sexta-feira, 4 de março de 2022

Ensaio resgata memória do professor Antônio Teixeira Neto

 


A produção acadêmica e o valor

intelectual de Antônio Teixeira Neto

 

Itaney Francisco Campos e

José Carlos Camapum Barroso



O professor Antônio Teixeira Neto foi uma das personalidades mais notáveis que tiveram por berço o Estado de Goiás e, mais especificamente, a cidade de Uruaçu, no norte do Estado. Falecido recentemente, em 12 de julho de 2021, vitimado, ao que tudo indica, pelas sequelas da Covid-19, Antônio Neto foi, ao longo de sua vida, um professor em tempo integral.


Considerado um intelectual, um homem de espírito, atento sempre à realidade circundante, soube observar o homem em seu espaço geográfico e seu contexto histórico e condições socioeconômicas. Dele se poderia dizer o que se disse sobre o professor Milton Santos, o baiano que expandiu as fronteiras do estudo da geografia: Um geógrafo que buscou a reconstrução intelectual do mundo a partir da geografia cidadã. Foi, repita-se, exclusivamente professor.


A rigor, um catedrático, cuja produção acadêmica revela um intelectual humanista, orgânico, antenado com o seu tempo e seus semelhantes. E preocupado com o bioma, com o meio ambiente, com a preservação das espécies e valores culturais do povo goiano. Teve uma trajetória ascendente, de técnico em agrimensura alcançou os louros do pós-doutorado realizado em instituição francesa, especificamente em Paris, numa época em que cidade-luz reunia uma plêiade de intelectuais e acadêmicos que influenciaram decisivamente na formação do pensamento da sociedade ocidental.


Sua carreira na docência iniciou-se no ano de 1962, já formado como técnico em agrimensura, na Escola Técnica Federal de Goiás. Desenvolve-se então de forma meteórica e brilhante, mercê de seus esforços e extrema dedicação. E como uma característica que sempre o identificou: a modéstia revestida de simplicidade e discrição. Após licenciar-se em História, pela Faculdade de Filosofia da UFG, torna-se Engenheiro Agrimensor, pela Escola Superior de Agrimensura de Minas Gerais, já tendo se especializado, então, em Cartografia. Inscreve-se no Curso de doutorado em Geografia, especialidade: Cartografia, na Université Paris VII, apresentando em 1975 sua tese O Estado de Goiás na Cartografia Luso-brasileira dos séculos XVIII e XIX. A essa altura, já exercera a chefia do Departamento de Geografia do Instituto de Química e Geociências da UFG, função que desempenharia por mais de dez anos.


Durante cinco anos (1984-1989), foi professor do curso de Mestrado “História das Sociedades Agrárias” do ICHL, da UFG. Revelando sua incansável operosidade, Teixeira Neto fez, nos anos 1990-1991, curso de pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris-França, apresentando o ensaio A abordagem semiológica dos Atlas Nacionais e Regionais. Por essa quadra, escrevia e falava fluentemente o idioma francês. Esse mesmo estudioso, com vínculos a entidade universitária francesa, atuou, em 2001, contratado pelo ONG Arca, como professor no programa de Capacitação de Docentes da Comunidade Kalunga, na cidade de Teresina de Goiás.


Exerceu ainda o magistério, entre 2004 e 2006, no Instituto de Geografia, Ciências Humanas e Relações Internacionais da UCG. Nesse lustro, escreveu vários artigos sobre aspectos da geografia goiana para publicações especializadas. Sua bibliografia registra uma dezena de ensaios não publicados, inclusive traduções de artigos em francês, sobre a cartografia (traduziu artigos dos professores Jacques Bettina e Serge Bonin). Tornou-se associado do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás - IHGG, ocupando a Cadeira n. 14, - e dedicou-se a escrever, em coautoria com o renomado geógrafo e professor Horieste Gomes, variados ensaios de natureza geográfica e histórica, com interessante repercussão acadêmica.


Foi membro de diversas bancas examinadoras no ambiente acadêmico e universitário, proferindo, a par disso, palestras e conferências sobre a disciplina da Geografia. Para ilustrar sua qualificada produção ensaística, podemos citar, entre outros, “O Estado de Goiás na Cartografia Luso-brasileira dos séculos XVIII e XIX”. “Geografia da História ou História da Geografia? Um ensaio de Geo-História. 1988”. “Geografia: Goiás-Tocantins”. “Em coautoria com Horieste Gomes” 1993, 1a. Edição; “Alencastre e os índios”, “As armas nucleares”, “Ambiente, cultura e identidade de Uruaçu e da Região do Lago de Serra da Mesa: UEG, 2005”;  “A Toponímia antiga e atual das cidades e municípios goianos”, texto que constituiria parte de um trabalho mais amplo - Goiás em Preto e Branco - abordando “mais de 60 aspectos da vida histórico-geográfica e socioeconômica do Estado de Goiás”, nas palavras do autor.


Deixou cerca de vinte trabalhos não publicados sobre a temática de que se tornou excepcional especialista. Quando de seu falecimento, várias entidades culturais goianas externaram manifestações de luto e pesar em torno do triste evento, transcrevendo-se aqui a nota da AFLAG - Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás -, vazada nos seguintes termos, em síntese: “A Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás  (AFLAG) lamenta profundamente o falecimento do Professor Dr. Antônio Teixeira Neto, ocorrido nesta segunda-feira (dia 12 de julho).”


O historiador, cartógrafo, geógrafo e Professor Antônio Neto era atuante sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG). Foi uma das principais referências nos estudos da formação territorial do estado de Goiás, além de ferrenho defensor do Cerrado. Foi professor na Universidade Federal de Goiás (UFG) e um dos fundadores do Instituto Altair Sales.


Sua memória jamais será esquecida graças ao grande legado que nos deixou. Compôs a primeira geração de geógrafos de Goiás e considerado um dos mais eminentes cartógrafos da geografia brasileira. Esse eminente uruaçuense foi importante assessor de vários planos de governo notadamente na questão das fronteiras de Goiás. Valorizado por políticos e governantes de diversas tendências e partidos políticos.


Antonio Teixeira Neto é um digno representante da cultura goiana e brasileira. Por isso mesmo, rendemos nossas homenagens e estamos colaborando para preservação do seu trabalho e da sua memória.

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