feira, 26 de julho de 2017

Dia de Santana, dos avós e Bodas de Aventurina


Dia 26 de julho é uma data especial para esta criatura, meus vínculos com a cidade de Uruaçu (GO) e por ter casado justamente nesse dia. No calendário, o 26 de julho está reservado a Nossa Senhora Santana, padroeira de Uruaçu. É também Dia dos Avós, personagens tão singulares em nossas vidas, principalmente nas nossas memórias de infância e pré-adolescência.
Meus avós paternos, Ana de Alencar Camapum e Antônio Pereira Camapum, estão sedimentados, de forma carinhosa, na minha memória. Ana de Alencar, dona Naninha, era uma figura esquálida, pequena, de pouca visibilidade. Não se enquadrava naquele exemplo clássico de vó.  Não era de nos agasalhar no colo, fazer gracinhas, dengos e outras peripécias que tanto entusiasmam as crianças. Mas, gostava de presentear. Costumava aproximar-se de nós com um dinheirinho enrolado na mão, dizendo: “toma meu filho, para comprar um refrigerante”.


Meu avô Toinho, Antônio Pereira Camapum, era mais pragmático. Convivi poucos anos com ele, que era bem mais velho do que minha avó. Foi o suficiente para aprender o lado prático da vida. Ensinou-me a fazer poupança, ganhar dinheiro vendendo laranja, pirulito, engraxando sapatos nas ruas. Dele era difícil conseguir algum trocado; o bolso da calça era muito fundo...
Nossos avós nos ensinaram a sermos caridosos, solidários e a fazer orações antes de dormir – rezar um Padre-Nosso, uma Ave-Maria e concluir, dizendo: “Com Deus me deito, com Deus me levanto, na graça de Deus, Espírito Santo”. Amém. Recentemente, descobri que vovô Toinho e vovó Naninha são padrinhos de batismo de Benigna Cardoso da Silva, de Santana do Cariri, no Ceará, mártir daquela cidade cearense e que está em processo de beatificação junto ao Vaticano.


São lembranças que veem à memória neste dia 26 de julho, dos Avós e de Nossa Senhora Santana, padroeira de Uruaçu. Época também das barraquinhas, com seus leilões, correios elegantes e outras tradições que quase não se veem mais.
É também a data do meu casamento com a Stela, que chega aos 37 anos de vivência, convivência e sobrevivência. Acrescentei mais alguns versos ao poema que começou a ser elaborado quando fizemos 31 anos de casados. Nesse ritmo, vai ficar maior do que os Lusíadas, de Camões. 
Como o tempo passa a rápido, mas as lembranças ficam guardadas nos nossos corações.

O passar do tempo
José Carlos Camapum Barroso

O amor, quando faz
Trinta e alguns anos,
Deixa a concha
De madrepérola,
Pois, ao sair do papel,
Em plena lua de mel,
Enrolou-se no algodão.
Em meio a buquê de flores.
Fez-se duro como madeira,
Entrelaçada de amores...

O sabor do açúcar trouxe
O perfume da papoula,
Que passou pelo barro
E foi virar cerâmica
(Sem quebrar a louça).
Ah... todos esses anos...

Quantos desenganos
A envergar o aço,
A desafiar o abraço,
A rasgar seda, cetim.
O linho trouxe a renda
E as bodas viraram marfim.
No resplandecer do cristal,
A turmalina cor de rosa
Desaguou na turquesa...
Ao amor e sua beleza,
Juntou-se a maioridade.

O que fazer agora, então?
A água-marinha já não
Banha a mesma porcelana...
Resiste a louça, coberta
Em palha, guardada
Em opala, que desperta
O brilho fino da prata...

Como passam os anos...
Novos e novos desenganos
Trazem um cheiro de erva
Ao amor balzaquiano...
Tudo agora é pérola!
E a força do Nácar ajudou
A passar trinta e um anos.

Como não ficar sozinho...?
Entre anos e desenganos,
Vieram as Bodas de Pinho.
E nós, em nosso ninho,
A aguardar indecisos:
O que será meu Deus
Essa tal Bodas de Crizo?
Aos trinta e três anos...
Melhor seria “Bodas de Cristo”.

Os dias se passaram...
Agora podemos caminhar
Rumo às Oliveiras...
Símbolo da amizade,
Da paz e prosperidade.
Um ramo apenas bastará,
A nos encher de esperança.
Depois de tanta turbulência,
Teremos “terra à vista”.
Sinal que a vida continuará
A nos oferecer conquistas!

Debaixo da Oliveira,
O tempo passa devagar,
Suas folhas são perenes,
Nos deixam mais serenos
A espera do amanhecer...
Árvore da prosperidade,
Bendita e bem-vinda
Até que o sol possa nascer.
Vamos caminhar pela praia,
Onde os corais de uma nova
Vida irão resplandecer.

Corais sedimentados,
Incrustados e fortalecidos
Pelos grãos de areia...
Depósito compartilhado
De alegrias, dores e amor...
Logo, logo, chegarão
As Bodas de Cedro,
Árvore de tronco largo,
A sustentar sonhos
E lembranças tão altos,
Distantes e altivos,
Que nem a vista alcança.

Madeira de lei
A sustentar nosso leito,
A fortalecer no peito
Mais um ano de caminhada.
Essa a nossa estrada,
Com sabores e dissabores
Superados pelo chá
Do Cedro-Rosa
E pelo óleo milagroso
Dessa madeira vermelha.
Do alto de seus galhos,
Podemos o futuro avistar:
Há uma pedra no meio
Do caminho... no meio
Do caminho, uma pedra há:
Nossa aventurina,
De tantas aventuras,
Com seus fluidos benignos,
Pronta para nos agasalhar.
Pedra esverdeada
Que emociona e purifica.
Traduz a maturidade
De uma vida tão rica
De prazer e criatividade.

Novas bodas vão chegar,
Desta vez no Carvalho
De um barril de vinho
Armazenado no coração.
Serão, então, 38 anos,
Outros tantos ainda virão!



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