Quase
um século depois de o físico Alexander Graham Bell ter patenteado o telefone,
esse prodigioso invento chegou aos lares da progressista cidade de Uruaçu, no
interior de Goiás. Foi um alvoroço! Uma revolução nos costumes, um instrumento
então considerado valoroso na prestação de serviços, na comunicação entre parentes
e amigos. Mas...
Também
serviu para os fofoqueiros da cidade ampliarem seus préstimos, que antes
circulavam por meio de cartinhas anônimas e fofocas ao pé-de-ouvido, nas
quermesses, festinhas de batizados, aniversários e casamentos. Filhos adotivos
foram informados de seus verdadeiros pais, ou, numa hipótese melhor, ficaram
sabendo que eram “de criação”.
E
os cornos? Pobre coitados... Ficaram cientes daquilo que antes preferiam ignorar
por toda a vida. As mulheres já sabiam que os maridos tinham amantes. Duro foi
descobrir que tinham filhos fora do casamento. Alguns, inclusive, com uma penca
de crianças no baixo meretrício, também conhecida como zona de prostituição. Em
Uruaçu, era popularmente chamada de Folha Seca, ou Fôia Seca.
As
mães chegaram a proibir que as filhas atendessem telefone. Orientavam as
empregadas, sussurrando:
-
Não deixa minha filha atender o telefone, não! Vai na frente e atende. Vão
dizer que ela é filha do vizinho – aconselhava de maneira resoluta.
-
E o seu marido, dona Maria, pode atender?
-
Pode. Tem problema, não. Já ligaram pra ele...
-
E aí, ficou bravo?
-
No início ficou... Depois voltou a ficar manso de novo.
Telefone
também servia pra marcar encontro com a namorada, filha de pais bravos, em um
lugar bem longe de um 38 ou de uma Flauber, ou Flobert, em homenagem a Louis Nicholas
Auguste Flobert, francês inventor de armas e munições. Chegou a inventar a “parlor
gun” (arma de salão), calibre 22, que, segundo dizem, tinha uma baixa velocidade
de saída do cano. Ou seja, entre o estampido e a chegada do torpedo, dava tempo
pro cabra fazer e rezar o Pelo Sinal da Santa Cruz.
Pelo
telefone, eram marcados os encontros nos escombros de uma casa em construção, no
escurinho do cinema, ou naquele cantinho da igreja matriz, onde aconteciam
coisas que o bispo só ficaria sabendo no confessionário, quando e se...
O
delegado Versino contava que, por telefone, teria sido marcado um crime de
assassinato. O pistoleiro foi contratado e depois combinou com a vítima local e
hora do encontro, tudo por telefone. O delegado usava um revólver enorme na cintura,
era um homem alto, forte. Impunha medo. Mas, tinha um coração bom e era gentil.
Certa
vez, ainda moleque, ia passando pela porta da casa dele, quando gritou:
-
Êi, menino. Você é filho do Juarez, num é? - com aquele vozeirão de tremer o interlocutor.
-
Sou, sim sinhô – disse, timidamente.
-
Então, vem cá. Vou te dar umas balas.
Fui
tremendo de medo. Os joelhos batiam um nos outros. Mas, foi uma alívio quando
percebi que eram balas mesmo, das marcas Chita e Nilva.
O ambiente melhorou ou piorou mesmo foi quando chegaram em Uruaçu os primeiros celulares. Bem, mas aí é outra história...
PS – Estava quase esquecendo. Nesta quinta-feira, 10 de março, é comemorado o Dia do Telefone, em homenagem a Graham Bell, que nesse dia realizou a primeira bem-sucedida transmissão elétrica de voz. Mal poderia ele saber o que aconteceria com esse aparelho numa cidadezinha do interior goiano, em pleno cerrado brasileiro.
O zé o que vc não sabe um dos primeiros a ter telefone, foi meu vô manoel fernandes de carvalho o ti neco tinha de uruaçu p as fazendas dele bom jardim e usina, belos tempos
ResponderExcluirBom saber disso. Ti Neco, como era chamado e reconhecido, é uma figura que faz parte da nossa história uruaçuense. Obrigado pela informação e participação aqui no blog.
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