domingo, 5 de outubro de 2025

Vem, Ainda Há Poesia, a obra grandiosa de Sinvaline

Vem, Ainda Há Poesia, é muito mais que um livro a nos encantar pelas belezas poéticas e pelo lirismo tradicional e antológico que traz em suas 105 páginas. É uma obra que consegue apresentar, na essência de sua alma e do seu ser, Sinvaline Pinheiro, com toda a grandeza da sua existência nesses tempos de tantas opressões, preconceitos e injustiças. Uma escritora e poeta que nasceu, vive e floresce, lá do seu cantinho no Sítio da Vó Quirina para o mundo, vasto mundo, como diria o poeta maior Carlos Drummond de Andrade.

É muito raro um obra abarcar a grandeza de vida e a visão de mundo do autor, autora. O recém lançado livro dessa uruaçuense da gema alcança tal proeza, graças ao talento, à perseverança e ao espírito de luta dessa mulher indígena, quilombola, apegada às tradições e aos valores da vida e da natureza que as cercam.

Tudo, literalmente tudo, em Sinvaline – carinhosamente chamada de Sinva –, é poesia, naquilo que há de mais profundo e transformador nessa arte que nos abraça, promove e transforma desde os tempos de Homero, na Grécia Antiga. Sinvaline tem a poesia como uma missão de vida a acender faróis, iluminar caminhos e retirar obstáculos que sempre foram impostos às mulheres, prostitutas, indígenas, quilombolas e aos animais silvestres e domésticos, todos devidamente lembrados em sua dedicatória de Vem, Ainda Há Poesia.

Peço licença para acrescentar: Ainda há Justiça, ainda há Esperança, Fé e Amor. Está tudo lá, devidamente costurado, alinhavado, enaltecido em versos que beberam na fonte de uma formação grandiosa dada pela avó Quirina, pelos pais Sinval e dona Nena, pelas páginas de livros e versículos da Bíblia Sagrada.

Sinvaline, seus versos, sua obra literária, seus conhecimentos e visão de mundo não brotaram por acaso, do nada. É uma existência que tem começo, meio e se projeta por horizontes promissores, graças aos ensinamentos que recebeu da família, dos animais, das prostitutas dos becos, de poetas como Manoel de Barros, de mestres como Altair Sales Barbosa, de amigos e amigas como Verônica Aldé. Todos por influenciarem sua vida, seus versos, seu caminho de luta por igualdade e justiça social, estão devidamente referenciados em sua dedicatória.

“O sentimento estará em mim, na poesia, nas fronteiras do mundo e na alma do tempo”, diz esse belo e pujante verso de um simples Psiu!. Para acrescentar, nos Bastidores da Vida, que nas manhãs os sonhos estão mais à flor da pele, mas, “não sei da perfeição, e sigo extravasando em poesia, na busca de um novo amanhecer”.

Apesar da noite escura e do amanhecer incerto, Sinvaline nos faz ver, em uma sequência de belos poemas e versos lírico e tanto próximos do nosso existir, que “há poesia...”.  Pelo simples e sublime fato de que “saborear o milagre de mais um dia, voar alto, abraças os troncos, bom dias às flores e ao mundo... vamos... vem, ainda há poesia!”

PS – A biografia de Sinvaline Pinheiro, nas últimas páginas do livro, 

é uma capítulo à parte na construção dessa obra grandiosa. 
Nos convida, a ler tudo de novo, como se um mundo novo estivesse, ali, 
abrindo suas portas para nossa humilde existência. 

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Festival Adorei as Almas é no Terreiro da Vovó Conga

 

Quem não é do terreiro, bom sujeito não é; não tem ginga no corpo e nem ritmo no pé. Mas, pra tudo tem remédio e jeito neste mundão de Deus. Está na praça, ou melhor, no Terreiro da Vovó Conga, o Festival Adorei as Almas, em sua 18ª edição, com atividades gratuitas e inclusivas, que abraçam saberes tradicionais, Oficina de Benzimento e Produção de Garrafadas, Chás, Tinturas e Pomadas, Oficina de Construção de Berimbau, Rítmicas e Capoeira – Uso do Instrumento e será encerrado com a tradicional Feijoada da Vovó Maria Conga, em novembro.

O Festival começou em setembro com a primeira oficina, que está em andamento e será encerrada, neste sábado (4/10). A oficina de construção de Berimbau, Rítmicas e Capoeira acontece nos dias 25 deste mês e em 1º e 8 de novembro. Segundo a Mãe Maria do Cerrado, idealizadora do projeto, que neste ano está sob a execução de Marcos Antonio Sousa Madeira, o Festival tem o compromisso de manter vivas práticas ancestrais que atravessam gerações, aproximando a comunidade de expressões artísticas, religiosas e sociais, gerando oportunidade de crescimento pessoal, profissional e integração comunitária.

Realizado pela primeira vez em 2007, o Festival é uma iniciativa inspirada na força simbólica da Vovó Maria Conga, figura histórica e espiritual que dá nome ao terreiro. Liderança quilombola no século XIX e, ao mesmo tempo, reverenciada como Preta Velha da Umbanda, Maria Conga representa resistência, sabedoria e acolhimento. É essa herança que norteia a realização do festival: um espaço de celebração da ancestralidade, da fé e da cultura afro-brasileira, transformando práticas tradicionais em experiências coletivas de aprendizado, memória e convivência. O Terreiro da Vovó Maria Conga, a partir do Projeto de Lei 1.279 de 2022, tornou-se uma Unidade Tradicional de Terreiro (UTT).


Serviço:

Oficina de Benzimento e Produção de Garrafadas, Chás, Tinturas e Pomadas
6, 13, 20 e 27 de setembro e 4 de outubro
Das 8h às 18h | 32h de carga horária
30 vagas (20% reservadas a PcD e público LGBTQIA+) | Idade mínima: 16 anos
Tradução em Libras e audiodescrição
 
Oficina de Construção de Berimbau, Rítmicas e Capoeira – Uso do Instrumento
25 de outubro, 1º e 8 de novembro
Ensaios: 4 e 11 de novembro de 2025
Das 8h às 12h| 32h de carga horária
30 vagas (20% reservadas a PcD e público LGBTQIA+) | Idade mínima: 16 anos
Tradução em Libras e audiodescrição
 
Local: Terreiro da Vovó Maria Conga – Santuário de Maria (DF)
 
Endereço: DF 130 KM 05, Sítios Agrovale, chácara Santa Fé número 02- Planaltina DF
 
Inscrições

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

"Sob os Pés do Mundo" valoriza experiência sensorial

O Festival Mês da Fotografia oferece uma opção interessante para os amantes de obras de arte, neste final de semana, das 9h às 17h, no Museu Nacional de Brasília: a exposição Sob os Pés do Mundo, uma experiência sensorial em Brasília, resultado do projeto artístico-sociocultural Arte no Espaço Público x Arte como Espaço Público: Arte e Inclusão Social.

A mostra, na Galeria 2 do Museu, apresenta 17 obras táteis criadas a partir das calçadas e espaços públicos do Distrito Federal, em diálogo com as trajetórias e memórias de pessoas cegas e com baixa visão. Tem a proposta de experimentar os caminhos da cidade e não, simplesmente, caminhar por eles, o corpo, o toque e a escuta foram usados na elaboração das obras de arte.

Idealizado pelo artista visual e sociólogo Flavio Marzadro, o projeto adotou técnicas como os decalques táteis em base siliconada, para transformar superfícies urbanas em obras sensoriais. O objetivo foi incluir pessoas com deficiência visual no universo das artes visuais, para provocar reflexões sobre acessibilidade, pertencimento e direito à cidade, além de compartilhar outras formas de “enxergar” com os demais públicos.

As obras nasceram de um processo artístico profundamente colaborativo, que uniu oficinas sensoriais e vivências urbanas em diferentes regiões do Distrito Federal. Conduzidos por Flavio Marzadro e pela ceramista Geusa Joseph, os encontros propuseram o toque como linguagem e a memória como matéria-prima. Ao explorar superfícies como pedra portuguesa, azulejos e pisos táteis, os participantes compartilharam suas histórias, afetos e modos de perceber a cidade com o corpo inteiro.

O projeto inaugura uma metodologia participativa e descentralizada, que enxerga o espaço urbano como suporte artístico e os sentidos como instrumentos legítimos de criação. A iniciativa também dialoga com experiências anteriores de Marzadro, como o projeto Borboletando – Arte Inclusiva, Arte do Amor, realizado em parceria com Geusa Joseph, que mobilizou centenas de participantes com deficiência na criação de uma escultura coletiva em cerâmica, exibida no Museu de Arte de Brasília e publicado neste blog (para ler clique aqui).

Amostra - A exposição, que só termina no dia 7 de setembro, reúne 17 quadros táteis de diferentes dimensões — entre eles, um painel de 130x90 cm — que retratam os lugares percorridos e sentidos durante o projeto. Os trabalhos contam com títulos em Braille, letras ampliadas, audiodescrição e paisagens sonoras de 20 minutos, com os ruídos originais de cada local.

Para estimular diferentes formas de percepção, dois dos quadros estarão disponíveis para o toque de todos os visitantes. A proposta é simples e profunda: olhar com as mãos, ou fechar os olhos e permitir-se experimentar o mundo de outra maneira. Assim, a visita se torna também um gesto de empatia e descoberta.

A experiência convida à escuta tátil, ao toque atento, ao reconhecimento da cidade por outros caminhos sensoriais e à admiração artística muito além do que os olhos podem ver. Uma forma poética e política de imaginar espaços mais inclusivos e partilhados.


Serviço:
Exposição
Sob os Pés do Mundo: uma experiência sensorial em Brasília
Data: de 05/08 a 07/09
Horário de visitação: de terça a domingo, das 9h às 17h
Dinâmica Troca-Troca conduzida pelo grupo Teatro no Escuro (Olho no Lance) 

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Matou o gari e foi para a academia

Cristão, marido, pai e patriota (Christian, husband, father & patriot). Esse é o perfil, postado em inglês nas redes sociais do empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, 47 anos, preso em flagrante pela morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, 46 anos. O homem de Deus atirou no homem da rua, no bairro Vista Alegre, na cidade de Belo Horizonte. Foi preso em flagrante, poucas horas depois, enquanto cuidava do próprio corpo e relaxava a mente em uma academia.

O veículo de coleta de resíduos “atrapalhava o trânsito”, e estava sendo dirigido por uma mulher da rua, a gari Eledias Aparecida Rodrigues, 42 anos, que teve a ousadia de encostar o caminhão para que Renê passasse com seu possante e moderno BYD –  em inglês Build Your Dreams, melhor dizendo, em português, Construa Seus Sonhos.

Eledias e seus companheiros de trabalho estavam a dificultar que o homem cristão e patriota, pai e esposo, passasse folgada e confortavelmente pela rua em busca da construção dos seus sonhos.

Para a família de Laudemir, restou apenas o pesadelo, expresso em alto e bom som, em frases banhadas de lágrimas, pela esposa Liliane França da Silva, durante o velório na manhã desta terça-feira (13/8): “queremos justiça!”. Laudemir era descrito como um pai de família grandioso, um trabalhador honesto e será lembrado por ser uma pessoa alegre e de coração gigante.

Laudemir tinha pressa. Cuidava da família e iria receber naquele dia a visita do Conselho Tutelar. Contou aos colegas que tinha conseguido, recentemente, a guarda de sua filha.

Renê tinha pressa. Cuidava com zelo do carro e do corpo. Restos de lixo, naquela rua estreita, tomada por carros inferiores, poderiam atingir o veículo dos sonhos e manchá-lo para sempre. Não podia perder horário na academia onde malhava regularmente e conseguia manter um corpo atlético e admirado pelos entes queridos.

 “Vai matar a gente trabalhando?”, teria perguntado um dos colegas de trabalho de Laudemir diante das ameaças “de atirar na sua cara”, feitas por Renê. A resposta do agressor veio por meio de uma bala certeira e mortal. O gari foi socorrido, mas não resistiu aos ferimentos. Morreu no hospital, provavelmente no mesmo momento em que o assassino cuidava do corpo e relaxava a mente, ambos cansados da rotina tão estressante da cidade grande, poluída de garis por todos os lados.

Laudemir não vai poder dar a sua filha a guarda conquistada com tanto amor e carinho. Não conseguiu chegar em casa mais cedo. Quando chegou ao hospital já era tarde demais. 

domingo, 10 de agosto de 2025

Dia dos Pais – de hoje, de ontem e de sempre...




LEGENDA:
Juarez Alencar Camapum – pai de José Carlos, Mozart, Juracema e Celiana; Padrinho Batista Barroso – um segundo pai para os filhos de Juarez; José Carlos Camapum Barroso – pai de Ramiro e Jordano; e Ramiro Freitas de Alencar Barroso – pai de Juliano e Martina

Canção dos pais
José Carlos Camapum Barroso
 
Ser pai é padecer no paraíso.
Quando for preciso, ser mãe,
Onde não basta ser pai...
 
Não basta participar...
Ser pai é expulsar da alma
Toda a dureza do coração,
Fraquezas do sim e do não,
Certeza de que há um talvez...
 
Ser filho outra vez...
Avô, padrinho, amigo, irmão.
Ser pai... Como sabê-lo,
Se nem conhecemos o ser?
Se não há receita à mão?
Se não tem varinha de condão?
 
Vestir-se de humildade,
Beber vinho da caridade
Suplicar pelos filhos
Que, um dia, pais serão.
 
Ser pai não apenas ao dizer:
- Meu filho, um sucesso!
Também quando se esvai,
Desce a vida na contramão.
 
Ser pai: ontem, hoje e sempre.
Ser pai! Eis a questão.


 

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Dia do Amante do Livro é uma novidade boa

Já escrevi sobre as mais diversas datas comemorativas relacionadas, de alguma forma, à cultura. Mas, sinceramente, não tinha conhecimento sobre o Dia do Amante do Livro, comemorado neste sábado, 9 de agosto. Um feriado informal, criado para inspirar os amantes da leitura e da escrita. Recomendam-se às pessoas que removam os seus smartphones e todas as distrações tecnológicas possíveis e peguem um livro para ler.

O Dia do Amante do Livro é celebrado em uma escala global, mas a sua origem e autor ainda são desconhecidos. O espírito que norteia a data é bem interessante. Procura-se despertar o gosto pela leitura em pessoas que trazem em si uma certa resistência. Para alguns, ler é a última forma de relaxamento e diversão. Outros, consideram a leitura uma tarefa difícil, penosa.

Todas as dificuldades podem estar ocorrendo por falta de políticas inteligentes e eficientes para estimular o hábito da leitura. Pode ocorrer também dificuldade para encontrar o melhor livro para si. Deixo, como dica, A Vegetariana, de Han Kang, que terminei de ler recentemente; A Noite do Meu Bem, de Ruy Castro, que estou lendo; e Arrabalde – Em busca da Amazônia, de João Moreira Salles, que pretendo ler em breve.

Imagem: Depositphotos

O Dia do Amante do Livro é importante para refletirmos sobre o papel essencial da leitura na formação de cidadãos mais críticos e conscientes. Não apenas pelo livro em si, mas o que ele representa em nossas vidas, como instrumento de democratização do conhecimento e para a construção de uma sociedade mais justa, bem informada e que seja, de fato, democrática.

O livro foi a primeira e grande invenção a revolucionar a existência humana. Depois dele, vieram outras tantas e quantas, mas, nenhuma delas tão associada à essência do ser. Alcançamos a capacidade de produzir energia das mais diversas fontes até à colocação de máquinas em movimento, seja na terra, no ar ou mesmo no espaço sideral. Chegamos ao computador e sua capacidade de impulsionar a humanidade por caminhos nunca vistos, nem mesmos imaginados. Até os dias atuais das redes sociais e da Inteligência Artificial...

Imagem: Depositphotos

Mas, continuo achando que o livro é a maior invenção da humanidade. Minha cunhada, Vênus Mara, de saudosa memória, discordava. Dizia que a maior invenção do homem foi o liquidificador. Depois dele, ninguém mais passou mal ao misturar os mais esdrúxulos alimentos. Até mesmo manga com leite. Tinha lá suas razões...

Saudemos o livro e incentivemos as novas gerações a colocarem essa invenção próxima à mente e perto do coração. A alma que surgirá daí será infinitamente superior a tudo que vimos e fizemos até hoje.

Beijos no coração!

Eu livro

José Carlos Camapum Barroso
 
Há um livro em mim
Moto contínuo, impulsionador
Do ser pela imensidão dos tempos.
 
O livro na minha mente...
São células a espalhar sementes
Por um corpo rude, limitado.
 
O livro no coração
É compasso de extra-sístole,
Descontrole da arritmia...
 
O livro é o bálsamo
De tantas dores contraídas
Em noites obscurantizadas...
 
Meu espírito infinito,
O livro é alma que acalma
E transita por tantas vidas. 

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

A deusa Vênus Mara faria hoje 78 anos... quantas saudades

Uma fotografia vale mais que mil palavras, diz o dito popular. Então, a rigor, não deveria escrever palavra alguma para homenagear Vênus Mara de Freitas Jaime. Bastaria publicar essa foto, que estava bem guardada em nosso álbum de recordações. Todo o esplendor desse semblante publicado, em preto e branco, neste humilde blog, diria tudo que queremos dizer neste 1º de agosto de 2025, quando ela estaria completando 78 anos de idade.

Estaríamos todos, aqui em Brasília, ou na casa dela e do seu querido Goiá Jaime, no Setor de Sul de Goiânia (GO), comemorando com entusiasmo uma existência tão grandiosa, interrompida aos 58 anos de idade, ainda tão jovem. Estaríamos cercado dos familiares e de um cem números de amigos e amigas.

Não teve filhos, mas amou, ajudou, acolheu e encheu de carinho e dedicação todos os sobrinhos e afilhados, entre eles meu filho Jordano. Servidora pública dedicada e admirada, tanto nas dependências do Banco do Estado de Goiás, quanto nas salas e antessalas do Palácio das Esmeraldas. Um ser que exerceu, nesta existência, todos predicados que nos qualificam como humanos.

Peço licença aos leitores e leitoras do ZecaBlog para publicar, além da foto, este pequeno texto, que pretendo encerrar por aqui, dois poemas a ela dedicados e uma música, que não sei bem explicar, sempre que a escuto, lembro-me dela – talvez por ter sido a “dindinha” do meu filho. As saudades são muitas, mas as lembranças boas são eternas.

Vênus aprisionada
Itaney Francisco Campos
 
Há três dias ando expedindo cartas pungentes,
Telegramas urgentes,
Ofícios de gravata
A todos os grandes burocratas:
Presidente,
Governadores,
Diplomatas...
Senhor governador, é um caso de horror,
Senhor presidente, é um caso urgente.
 
Nas masmorras do Palácio,
(dois guardas, dois dragões à porta)
Há uma deusa em fria,
Há uma deusa nos braços
Gélidos, visguentos
Da burocracia.
 
Há uma deusa exposta aos perigos da papelrreitidoma.
Que a façam aeromoça,
Miss turismo,
Miss simpatia,
Tudo,
Menos funcionária pública, protocolar,
Marcando audiência,
Adiando audiências:
- Sinto, senhor, o Governador não pode atendê-lo, pois está em reunião...
- Pois não, senhor, aguarde um instantinho, o Governador já vai atendê-lo...
 
Artistas do mundo inteiro, uni-vos...
 
Poetas, seresteiros, acorrei...
 
Senhor Governador, em nome da arte,
E da fantasia,
Só lhe pedimos um justo favor,
Libere-nos Vênus,
Com o seu sorriso,
Com sua alegria...

Recanto de Vênus
José Carlos Camapum Barroso

Filha da terra e do céu,
Do amor de Gaia e Urano,
Veio ao mundo em véu
De espuma do oceano
 
A deusa filha dos deuses.
Trouxe beleza e amor,
Deu benção aos portugueses.
Ao mundo, seu esplendor.
 
Voltou ao céu pela arte
De amar ao deus Vulcano.
Mas fez Cupido com Marte...
No Verão? Ou no Outono?
 
Primavera ou Inverno?
Nem Saturno sabe a Hora...
Tanto amor, tanta quimera
Deixou aos deuses de outrora.
 
Veio banhar-se na Beócia,
Nos mares abrir caminho,
Tingir a rosa da Grécia
De branca em cor de vinho.
 
Ao mundo trouxe o riso,
Deu graças ao casamento.
Fez da terra, paraíso,
Na dor colocou unguento.
 
Na Sicília teve um templo
(Pafos, na ilha, também).
Deixou em todos, exemplo,
Graças e charme, amém.
 
Mudou-se pro mundo novo
Lá onde o céu é mais azul
Bem mais perto do povo
Em Goiânia, Setor Sul.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Exposição mostra e valoriza viola de Geraldinho do Angical

A Expo Favela, feira que reuniu projetos de empreendedorismo criados em comunidades, em Belo Horizonte, entre os dias 18 e 19 de julho, foi um sucesso. Mostrou trabalhos maravilhosos e artistas talentosos que desenvolvem suas artes nos rincões do Brasil, nem sempre tendo visibilidade e abertura para ofertar seus produtos. Entre tantos, lá estava José Geraldo Gonçalves dos Santos, conhecido como Geraldinho do Angical, artesão de viola caipira e aluno do saudoso mestre Minervino, que viveu e morreu em São Francisco (MG).

Além de fazer viola, Geraldinho é um exímio tocador do instrumento. De origem humilde e pouco avesso a badalações, esse mineiro de Angical, cidade incrustada no sertão do norte de Minas, foi à exposição graças ao incentivo e o apoio de familiares e amigos. Ficou surpreso com as homenagens que recebeu, as honrarias e referências feitas por pessoas que nem conhecia, de todas as idades, posição social e bem relacionadas no mundo da cultura.

Emocionado, disse que não esperava tanto e não sabia que merecia tudo aquilo. Mas, todos que o conhecem e tiveram acesso, por algum meio, às violas por ele confeccionadas, sabem que todo louvor a ele dedicado é válido e merecedor.

Geraldinho é pessoa simples, mas, um ser humano grandioso, assim como todos da sua família. Sandália nos pés, chapéu na cabeça, o que não lhe falta é disposição e paciência para fazer aquilo que mais gosta: artesanato e música. É mais um personagem a enriquecer o interior brasileiro, de Minas Gerais e da região do São Francisco. É mais um artista desconhecido, longe da fama e do sucesso, porém presente de forma incontestável na rica cultura do povo brasileiro.

Quando apresentou sua primeira viola ao mestre Minervino, Geraldinho ouviu as seguintes palavras: “Eh... O moço aprendeu a fazer a viola”. Essa frase ele não esquece e abre um sorriso ao repeti-la para os amigos e parentes.

E eu acrescento. Ele aprendeu a fazer viola ali, com o mestre Minervino, mas, o talento, já trazia nas veias, no coração e na mente sempre aberta para as artes. Ouçam, no vídeo abaixo, um pouco do talento de Geraldinho do Angical, tocando uma viola por ele construída e acompanhado dos irmãos Batista e Estevão.

A Expo Favela nasce com o objetivo de preparar espaço para que o empreendedor de favela possa ampliar a sua voz, levar para o público suas habilidades e mostrar seus produtos, desenvolvidos em suas comunidades. Então o evento, o espaço, é preparado para receber, conectar e, o que não é menos importante, levantar o seu faturamento e abrir portas para novos negócios.

Geraldinho do Angical aproveitou bem a oportunidade, mostrou seu talento, a qualidade das suas violas e foi visto e aplaudido por um público que gosta e valoriza a cultura brasileira.


quinta-feira, 10 de julho de 2025

Uns setenta e uns de muito amor, poesia e conquistas

Neste 9 de julho de 2025, no meio da tarde de um dia de temperatura agradável, pude comemorar prazerosamente meu aniversário. Não apenas do ponto de vista presencial, mas também no campo virtual, com dezenas de mensagens carinhosas recebidas. Ficarão guardadas para sempre no meu coração.

Aos que me perguntaram – e ainda perguntam – quantos anos fiz, respondo rápido e rasteiro, sem pestanejar.

- Não sei sabe... acho que... hum... uns setenta e uns...

Pouco importa ou me importa seguramente nada. O essencial não é a idade, por quantos anos você está nesta passagem. Interessa mesmo é como vivemos, convivemos e participamos de um mundo, que, cada vez mais, precisa da nossa Presença (assim mesmo, com P maiúsculo). O resto são periféricos, não nos atinge, na medida em que nos afastamos cada vez mais do ponto zero e nos aproximamos a passos largos, porém seguros, de uma outra existência.

Minha mãe Iracema Barroso veio pra cá, nossa casa, comemorar os setenta e uns anos desta existência do seu primogênito. Juntou sua gentileza à da minha mulher Stela e meu filho Jordano. Dona Ira, como a chamamos carinhosamente, sempre foi uma guerreira, vitoriosa, desde muito antes daquele 9 de julho de 1954. Marcou esta comemoração para sempre no calendário dos homens.

Então, para agradecer a todos que me desejaram feliz aniversário, posto um poema e um vídeo musical. Acho que têm tudo a ver com este momento...

Obrigado, meu povo! E sigamos em frente nesta missão de defender e ampliar as diversas manifestações culturais e lutar por um mundo melhor. Os “novos tempos” exigem e cobram nossa Presença, em muitas batalhas.

 

Aniversário
José Carlos Camapum Barroso
 
Aniversário é perda de tempo?
Melhor seria passá-lo ausente,
Distante de tudo, fatos e fotos,
Do angustiante cantar de parabéns,
Das palmas agudas e alucinantes,
Entre apagar de velas e dos tempos...
 
Como lhe dar forma contraída,
Se representa a própria vida!
Não é mero passar de anos,
É superação de desenganos,
Que se tornarão esquecidos,
Entre sonhos, serão bem-vindos...
 
Parabéns pra você, para todos nós,
Nesta data eternamente querida.
Se ela existe, é porque há vida.


quarta-feira, 18 de junho de 2025

"Dia dos Namorados" é um EP romântico e poético

Os lançamentos musicais aconteciam, no nosso tempo (lá no cenozoico), em discos nos formatos compacto simples (duas faixas), compacto duplo (quatro faixas), Long Play (LP) e álbum duplo. Encantavam o mundo dos apaixonados por música. Nos tempos atuais, estão reduzidos a uma mera sigla “EP”, com significado pomposo de Extended Play. Nem vou tentar pronunciar para não ser motivo de chacota dos meus filhos, muito menos terei ousadia para traduzir. O pai dos burros de hoje, o Google, diz ser o mesmo que “Jogo Prolongado”. Então, EP deve ser parente do LP. Sei lá, entende...

Fiz esse nariz de cera por ter tido o prazer de ouvir e conhecer um EP lançado no Dia dos Namorados. O grupo Sarau da Jezebel, que se dedica a juntar música e literatura, gravou e colocou nas plataformas digitais um Extended Play de oito músicas românticas, embaladas em rock psicodélico, MPB e folk. O EP foi realizado no estúdio do Coletivo Gaffurina, na cidade de Uruaçu (GO), com produção de áudio, gravação, mixagem, masterização a cargo de Pedro Rosa (Guitarrista da banda Casulo Fantasma).

Sinvaline, gravando seus aforismos

Dia dos Namorados vai além de uma peça musical, com composições de Rodrigo Kramer e interpretações de sua companheira de vida e de arte Larissa Kramer. Algumas faixas ganharam acréscimos de belos aforismas da escritora e poeta Sinvaline Pinheiro: dois deles (nas músicas Meu Tempo e Sim, Tudo Faz Sentido) com a sua própria voz; e outros dois (nas músicas Juntinhos e Poeta), na voz da jovem artista Valentina Kramer, filha do casal Rodrigo e Larissa.

Os aforismos de Sinvaline, carregados de sabedoria e lirismo, e as intervenções sensíveis e potentes de Valentina criam pontes entre gerações, fortalecendo a proposta do Sarau da Jezebel de unir diversas formas de arte, embalada pela força da resistência e a suavidade do afeto. Nas palavras do músico, escritor e compositor Rodrigo Kramer, “cada faixa é, ao mesmo tempo, um gesto de amor íntimo e uma declaração pública de que o amor, quando verdadeiro, é sempre arte”.

Valentina, com os pais Rodrigo e Larissa

O EP foi lançado de forma híbrida, em plataformas digitais e num evento presencial realizado dia 7 de junho de 2025, no Ateliê Quilombola, em Uruaçu. Está disponível no Spotify, Youtube e principais plataformas de streaming.

Confiram, leitoras e leitores do ZecaBlog. Vale a pena. É uma viagem musical e poética pelo universo do romantismo, que ficou guardado nas velhas prateleiras dos discos de vinil.