quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Seu Pedro e a lenda do Nego D'Água, em Uruaçu

Uruaçu, no interior goiano, é uma cidade de muitas, belas e curiosas histórias. Uma cultura enriquecida pelos diferentes migrantes de todos os cantos do país. Gente que veio com suas lembranças e histórias passadas por seus ancestrais. Pessoas que saíram em busca de uma vida melhor, vindas de todos os cantos e recantos do Norte, Nordeste, Sudeste e, mais recentemente, do Sul do Brasil.

Uma dessas riquezas foi registrada e contada pela amiga, cronista e poeta Sinvaline Pinheiro, que, durante muitos anos, esteve à frente do Memorial Serra da Mesa lá na nossa querida cidade. Atualmente, ela tem um sítio pequeno, chamado Toca Vó Quirina, que serve para a produção comungada de várias espécies, além de ser um espaço de pesquisas e vivências a serviço da comunidade.

 Aconteceu com o Seu Pedro (de chapéu, na foto acima, com o amigo Geraldão), numa de suas idas para pescar no lago. Mas, deixemos que Sinvaline, com seu jeitinho delicado, sensível, todo especial, conte tudo direitinho, sem inventar, nem esconder, nada... 

Nego D’Água de Serra Da Mesa

Sinvaline Pinheiro 

A construção do Lago Serra da Mesa trouxe grande impacto ambiental e social para a região Norte de Goiás, contudo trouxe o turismo, a pesca e, por debaixo dos panos, também fez surgir lendas e lendas... 

O lago cheio, fazendas antigas com suas casas assombradas, cavernas pré-históricas ficaram debaixo do volume imenso de 1.784 km² do espelho d’água. 

Quem perdeu sua terra deu jeito de comprar uma área pequena ou um lote e fazer um barraco ou um rancho, garantindo o local da pesca, principalmente do tucunaré. E esse lote ficou sobre qual casa assombrada? 

Seu Pedro arrumou o ranchinho, fez a cerca e plantou mandioca, milho, pimenta, construiu a canoinha de pau e assim ele se sentia um verdadeiro fazendeiro. 

Todas as tardes, já cansado, entra na canoinha e lá vai ele atrás dos peixes. Certo dia, já com o sol entrando, vê um vulto na água e não entende o que é. 

Rema mais perto e o vulto afunda na água. Pensa que é um peixe grande e amarra a canoa por ali e recomeça a pesca. Para espantar as muriçocas, acende o pito de palha. 

Sobrecarregado de lembranças, se assusta quando a canoa começa a balançar; olha em volta e não vê nada, nem ventando estava. 

E a canoa não parava. Seu Pedro tira o facão e o segura na posição de ataque, seja o que for que aparecesse estava morto. 

Um roncado o faz olhar para trás. Assustado, vê uma mão escura de dedos tortos segurando a canoa para que balançasse mais. 

- Virgem Maria! 

Junto com o grito o facão decepa os dedos que caem na água e pouco a pouco a canoa se acalma. 

Seu Pedro, tremendo, nem conseguia remar para sair do lugar. Procurou vestígios de sangue e nada, só água. 

Criou coragem e remou depressa para o barranco. Já com segurança, na margem, alumiou com a lanterna e viu um pedaço de pele enrugada na canoa. Levou para o rancho e com a luz clara conseguiu reconhecer um dedo magro, escuro e muito enrugado.

Enrolou-o em um pano, colocou-o dentro de uma lata e foi dormir, no outro dia levaria para alguém examinar e descobrir que bicho era aquele que queria afundar sua canoa. 

A noite foi longa, de pesadelos. Lembrava-se das histórias do pai de que no antigo Rio Maranhão existia o Nego D’Água, muitas pessoas chegaram a vê-lo entre os rios Passa Três e Maranhão. Lembrou do Zé contando: 

- Nóis ia atravessando o gado de nado e os canoeiro acompanhano, e os Nego D’Água ia nadando de pareia com o gado! Eles tinha cara de gente e pé de pato igual um reminho. 

Já seu compadre Ademar dizia: 

- O Nego D’Água tem dois fôrgos, um da água e outro de fora, o bicho é brabo! 

O avô descrevia: 

- Os Nego D’Água só tem um zoi grande no meio da testa, ele afoga os pescadô! 

Dormiu variando e mal o dia clareou foi buscar o suposto dedo para levar a cidade de Uruaçu, tinha que tirar a dúvida. 

A surpresa foi grande: a lata tinha sumido com o dedo e tudo! 

Apavorado, ele correu para a cidade e contou a história para muitas pessoas e a confirmação de todos foi a que ele já esperava: 

O Nego D’Agua voltou para a região norte de Goiás, era certo que com a bagunça da construção da hidrelétrica ele tivesse sumido e agora reaparece para vingar os rios represados. Os pescadores que se cuidem!

Seu Pedro coçou o queixo, pensou e disse para a mulher: 

- É, agora eu cridito em Nego D’Água que meu pai contava, por pouco ele não afundou minha canoa... Danado esse bicho!

A mulher fez um muxoxo e completou: 

- É, meu véio, ainda bem que agora esse tar de Nego D’Água vai aparecer mas fartando os dedos... 

E aí a história cresceu, tomou estrada e o fantasma continua aparecendo em várias partes do Lago Serra da Mesa. Os assustados que o veem só ainda não notaram se é o mesmo Nego D’água sem os dedos da mão...


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Arte Urbana nas Escolas encerra a 5ª edição nesta terça-feira

O projeto Encontro de Arte Urbana nas Escolas vai encerrar a sua 5ª edição neste mês de novembro, com visitas a colégios em Ceilândia Norte, no dia 12, e Pôr do Sol/Sol Nascente, no dia 19. Só este ano, esse projeto relevante e audacioso já contemplou nove instituições educacionais no Distrito Federal, com shows de rap e crew de breaking e workshops de grafite, danças urbanas e rap, com destaque para rodas de conversa sobre temas que abordam o mundo da juventude, como bullying, prevenção às drogas, combate à discriminação, cultura de paz e fortalecimento de vínculos.

Além da vivência prática, o objetivo do Arte Urbana nas Escolas é inspirar, capacitar e estimular o protagonismo do jovem, e despertar interesse pelo empreendedorismo através da cultura criativa e solidária. É realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo e Ministério da Cultura com apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal.

Neste mês, o projeto acontecerá no CEF 11 e CEF 32.  Atendendo aos dois turnos das instituições que somam cerca de seis mil alunos, ele é voltado para alunos dos ensinos fundamental e médio, com idade entre 09 e 16 anos, aproximadamente.

A dinâmica tem início com um show de rap e apresentações de uma crew de breaking, abrindo espaço para o conteúdo ministrado pelos arte-educadores. O projeto deixa marcas no coração e mentes da comunidade escolar e, literalmente, no muro da instituição, que recebe a produção em grafitti feita conjuntamente pelos alunos e artistas.


As escolas que recebem o projeto estão isentas de qualquer custo. Foram priorizadas instituições que oferecem atendimento a pessoas com deficiência, ampliando o conceito de inclusão através de equipamentos de áudio descrição, com audiodescritores e tradutores de libras presenciais.

A equipe do projeto é composta por produtores culturais e artistas reconhecidos em suas áreas de atuação e são referências na cultura hip hop. Os workshops serão ministrados por Ravel e Markx (Rap); Will Locking (Dança Urbana) e Elom e Rivas (Grafite).  Segundo a produtora cultural e proponente do projeto, o Encontro Arte Urbana nas Escolas “tem sido um marco nas instituições de ensino públicas do DF, a ponto de sermos procurados por inúmeras escolas que desejam nos receber. Sempre temos essas solicitações em nossos canais de comunicação. Nosso sonho é atender a todos, mas, de edição em edição, vamos alcançando cada vez mais crianças e jovens”.

(Conheça melhor o Encontro de Arte Urbana nas Escolas pelo Instagram)

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Dia de homenagear a maior invenção humana: o livro

Imagem da Folhapress

Esta última quinzena do mês de outubro está sendo tudo de bom e de melhor para quem ama o mundo da cultura. Dia 15/10, foi para homenagearem-se os professores. Depois, dia 20 passado, as honras foram para os poetas, que também serão lembrados depois de amanhã (31/10), quando fazem-se referências à poesia. Na data de hoje (29/10), comemora-se o Dia Nacional do Livro. Harmonia pura.

Nada mais justo e grandioso do que fazermos referência ao livro. É um dia no ano para refletirmos sobre o papel essencial da leitura na formação de cidadãos mais críticos e conscientes. Não apenas pelo livro em si, mas o que ele representa na sociedade, como instrumento de democratização do conhecimento e para a construção de uma sociedade mais justa, bem informada e que seja, de fato, democrática.

A escolha da data é outro aspecto grandioso dessa comemoração. Teve origem no 29 de outubro de 1810, quando foi criada a Biblioteca Real, que viria a se tornar a Biblioteca Nacional (foto acima), fundada a partir da doação da Real Biblioteca Portuguesa, trazida para o Brasil com a chegada da família real em 1808. O acervo inicial da instituição incluía livros, manuscritos e mapas que ajudaram a formar a base do conhecimento científico e cultural da época.

O livro foi a primeira e grande invenção a revolucionar a existência humana. Depois dele, vieram outras tantas e quantas, mas, nenhuma delas tão associada à essência do ser. Alcançamos a capacidade de produzir energia das mais diversas fontes até à colocação de máquinas em movimento, seja na terra, no ar ou mesmo no espaço sideral. Chegamos ao computador e sua capacidade de impulsionar a humanidade por caminhos nunca vistos, nem mesmos imaginados.

Mas, continuo achando que o livro é a maior invenção da humanidade. Minha cunhada, Vênus Mara, de saudosa memória, discordava. Dizia que a maior invenção do homem foi o liquidificador. Depois dele, ninguém mais passou mal ao misturar os mais esdrúxulos alimentos. Até mesmo manga com leite. Tinha lá suas razões...

Saudemos o livro e incentivemos as novas gerações a colocarem essa invenção próxima à mente e colada ao coração. A alma que surgirá daí será infinitamente superior a tudo que vimos e fizemos até hoje.

Beijos no coração! 

Eu livro
José Carlos Camapum Barroso
 
Há um livro em mim
Moto contínuo a impulsionar
O corpo pela imensidão dos tempos.
 
O livro na minha mente...
São células a espalhar sementes
Por um corpo rude, limitado.
 
O livro no coração
É o compasso da extra-sístole,
O descontrole da arritmia...
 
O livro é o bálsamo
De tantas dores contraídas
Em noites obscurantizadas
 
Meu espírito infinito,
O livro é alma que acalma
E transita por tantas vidas.
 

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Movimento de ocupação cultural agita o interior de Goiás

O Movimento de Ocupação Cultural (MOC), realizado pelo Coletivo Gaffurina, desde 2016, para agitar ruas, praças e espaços culturais da cidade de Uruaçu (GO), neste mês de outubro, deu mais um passo para ampliar a abrangência do projeto e torná-lo ainda mais criativo. Foi a primeira edição realizada no formato online, de forma independente e com a participação das bandas que são os pilares do MOC: Casulo Fantasma, Os Hermetistas e W.C. Quem perdeu pode apreciar pelo vídeo do Youtube postado abaixo.

Este ano, o movimento completou trinta edições, ocupando espaços públicos e privados de Uruaçu, como a Feira Coberta, Museu Dom Prada Carreira, Av. Coronel Gaspar, Pousada Brasil, Instituto Federal de Goiás (IFG), Universidade Estadual de Goiás (UEG), Quintal de Ideias, entre outros. O evento promove a música, poesia e artes visuais feitas por artistas locais, além de atividades esportivas com skate, tendo apoio destacado dos skatistas Filipe Maciel e Lucas Fernandes.

Banda Casulo Fantasma

O MOC começou em 2016 como um ensaio coletivo entre bandas independentes. Cada banda trazia seus equipamentos, e juntos realizavam um verdadeiro show, dividindo os tempos de apresentação de forma ordenada e democrática.

Já em 2017, as artes visuais foram integradas ao movimento, com as obras de Stella Cardozo. Nos anos seguintes, a poesia também passou a fazer parte do evento, com destaque para autores como Sinvaline Pinheiro, Shannon de Souza, José Carlos Camapum Barroso (Zeca Barroso), Gabriel Andrade, Leandro Nunes, Jota Marcelo, Maria Aparecida Oliveira (MAOM), Rodrigo Kramer, Meire Carvalho, Carzem, Lucas Barros, Marcos Paulo Paes, Mariano Correia Peres, Ezecson Fernandes, Robson Lousa, Ítalo e Itaney Campos, Josiane Adorno e outros.

Banda Os Hermetistas

Em 2020 e 2021, o MOC teve uma pausa forçada, por conta da pandemia da Covid 19. Retornou em 2022, como um projeto de extensão do IFG – Câmpus Uruaçu. Com isso, o evento continuou a promover a cena underground, destacando bandas como Casulo Fantasma, Os Hermetistas e W.C., além de novos artistas visuais, como Lucas Venícius e Wellington Ferreira, e outros talentos já consolidados na cena local, como Fiim Calazans, Rhauder Prado e Tal Carlos.

No ano passado, o Sarau da Jezebel foi a atração que encerrou as atividades do MOC, em um ano marcado por três ações do projeto. Este ano, a novidade foi o acréscimo do projeto pelo formato online. Os produtores do MOC esperam realizar novas edições, anualmente, mantendo o evento ativo e relevante para a cena cultural de Uruaçu.


Banda W.C.

Formação das bandas do MOC:

Ø  Casulo Fantasma: Larissa Kramer (Voz), Rodrigo Kramer (Baixo), Pedro Rosa (Guitarra), Jullyanno Morais (Bateria).

Ø  Os Hermetistas: Gabriel Andrade (Voz), Leandro Nunes (Baixo), Marcos Paulo Paes (Guitarra), Pedro Rosa (Guitarra), Lucas Barros (Bateria).

Ø  W.C.: João Paulo e Pedro Henrique Godoi (Vozes), Leandro Nunes (Baixo), Pedro Rosa (Bateria).

Ø  O MOC também destaca o apoio técnico e artístico imprescindível de Wendel Max e Richard Faria.


segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Alaíde Costa e Orquestra trazem de volta o Projeto Pixinguinha

O Projeto Pixinguinha está de volta! Depois de 16 anos fora do ar e de ter feito tanto sucesso nas décadas de 1980 e 1990 e nos primeiros anos deste século, o show de retorno do projeto será com a talentosa cantora Alaíde Costa, que estará acompanhada pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, sob a regência do maestro convidado Joaquim França.  

Para ampliar ainda mais o quadro de saudosismos, a apresentação do projeto, agora denominado Bolsa Pixinguinha, será no antigo Teatro Plínio Marcos, que passou a se chamar Eixo Ibero-Americano (Espaço Funarte), localizado no Eixo Monumental de Brasília. A data é 31 de outubro, às 20h. A entrada é gratuita e os ingressos já estão disponíveis pelo Sympla.

Alaíde Costa, aos 88 anos, em plena atividade, selecionou o repertório que apresentará, acompanhada da Orquestra que comemora 45 anos em 2024, neste que será um encontro do cancioneiro brasileiro com a música erudita. Entre as canções, estão “Voz de mulher”, de Abel Silva e Sueli Costa; “Absinto”, de Fátima Guedes; “Aos meus pés”, de João Bosco e Francisco Bosco; “Morrer de amor”, de Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini, “Insensatez”, de Tom Jobim e “Me deixa em paz”, de Monsueto Menezes e Ayrton Amorim.

Foto Samuca Kim

A cantora ressalta que ama cantar com orquestra porque “comecei minha vida musical assim, e o repertório que vou apresentar me deixa mais feliz ainda, principalmente, porque ainda não cantei com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro”.

Sobre a orquestra, é importante ressaltar que além dos repertórios clássicos e eruditos de todos os tempos, destaca-se pela capacidade de abraçar outros estilos. Ao longo de sua trajetória, foram inúmeras apresentações ao lado de artistas populares como Martinho da Villa, Zizi Possi, Tom Jobim, Wagner Tiso, Ivan Lins, Fagner, Fafá de Belém, Sandra de Sá, Bibi Ferreira, Francis Hime, Sergio Ricardo, Toninho Ferragutti, Ed Motta, Spok Frevo, Plebe Rude, Paulinho da Viola, Toquinho e Hamilton de Holanda. Esta junção do clássico e do popular também é uma das especialidades do maestro e arranjador Joaquim França.

“Ao longo da história, a música clássica e a música popular sempre, esteticamente, influenciaram uma à outra nos seus mais variados gêneros musicais” reforça o maestro. Segundo ele, “um músico só é completo quando transita por estes dois mundos. O repertório popular que Alaíde Costa interpretará no concerto caiu como uma luva na formação instrumental de uma orquestra sinfônica, numa clara demonstração de que não deve haver barreiras entre os estilos”. Prevê grandes emoções, principalmente pelo fato de que “estaremos diante de uma das maiores intérpretes da música brasileira, sendo acompanhada por uma das principais orquestras do Brasil”.

O Bolsa Pixinguinha, que ficou com a 1ª colocação da região Centro-Oeste no retorno no projeto Pixinguinha, foi desenvolvido pela GRV Música Media e Entretenimento. “Consideramos este espetáculo como o ponto de partida para as comemorações dos 25 anos da nossa companhia. É uma honra celebrar a qualidade da música do nosso país em um projeto com artistas tão emblemáticos”, afirma Gustavo Vasconcellos, à frente da GRV.

O evento ainda guarda uma feliz coincidência, segundo revela a diretora de Música da Funarte, Eulícia Esteves. “Alaíde Costa, grande nome da música popular brasileira, participou da primeira edição do Projeto Pixinguinha, em 1977, ao lado de Copinha e Turíbio Santos. Hoje, através da Bolsa Funarte de Música Pixinguinha, a Funarte novamente tem a honra de participar deste momento mágico:  o encontro de Alaíde, cantora imensa, com as plateias deste país”.

Serviço:

ü  Projeto Pixinguinha

ü  Alaíde Costa e Orquesta Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro

ü  Eixo Ibero-Americano (Sala Funarte)

ü  31 de outubro, às 20 horas

ü  Classificação indicativa: livre

ü  Ingressos gratuitos pelo Sympla

ü  Produção GRV Música, Media e Entretenimento 

domingo, 20 de outubro de 2024

Dia do Poeta é o ideal para louvarmos o amor

Imagem gerada por IA - @freepik

Este último terço do mês de outubro tem muito a ver com a poesia e os poetas. No dia de hoje (20/10), comemora-se o Dia do Poeta e, no final do mês (31/10), é o Dia Nacional da Poesia. Tenho na poesia a minha cara metade. A outra metade, é a música. São paixões que carrego comigo desde os tempos de criança e pretendo mantê-las ao meu lado, e levá-las para todo o sempre como as grandes, fieis e prazerosas companheiras.

Fiquei muito feliz em saber, recentemente, que a poesia é um dos gêneros literários mais lidos pelos estudantes brasileiros. Outro dado interessante na pesquisa é o que aponta a faixa etária dos 11 aos 17 anos como a que mais lê poesia no Brasil. Então, estamos salvos. Nem tudo está perdido num país que, de 1º de janeiro de 2019 a 31 de dezembro de 2022, fez clara e contundente opção pelo armamentismo, como instrumento maior do discurso de ódio.

Prefiro ficar com os ensinamentos do filósofo grego Platão. Ele nos ensinou que “não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o amor toma conta dele”. Prefiro o amor, ao discurso do ódio. Troquemos as armas pela pena, a caneta, ou, sendo mais atual, pelos teclados e telas digitais dos aparelhos modernos.

Podemos somar a esse pensamento do mestre Platão, a interessante afirmação do cineasta Woody Allen de que “talvez os poetas estejam certos; talvez o amor seja a única resposta”. Pode não ser a única, mas a mais contundente e realizadora, de forma suave, doce, delicada, sem perder a ternura, jamais.

Num mundo marcado pelo desamor, pelas guerras (frias e quentes), por pandemias, desastres climáticos, pela presença constante do ódio e do preconceito, com certeza, a única boia salva-vidas é o amor, no seu sentido mais amplo e irrestrito.

O Dia dos Poetas foi escolhido por uma razão bastante especial para os brasileiros. No dia 20 de outubro de 1976, em São Paulo, surgia o Movimento Poético Nacional, na casa do jornalista, romancista, advogado e pintor brasileiro Paulo Menotti Del Picchia. A data homenageia e lembra este momento ímpar para os poetas do Brasil.

Nesta data, as homenagens e os agradecimentos são dirigidos àquelas e aqueles que usam a palavra para acalmar os espíritos, destacar a beleza, confortar os aflitos e revelar os sonhos.

Poetas somos todos que temos amor no coração e bondade na alma. Platão estava certo. Woody Allen, também. Então, saudemos os poetas. Porta-vozes do amor, que é a porta de entrada para a felicidade

terça-feira, 15 de outubro de 2024

Dia de lutar pela educação e saudar os professores

A vida ruim e difícil para os professores e, principalmente, para as professoras está nas origens da história dessa profissão no Brasil. Mais precisamente no dia 15 de outubro de 1827, quando Dom Pedro I assinou um decreto que criava o Ensino Elementar no país. Considerado um marco histórico, o decreto estabelecia regras para a educação básica no Brasil, determinando, por exemplo, a criação de escolas em todas as vilas e cidades do país.

Mas, sempre tem um porém. Nas entrelinhas, sob o discurso de que se estava democratizando o ensino, determinava que os meninos tivessem acesso à leitura, escrita, operações básicas de cálculo e noções de geometria. As meninas, bem... continuariam com acesso negado à educação formal. Afinal, não havia “ambiente” para uma democracia tão radical.

De lá pra cá, a vida e o trabalho dos professores e professoras não foram fáceis. Remuneração baixa, direitos poucos e reconhecimento quase que nenhum quanto a importância do ofício, infraestrutura e condições de trabalho precárias. Várias gerações foram testemunhas da grandeza do trabalho dos mestres na educação de seus filhos. Esses mesmos pais, famílias, ao longo dos anos, também acompanharam as dificuldades enfrentadas por esses profissionais para o exercício de ofício tão nobre. Muito pouco se fez ao longo de décadas, séculos...

Cem anos depois da assinatura do decreto por Dom Pedro I, em 1947, o professor Salomão Becker, junto com colegas do Ginásio Caetano de Campos, em São Paulo, teve a ideia de criar uma data para celebrar os professores. O dia escolhido foi 15 de outubro, em homenagem à criação do ensino básico em nosso país. Desde então, a data se popularizou, sendo reconhecida oficialmente como o Dia dos Professores no Brasil apenas no ano de 1963, por meio de um decreto federal.

No ano seguinte, foi dado o golpe militar contra a democracia brasileira. Muitos professores foram afastados do ofício, presos, torturados ou mortos nos porões da ditadura, principalmente, os mestres universitários. Ditadores não gostam de educação, nem de cultura. Depois da redemocratização, em 1988, a nova Constituição estabeleceu avanços e reconhecimentos aos profissionais da educação.

Alguns governos procuraram valorizar o ofício dos mestres. Outros, muito pelo contrário, como a gestão do período de janeiro de 2019 a dezembro de 2022, que fez tudo que estava ao seu alcance para desvalorizar a educação e a cultura. Foi uma sucessão de ministros caricatos, incompetentes, irresponsáveis, que tanto atraso impuseram para essas duas áreas do saber no Brasil.

É fundamental reafirmamos a importância dos professores para buscarmos uma sociedade mais justa, desenvolvida e verdadeiramente democrática. Investir em educação é investir no futuro da Nação. Os professores são a chave para esse processo. Celebremos do dia do hoje, valorizando os mestres, ampliando nossa luta por uma sociedade melhor.

Viva as professoras e os professores! A razão maior de evoluirmos. 

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Em nova fase, Dre Sarkis lança a música Confusão Mental

Está disponível, desde as 12h desta sexta-feira (11/10), a canção de uma nova etapa na carreira da artista Dre Sarkis. Confusão Mental é a primeira gravação da cantora em português, como parte de um trabalho produzido por Leo Pinotti, em São Paulo, que contempla outras 15 músicas, e um videoclipe, gravado em Brasília, com roteiro da artista e direção de Rui Skull.

A canção fala de decepção amorosa, sofrimento, perda, desespero, dúvidas, medos e inseguranças. Já o videoclipe busca retratar o desespero, a solidão e a angústia de lidar com o peso de uma situação que não se resolve, causando imenso sofrimento, com ênfase na dor da perda, no sentimento de dependência emocional. Enfim, uma grande confusão mental.

Aos 23 anos e com uma trajetória musical que começou há mais de uma década, Dre Sarkis entra em uma nova fase de sua carreira. Com quatro singles lançados entre 2019 e 2022, todos eles em inglês, a cantora e compositora passou boa parte de 2024 às voltas com a produção e gravação de várias músicas em português.

Brasiliense, ela explica que começou a praticar inglês na infância e “como algumas das minhas maiores influências cantavam em inglês, acabou sendo natural usar o idioma. Mas chegou a hora de falar mais sobre os meus sentimentos e expressar, na minha língua, o que há de mais profundo em mim”.

A artista tem como principais influências musicais Adele, Taylor Swift, Amy Winehouse, Miley Cyrus, Giulia Be, Billie Eilish, Michael Jackson, entre outros artistas. Formada em Publicidade e Propaganda, a cantora está perto de se graduar no curso de Jornalismo. Dedicou os últimos cinco anos aos estudos, tocando a vida artística, paralelamente. O momento de investir na carreira, em sua avaliação, chegou.

Tudo indica que sim. Além da segurança na interpretação de sua bela voz, sempre carregada de emoção, uma das características marcantes do seu trabalho é a conexão plena com a realidade ao abordar em suas letras experiências pessoais, sem receios de abordá-las com franqueza.

A artista lembra que sempre esteve conectada com os seus artistas preferidos a partir de suas interpretações, e é esse tipo de troca que ela busca desenvolver com quem ouvir sua música. “Tem sido incrível poder cantar, compor, gravar e estar imersa em toda essa colaboração, então é algo que eu realmente desejo que toque as pessoas”, acrescenta Dre Sarkis, reforçando que “a música ocupa uma parte enorme da minha vida e é fundamental na travessia de tantos desafios”.

 
Ficha Técnica:
Composição: Dre Sarkis
Intérprete: Dre Sarkis
Direção Musical: Leo Pinotti
Produção musical: Leo Pinotti
Arranjo: Leo Pinotti
Edição: Leo Pinotti
Selo/distribuidora: Dre Sarkis

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Sérgio Ricardo, um gênio, fez muito mais que quebrar um violão

Foto Conteúdo Estadão/Arquivo

Estão fazendo, neste mês de outubro, 57 anos daquela noite inesquecível, sobre vários aspectos, em que o músico, compositor, cantor, ator e cineasta Sérgio Ricardo quebrou seu violão no palco e o atirou na plateia. Ele apresentava, ou melhor, tentava apresentar sua canção Beto, Bom de Bola, mas desistiu por que as vaias não permitiam que ele ouvisse a própria voz e muito menos os instrumentos que o acompanhavam.

-- Vocês venceram, vocês venceram! – disse repetidas vezes o artista Sérgio Ricardo, de nome de batismo João Lufti, nascido em Marília, interior de São Paulo, e descendente de pais sírios. Ato contínuo, quebrou, no palco, o instrumento que tanto apreciava e executava com maestria, atirando os restos mortais contra o público.

Foi desclassificado do III Festival da Canção da TV Record e o episódio marcou sua vida artística para sempre. Serviu para tirar, em parte, o brilho de um carreira marcada pelo talento, sensibilidade à toda prova e um visão de mundo fundamentada, acima de tudo, no humanismo. Sérgio Ricardo fez e interpretou canções belíssimas, foi um exímio pianista, inclusive ocupando, na boate Posto 5, em Copacabana, o lugar de ninguém menos do que Tom Jobim, de quem ficou amigo.

Foto Estadão Conteúdo/Arquivo

Ainda como João Lufti, compôs canções para o piano, passando a escrever letras e a cantá-las na boate. Seu talento só chamou a atenção do público brasileiro - que, naquela época, ao contrário dos tempos atuais, era muito exigente -, quando Maysa gravou sua bela canção Buquê de Isabel.

Conheceu João Gilberto, na casa de Nara Leão, pra onde foi levado por Miele. Mergulhou, então, nas águas profundas e melodiosas da Bossa Nova. Era o ano de 1958, e embalado por esse movimento, lançou o disco A Bossa Romântica de Sérgio Ricardo, que tinha como carro-chefe a música Zelão, que, bem ao estilo do autor, protagonizou a polêmica sobre a falta de engajamento do universo bossanovista. Chegou a lançar mais um disco nesse estilo: Depois do Amor. Mas, deu-se o que todos já pressentiam. O cantor e compositor deixou a Bossa Nova.

Enveredou-se pela arte do cinema, depois de adquirir boa experiência trabalhando como ator em televisão. Roda seu primeiro curta-metragem Menino de Calça Branca, que o aproxima da turma do cinema-novo, entre eles, Glauber Rocha. Em 1963, compôs a trilha sonora para Deus e o Diabo na Terra do Sol, e, em 1966, as canções para Terra em Transe.

Foto: Iugo Koyama/Estadão Conteúdo/Arquivo

Passou um período em Nova Iorque, quando tocou no histórico festival da bossa nova, no Carnegie Hall. Ficou oito meses procurando um produtor para seu curta-metragem e se apresentando, ao piano, em boates, como Village Vanguard. Voltou ao Brasil e foi contratado por Aloisio de Oliveira para os estúdios da Phillips, onde grava seu terceiro LP Um Senhor Talento, com canções belíssimas como Folha de Papel, Esse Mundo É Meu, Enquanto a Tristeza Não Vem, Barravento e A Fábrica.

Pela Phillips, ainda gravou A Grande Música de Sérgio Ricardo, com canções inéditas e de trilhas sonoras que fizera com Gláuber Rocha, Chico de Assis e Joaquim Cardoso. Com este último, uma curiosidade: compôs a canção Bicho da Noite, que vai aparecer, em 2019, no filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dorneles.

 Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo/Arquivo

Nos anos 1970, lançou o LP Arrebentação e o longa-metragem A Noite do Espantalho, com atuação dos pernambucanos Alceu Valença e Geraldo Azevedo. Com Aldir Blanc, Jards Macalé e Maurício Tapajós, fundou a Sombrás, sociedade criada para representar os músicos em direitos autorais. Nessa época, enfrenta a censura e lança, com o poeta Thiago de Melo, o show Faz Escuro Mas Eu Canto, que tive o prazer e a honra de assistir, em Brasília.

Nas décadas seguintes, antes de terminar o século XX, fez parcerias com o pessoal do Pasquim, lançou o disco Flicts com canções para a obra do amigo Ziraldo. É dessa época também o LP Juntos, com ninguém menos que Geraldo Vandré. Estavam ali dois expoentes da então chamada música de protesto, ou engajada.

Foto: Divulgação

O século XXI é marcado pelo esquecimento desse extraordinário músico e talentoso compositor. Muito se falou sobre o episódio do violão quebrado no Festival da Record, mas, pouco ou quase nada, sobre a extraordinária carreira desse artista talentoso chamado Sérgio Ricardo. Um gênio.

Morreu aos 88 anos, em junho de 2020. Se estivesse vivo, estaria completando, este ano, 92 anos de idade. Uma pena. Teríamos a oportunidade de referenciá-lo e agradecer por tudo que fez pela cultura brasileira.

Obrigado, Sérgio (Ricardo)! Obrigado, João (Lufti)! 


domingo, 6 de outubro de 2024

Muito calor é dia para o capeta buscar "almas"

Lúcifer saiu pra pescar novas almas por volta de dez horas da manhã. O sol ainda estava ameno, mas, no ar seco e de calmaria, respirava-se a certeza – mais uma! – de que o dia seria abrasador, bem em conta. Era agosto, sexta-feira 13, e o bairro escolhido foi o Altos da Glória, na região norte de Cuiabá, Mato Grosso. Altos da Glória... satanás adorava esse nome... Desafiador.

Pensou, inicialmente, em fazer um tour pelo Lago Norte, em Brasília, mas foi dissuadido por seu assessor de imprensa sob o argumento de que “aquela região já é nossa, temos que buscar eleitorado novo”. Aquiesceu aos argumentos do dito-cujo, sujeito mau, feio, mas, muito inteligente. E era o cara que fazia pesquisa de opinião pública pro regime do inferno desde que acenderem-se as primeiras brasas por aquelas bandas. Além do mais, pensou, acariciando os botões vermelhos da capa preta, aquele bairro tem muita autoridade, jornalistas, músicos e a maioria já chegou à terceira idade, já estão na hora de vir mesmo...

Belzebu, que disputa com ele o poder há milênios, ficou rezando, ou melhor, desejando prazerosamente para que a escolha fosse a pior possível. Quanto pior, melhor!

Indivíduo experiente, Lúcifer, decidiu seguir os conselhos do dito-cujo, também conhecido na região, por beiçudo. Afinal, Cuiabá bate o recorde de calor seguidamente há anos. Clima seco, incêndio por todos os lados, melhor que isso só uma piscina de larvas de vulcão, mas, já não as fazem como antigamente...

O primeiro voo-caça, rasante, inspirado no morcego Batman, aquele puxa-saco que vive pendurado nos dentes do Tristão, foi decepcionante. Uma mocinha, jovem e faceira, estava usando um crucifixo no peito. O segundo também não foi lá uma boa tentativa. O rapaz tinha acabado de sair da missa, onde comungara e a hóstia nem dissolvera por completo. O terceiro foi uma decepção total. O cidadão era pastor de almas e carregava, ajustado debaixo do braço, um livro dito “sagrado”. A tentativa seguinte foi meia-boca, e o rabudo não gosta desse termo. O sujeito carregava, na mochila, o que lhe pareceu ser uma garrafa de água-benta, apropriada para refrescar os cristãos em dias de calor, com efeito colateral próprio para espantar maus-olhados.

O tentador já estava perdendo a esperança, coisa que, historicamente, nunca lhe rendeu bons frutos. Até que avistou um sujeito franzino, calvo, meio encurvado, andando em zigue-zague, a rua pra ele estava estreita... bastaria um sopro de filhote de lobo-mau pra jogá-lo por terra. O cidadão usava boné com uma estrela e camiseta vermelha...

Companheiro? Será? Pensou, reflexivo, o tição. Mas, seus muitos anos de estrada lhe ensinaram alguma coisa. Aquilo era gente do outro lado disfarçado pra enganar o diabo. Todo feito de Fake News esse cabra! Falso-amigo até o último dos poucos fios de cabelo que ainda lhe restam. Isso é fascista da melhor espécie para queimar no fogo bom nas profundezas do submundo.

Pensou rápido e resolveu se transformar no ídolo maior da extrema-direita, que tanto sucesso faz por aquelas bandas do agronegócio. Não deu outra. O cabra entregou-se, ajoelhou-se, levantou as mãos para o céus, e gritou feito um tresloucado sobrevivente do oito de janeiro:

-- Mito, Mito, Mito! Mil perdões! Estou usando esse disfarce para não ser alcançado pelas garras do malvado, que está de plantão nesses dias de muito calor!

-- Não tô acreditando muito nessa conversa, não, tá okay! Bonezinho de estrela, camiseta vermelha... nada de verde e amarelo, e ainda segurando uma garrafa de Ipioca! Cachaça do Nordeste, pô! Se fosse pelo menos uma de Pirassununga...

-- Não mestre, me perdoe – disse com a voz trêmula e gotas de lágrimas saindo pelos cantos dos olhos. -- Isso daqui é água benta! Acabei de colher na pia batismal do bispo Ed Ir Mais Cedo! Toma um gole pro senhor mesmo constatar...

Prenhe de razão, senhor de si, o canhoto virou a garrafa com gosto de fazer inveja ao melhor dos cachaceiros da região de Uruaçu, Goiás, onde o pior bebedor nunca tomou um gole de cachaça atravessado.

Deu ruim! Era água benta mesmo! O exu começou a se contorcer de dor, foi engiando, minguando, virando pó até desaparecer por completo. Pra glória dos moradores daqueles altos, nunca mais foi visto por ali.

Moral da história: Mais vale uma fake news no corpo do que dez perambulando pelas redes sociais.