domingo, 30 de maio de 2021

O passar da boiada visto na mesa de bar

Augustinho chegou chateado e revoltado para o encontro com os amigos no bar, numa bela sexta-feira em que as portas se abriram depois de meses fechadas por causa de mais um lockdown pandêmico. Era para estar alegre, mas veio soltando fogo pelas ventas e cuspindo brasa.

- Esse ministro do meio ambiente é um crápula! – gritou, sentando-se, puxando um copo pra encher de cerveja e sem cumprimentar a galera.

- Poxa, Gustinho! Você chega, nervoso, bufando, não dá nem boa noite pros amigos... ninguém aqui dormiu contigo, não! – ponderou o sempre ponderável Seu Fernando, botequeiro experiente, vivido...

- E ainda vem com essa camisa do América Mineiro... se fosse do Ameriquinha do Rio de Janeiro, tudo bem... a gente iria te receber de braços abertos. Mesmo nervosinho... – interceptou o Paulinho, que tinha chegado primeiro no Butiquim do Tuim, e já estava com alguns copos e doses à frente de todos, portanto, com mais autoridade.

- Mas, vejam se eu não tenho razão... – disse, desejando a todos uma boa noite e, coisa rara, pedindo desculpas. – Foram transportadas 3 mil cargas de madeira do Pará para o exterior sem autorização dos Ibama! Três mil cargas!

- Nossa, gente, Augustinho, agora virou defensor do meio ambiente, é demais! – voltou a ponderar Seu Fernando.

Até então calado, o dono do Butiquim, o único com direito, adquirido e consolidado, a ficar nervoso naquele ambiente, resolveu se manifestar.

- Ele tá nervoso é porque descobriu que em vez de ir passando a boiada, o ministro tá passando é a ripa... melhor dizendo, a madeira. Surrando o pau. Dói muito mais...

Voltando a ficar nervoso, Augustinho vociferou:

- Ele tá passando é a boiada mesmo! Esse mala sem alça! Tá passando com chifre e tudo... vai o cupim, as quatro patas, o rabo...

- Tá passando até os culhões! E essa parte é que dói mesmo; num é o chifre, não! Chifre é psicológico, nem existe... é coisa que colocam na cabeça das pessoas! – rebateu, nervoso, o Tuim, assumindo o comando do nervosismo naquele ambiente. Sua marca registrada.

- E esse é um assunto que o Tuim entende bastante! De culhões ele entende... – voltou a pacificar o Seu Fernando.

Sempre ponderado, o Seu Fernando encerrou a conversa com sonoras gargalhadas.

(PS – Esse diálogo nunca existiu, os personagens muito menos. Tudo invenção de quem não tem muito o que fazer e nem foi convidado pro boteco.)

2 comentários:

  1. Tirando os culhoēs e os chifres o resto é pura verdade. Acrescentando que é a cerveja mais gelada do lago norte.

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  2. O diálogo não deve ter existido, o lugar, os personagens muito bem caracterizados e a vontade de estarmos juntos conversando sobre essas coisas eu tenho certeza que sao reais. Como diria nosso amigo Luizinho, o nome disso é saudade. Também venho sentindo isso bem de com força. Bjo saudoso meu amigo Zezão.

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