Quando nasci, o mesmo anjo que observou a chegada de Carlos Drummond de Andrade a este mundo estava de plantão. Ele disse com aquela mesma falta de criatividade de outrora: Vai, José Carlos, vai ser gauche na vida! Anjinho safado esse chato do querubim, como diria Chico Buarque de Holanda.
Que vaticínio! A tal da timidez resolveu
me perseguir pela vida afora. E não adianta espernear, plantar bananeiras,
correr que nem saci Pererê.... Ela não sai pelos poros.
Drummond pelo menos teve a capacidade e
o talento de tornar-se o poeta maior da literatura brasileira. Chico Buarque faz
sucesso, merecido, em prosa, versos e melodias.
Cá com meus botões, pensei: o que vou
fazer na vida para compensar tanta incapacidade, essa enorme falta de aptidão
para olhar o mundo e ser visto por ele?
Até tentei, ousadamente, fazer poesias, mas os mal traçados versos não conseguiram extrapolar a moldura que cerca os quatro lados da folha de papel. No campo da música, percebi logo ser mais um belo e tenaz apreciador do que um, pelo menos, mediano executor. Percebi que os dois brasileiros citados acima não conseguiriam abrir caminhos...
Então, vislumbrei uma outra
possibilidade. Cercar-me de amigos por todos os lados. Com eles, poderia
enfrentar os desaforos da vida, talvez até mesmo aquela brisa gelada da indiferença
dos homens cercados por poucos amigos, muitas ambições e total desprezo para com
os que sonham.
Então, fez-se a luz. E Deus mostrou que não havia me abandonado pelos caminhos tortuosos que formam a vida. Deve ter sido uma sensação semelhante àquela que Drummond sentiu quando formulou os primeiros versos. Com certeza, conscientizou-se logo: Deus existe. E nem precisou rimar mundo com Raimundo. O mesmo deve ter ocorrido com Chico Buarque quando viu Januária na janela, que simplesmente esperava a banda passar. Pode encher sua estrada da vida de caros amigos.
Aos 61 anos, percebo que uma das maiores
conquistas desse uruaçuense da gema, criado às margens do córrego Machombombo,
talvez tenha sido a capacidade de fazer amigos, juntá-los, agregá-los e
mantê-los sempre por aqui: do lado esquerdo do peito, com bem disse Milton
Nascimento.
Aos amigos
José Carlos Camapum
Barroso
Aos amigos,
tudo
Aos inimigos,
nada
Que não possa
Torná-los
verdadeiros
Amigos do
amanhã.
Para guardar
amigos,
Trago o coração
E a mente,
abertos;
Mãos e os
braços
Sempre por perto;
Os pés e as
pernas
À disposição...
Amigo do
inimigo
Traz sempre em
si
Boa dose de
perdão...
Inimigo do
amigo
Um dia ainda
consigo
Mudá-lo de
posição.
Amigo é pra se
guardar
Debaixo de sete
chaves
No cofre dos
segredos
Distante dos medos
Que habitam a
solidão.
Então, o anjo
torto,
O chato do
querubim
Estará longe de
mim
E perto da
imensidão...
Do grande amigo, Nélio Bastos, recebi o seguinte e-mail:
ResponderExcluirZé Carlos, grande amigo!
Você pegou um pouco da safadeza do Anjo que lhe viu nascer e a usou com maestria; o desafino ficou mesmo só na voz. Na vida, você não sai do tom, e, no quesito “amigo”, você sempre tirou a nota dez. Na expressão de alma, deixe a modéstia de lado, Você é poeta e dos bons.
PARABÉNS!!!! SEJA FELIZ NESSES 61, BEM MAIS DO QUE VOCÊ O FOI NO TEMPO QUE LEVOU PARA CHEGAR ATÉ ELES.
GRANDE ABRAÇO! E PORQUE NÃO, NESTE DIA, GRANDE BEIJO TAMBÉM!!!!
Não seja tão humildo, José Carlos. Você tem o talento de criar imagens e sentimentos através de seus poemas. Você não é Carlos Drummond de Andrade mas é Zé Carlos, para mim é muito, muito mais que do Carlos Drummond, tão famoso seja, pois eu conheço pessoalmente seu calor humano e o seu jeito de viver a sua poesia. Eu estou só esperando um um livro recolhendo estas poesias para saborear melhor a felicidade de poder lhe admirar, como Zé Carlos, único e original.
ResponderExcluirValeu, Jean-Marie, obrigado pelas suas gentis palavras e por mais uma participação aqui no blog.
ExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirDa amiga Selma Santos, recebi o seguinte comentário por e-mail:
ResponderExcluirSerá se estamos nesse rol de amigos seus? Quisera eu ter um pouquinho de seu talento para que pudesse expressar tão bem esse sentimento de amizade que aflora no ser. Parabéns! Esse anjo torto deve ter se endireitado quando leu seu blog. Abraços.
A vida deve ser como as rosas que mesmo entremeadas de espinhos, florescem numa perfeita harmonia e beleza.
Selma
Selminha, sempre atenciosa e cordial. Obrigado por mais essa participação. Grande abraço.
ExcluirQue lindo Zé!!! Viva o nosso poeta!
ResponderExcluirValeu, obrigado.
ExcluirAgora sei porque a Revolução Constitucionalista de 32 deixou de ser uma data importante há 61 anos atrás. Grande abraço, Zezão!
ResponderExcluirGrande abraço. E muito agradecido pela gentil participação aqui no blog.
ExcluirAmigo, esse anjo torto o levou por caminhos incomuns, mas não retirou sua humanidade nem o seu lado angelical. E impregnou seu coração de afabilidade, sem prejuízo do senso crítico. E da molequice sem maldade! E nós sabemos: melhor ser gauche que extrema direita! Rs..
ResponderExcluirObrigado pela participação e as palavras carinhosas.
ExcluirVocê é surpreendente, a cada dia!
ResponderExcluirObrigado! Muito agradecido pela participação no blog.
ExcluirVc é o máximo! ❤️
ResponderExcluir