Além de um extraordinário poeta, era
advogado e fazendeiro. Cresceu brincando de pés descalços, no terreiro em
frente à sua casa, em meio a coisas “desimportantes” que viriam a marcar sua
obra, expressa em 18 livros publicados.
O apanhador de
desperdícios
Manoel de
Barros
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Seus textos são originais e sua poesia
reconhecida nacional e internacionalmente. João Guimarães Rosa, um dos
escritores mais originais da literatura mundial, que fez uma verdadeira
revolução na prosa brasileira, disse certa vez que o texto de Manoel de Barros
era um “doce de coco”.
Sobre sua obra, Manoel de Barros dizia que a
considerava difícil, embora usasse palavras fáceis. Explicava que seus poemas descrevem
imagens, e elas não seguem uma linha reta. Não gostava de dar entrevista
gravada. Não porque desconfiasse da seriedade dos jornalistas, mas porque tinha
medo da palavra falada. Sempre lembrava um ditado chinês que dizia o seguinte: “A
palavra falada não tem pudor”.
Teve forte participação política. Leu
Karl Marx e fez parte da Juventude Comunista. Tinha grande admiração por Luiz
Carlos Prestes até o dia em que ouviu o discurso do Cavaleiro da Esperança,
logo após ter sido solto, depois de dez anos de prisão. Resumiu assim o
episódio que o afastou definitivamente da política: "Quando escutei o
discurso apoiando Getúlio — o mesmo Getúlio que havia entregue sua mulher, Olga
Benário, aos nazistas — não agüentei. Sentei na calçada e chorei. Saí andando
sem rumo, desconsolado. Rompi definitivamente com o Partido e fui para o Pantanal".
Sempre preferiu o anonimato e atribui
a si mesmo a culpa por essa condição. Conta que sempre foi muito orgulhoso, “nunca procurei ninguém, nem frequentei
rodas, nem mandei um bilhete. Uma vez pedi emprego a Carlos Drummond de Andrade
no Ministério da Educação e ele anotou o meu nome. Estou esperando até hoje".
Que lindo poema! A cara Dele!!!!
ResponderExcluirLinda homenagem!