Vem, Ainda Há Poesia, é muito mais que um livro a nos encantar pelas belezas poéticas e pelo lirismo tradicional e antológico que traz em suas 105 páginas. É uma obra que consegue apresentar, na essência de sua alma e do seu ser, Sinvaline Pinheiro, com toda a grandeza da sua existência nesses tempos de tantas opressões, preconceitos e injustiças. Uma escritora e poeta que nasceu, vive e floresce, lá do seu cantinho no Sítio da Vó Quirina para o mundo, vasto mundo, como diria o poeta maior Carlos Drummond de Andrade.
É
muito raro um obra abarcar a grandeza de vida e a visão de mundo do autor,
autora. O recém lançado livro dessa uruaçuense da gema alcança tal proeza,
graças ao talento, à perseverança e ao espírito de luta dessa mulher indígena,
quilombola, apegada às tradições e aos valores da vida e da natureza que as
cercam.
Tudo,
literalmente tudo, em Sinvaline – carinhosamente chamada de Sinva –, é poesia,
naquilo que há de mais profundo e transformador nessa arte que nos abraça,
promove e transforma desde os tempos de Homero, na Grécia Antiga. Sinvaline tem
a poesia como uma missão de vida a acender faróis, iluminar caminhos e retirar obstáculos
que sempre foram impostos às mulheres, prostitutas, indígenas, quilombolas e
aos animais silvestres e domésticos, todos devidamente lembrados em sua dedicatória
de Vem, Ainda Há Poesia.
Peço
licença para acrescentar: Ainda há Justiça, ainda há Esperança, Fé e Amor. Está
tudo lá, devidamente costurado, alinhavado, enaltecido em versos que beberam na
fonte de uma formação grandiosa dada pela avó Quirina, pelos pais Sinval e dona
Nena, pelas páginas de livros e versículos da Bíblia Sagrada.
Sinvaline,
seus versos, sua obra literária, seus conhecimentos e visão de mundo não brotaram
por acaso, do nada. É uma existência que tem começo, meio e se projeta por
horizontes promissores, graças aos ensinamentos que recebeu da família, dos
animais, das prostitutas dos becos, de poetas como Manoel de Barros, de mestres
como Altair Sales Barbosa, de amigos e amigas como Verônica Aldé. Todos por
influenciarem sua vida, seus versos, seu caminho de luta por igualdade e justiça
social, estão devidamente referenciados em sua dedicatória.
“O
sentimento estará em mim, na poesia, nas fronteiras do mundo e na alma do tempo”,
diz esse belo e pujante verso de um simples Psiu!. Para acrescentar, nos
Bastidores da Vida, que nas manhãs os sonhos estão mais à flor da pele, mas,
“não sei da perfeição, e sigo extravasando em poesia, na busca de um novo
amanhecer”.
Apesar da noite escura e do amanhecer incerto, Sinvaline nos faz ver, em uma sequência de belos poemas e versos lírico e tanto próximos do nosso existir, que “há poesia...”. Pelo simples e sublime fato de que “saborear o milagre de mais um dia, voar alto, abraças os troncos, bom dias às flores e ao mundo... vamos... vem, ainda há poesia!”
PS – A biografia de Sinvaline Pinheiro, nas últimas páginas do livro,
Nos convida, a ler tudo de novo, como se um mundo novo estivesse, ali,
abrindo suas portas para nossa humilde existência.