O amigo Jorge Luís Fernandes de Carvalho – um dos melhores amigos que consegui conquistar nesta existência (espero ter outras!) – fez-me uma sugestão, certa vez: escrever aqui no blog sobre meu pai Juarez Camapum Alencar.
Tarefa difícil. Por razões
diversas de foro íntimo, e pelo fato de ele não estar mais entre nós. Aceitei
como se aceita um desafio. Então, façamos algumas reflexões que talvez nos
ajudem a entender certas idiossincrasias da condição humana.
Dizem que pai é quem cria. Isso
é uma meia verdade. Meu pai teve uma participação pouco relevante na nossa
criação, mas nunca deixou de ser nosso pai. Pela razão pura e simples de que
foi ele quem nos gerou, razão umbilicalmente associada ao fato de ter sido uma
pessoa boa, de bom coração, manso de alma e despojado de ambições.
Talvez não tenha participado
ativamente da criação justamente pela absoluta ausência de ambições. Teve,
durante toda sua existência, dificuldades para enxergar o mundo como um espaço a
ser preenchido por conquistas, realizações e atividades de naturezas diversas –
laborais, familiares, culturais, esportivas etc. Para ele, bastava existir.
As razões podem ter sido
psíquicas, fisiológicas, de criação... sabe-se lá. Opiniões de profissionais
que o examinaram, ou que o acompanharam, foram muitas e divergentes. A verdade
é que sempre esteve ausente, distante desse mundo, das coisas que movem nossa
existência, entre elas a de participar da criação dos filhos, por exemplo.
Não há mágoas, nem
ressentimentos. Muito pelo contrário. Todos nós lá em casa, os quatro filhos e
minha mãe, gostávamos dele e lembramos da sua existência com carinho. Deixou
saudades, sim, e não há contradição nisso. Ele sempre esteve na nossa presença,
embora ausente das coisas deste mundo, fossem elas boas ou ruins. Em outras
palavras, não foi relevante na nossa criação, mas também não nos deu as
costas...
Dona Iracema cuidava do seu
Juarez como se cuida de uma criança. Víamos nosso pai como um filho de nossa
mãe, embora não o enxergássemos como irmão, mas sim como pai, mesmo. Portanto,
a máxima de que “pai é quem cria”, de fato, é apenas uma meia verdade. Quem
ajudou na nossa criação foi o meu padrinho João Batista Coelho Barroso, um pai
para todos nós e não apenas para o seu afilhado. Atualmente, enfrenta
dificuldades de saúde.
Rendo minhas homenagens a
meu pai Juarez, meu pai Batista e a todos os pais que assim se considerem e que
assim sejam vistos pelos filhos. Amém.
Canção dos pais
José Carlos Camapum Barroso
Ser pai é padecer no paraíso,
Quando for preciso ser mãe,
Onde não basta ser pai...
É pouco apenas participar!
Ser pai é expulsar da alma
Toda a dureza do coração,
A fraqueza do sim e do não,
A certeza de que não há talvez...
É preciso ser filho outra vez...
Avô, amigo e irmão.
Ser pai...? Como sabê-lo
Se nem conhecemos o ser?
Não há varinha de condão!
É vestir-se de humildade,
Beber o vinho da caridade
E suplicar pelos filhos
Que, um dia, pais serão.
Ser pai não apenas quando
O filho estampa sucesso...
Mas quando se esvai,
Desce a vida pela contramão.
Ser pai: ontem, hoje, sempre.
Ser pai! Eis é a questão.
Excelente texto! E de uma sinceridade que não ofende ninguém. Venceu o desafio!
ResponderExcluirGrande Nelsinho, obrigado pelo carinho e pela participação.
ExcluirTá vencido. E tá bonito. Grande Zé, por dentro e por fora.
ResponderExcluirValeu, Tuim, obrigado. Você sempre atento às coisas do blog.
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