terça-feira, 17 de novembro de 2020

O pequeno grande livro de Beth Fernandes

 

Só um ano depois do lançamento do livro De Ponta-cabeça, da jornalista Beth Fernandes, tive a oportunidade e o prazer de conhecê-lo e poder mergulhar, como o título sugere, de corpo e alma nessa obra feita no formato “de bolsa” mas que tem o tamanho do coração de poeta.

A pista de que o leitor não fará um mergulho no escuro, de ponta-cabeça, está logo no prefácio do sempre nosso professor Climério Ferreira, músico, poeta, cantor e compositor. “De ponta-cabeça é que o poeta se lança na vertiginosa aventura lírica na companhia de seus leitores ávidos dessa emoção solidária”, define Climério.

E haja coração para tanta emoção! Em doses curtas, objetivas, sem perder a linguagem poética, lírica, Beth nos faz viajar por temas tão próximos do cotidiano das pessoas, como as estações, as andanças, as madrugadas, noite de lua cheia, presenças e ausências.

É o mundo visto pelo olhar feminino de alguém com extraordinária sensibilidade para as coisas da vida. Fica claro que as mulheres são o ponto central dos poemas que permeiam o livro. A autora diz que a mulher “ora apaixonada, ora ocupada nas multitarefas, ora decepcionada, ela segue, sempre”. Ressalte-se também que De Ponta-cabeça “é um resumo da resistência que seguimos sendo, desde o nascimento”.

Beth começou a escrever aos 13 anos e diz que acumula escritos desde aquela época. Começou a ter apreço pela leitura bem antes, aos quatro anos de idade. Está em permanente sintonia com a arte de escrever. Como ela mesma diz: “seja como jornalista, poeta, prosadora, as letrinhas povoam meu cérebro e pedem para sair”.

Letras, palavras, frases e versos que saem e contam, mostram, o que se passa na alma das mulheres e destacam a capacidade de resistência que vem desde o nascimento.

"As poesias contam o que se passa na alma, na fantasia, no dia a dia da mulher que tem mil funções e mil faces, que só ela conhece. Pode ser o cheiro bom da casa, pode ser a saudade doida acordada por um fio de barba esquecido na pia, pode ser a música dos passarinhos", descreveu a autora em entrevista ao Correio Braziliense por ocasião do lançamento do livro.

Recomendo esse pequeno grande livro de Beth Fernandes às amigas e aos amigos aqui do blog. Podem mergulhar de ponta-cabeça como fez a autora. Voltaremos todos à tona bem mais felizes, engrandecidos, peito reconfortado e alma lavada.

Isso é poesia.

Noite de Lua
Beth Fernandes

Como posso ser triste
se a luz me clareia
quando invade o quarto,
se esparrama na cama
e faz da insônia
alegre vigília.
Como posso ser só
se a luz me atiça
tal amante dedicado,
percorre pele e pelos
e faz da vigília
festa dos sentidos.
Como posso ser uma
se a luz me penetra
explode em fragmentos
dissolve o corpo
e faz da fêmea
sete cores de arco-íris.


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