terça-feira, 15 de março de 2016

Faz escuro, mas Thiago de Mello ainda canta...


Amadeu Thiago de Mello, ou simplesmente Thiago de Mello, é um poeta amazonense, nascido na cidade de Barreirinha. Seu nome está liricamente vinculado à luta pela liberdade e contra qualquer tentativa de opressão. É bom que neste mês de março tenhamos oportunidade de comemorar os 90 anos de existência desse brasileiro tão distinto. Março é sempre um mês de nuvens pesadas, densas e assustadoras, capazes de cobrir o Brasil de leste a oeste, de norte a sul, com presságios nada alvissareiros.
Foi assim em 1964, às vésperas do golpe militar que faria Thiago de Melo, e tantos outros talentos, buscar refúgio no asilo político. O poeta amazonense foi para o Chile, onde tornou-se amigo de Pablo Neruda e foi capaz de sobreviver, mesmo sendo preso e ameaçado de morte, a mais um golpe militar bem ao estilo latino-americano. Foi dessa forma naquele ano e está sendo assim neste mês de março, em que manifestantes têm a petulância de exibir cartazes pedindo a volta dos militares.
Estatuto do Homem, Faz Escuro, Mas eu Canto e a Canção do Amor Armado talvez sejam os poemas mais engajados de Thiago de Mello e que maiores repercussões alcançaram fora do Brasil. Numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Thiago de Mello fala sobre o que representa o levantar de vozes a favor de um golpe: “... acho que é fruto da deseducação do Brasil”.
É sempre bom relembrar poetas como Thiago de Mello. Seus versos, seus sonhos e sua utopia continuam em volta dele, do mundo que construiu e que preserva mesmo enfiado no coração da floresta amazônica. Na entrevista citada, o poeta disse mais uma frase lapidar e bem significativa para o momento atual: “Hoje, quem não escolher a utopia corre o risco de cair no apocalipse”.
Façamos nossas homenagens aos 90 anos de Thiago de Mello, para que ele e os seus sonhos perdurem pela eternidade. De minha parte, ofereço os versos abaixo dedicados aos poetas. E, a seguir, o conjunto Tarancón cantando os versos de Madrugada Camponesa.
É... faz escuro, mas pelo menos ainda estamos cantando...

PS - Thiago Barroso meu sobrinho querido ganhou esse nome em homenagem ao poeta.

Aos poetas
José Carlos Camapum Barroso

Somos poetas,
Maior ou menor,
Não importa.
Neste mundo,
Tal dimensão
Não existe.
Subsiste
Apenas a dor,
Alegria contida
Num mar de amor.
Sorriso franco,
Fala mansa,
Olhar distante...
E observador.

Poetas, somos,
Como Drummond
Nos ensinou...
Ferro de Ferreira,
Bandeira à mão,
Pena nos dedos,
João no coração.
Thiago a cantar,
Lanterna à mão,
Versos na escuridão.

Somos poetas
Enquanto durar:
Dor de injustiça,
Guerra pela paz,
Fome de comer,
Sede de beber,
Razão para viver...

Poeta, somos,
Seremos, sempre,
Enquanto ser.



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