sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

ZecaBlog faz onze anos e resgata as nossas origens


Neste último dia 16 de fevereiro, este blog completou onze anos de existência e resistência para continuar sobrevivendo e lutando pela cultura. De lá pra cá, foram publicados 759 posts, que receberam 1.175 comentários. Chegamos a quase 429 mil leituras, sendo o texto sobre o “Violão apreendido é salvo pelos versos do poeta”, com 35,5 mil acessos.

O surgimento do blog e as primeiras dicas sobre como postar, editar e manter o funcionamento, devo ao colega, amigo, jornalista e poeta Maranhão Viegas, que também tem o seu Blog do Viegas.

O amigo, poeta, escritor, desembargador Itaney Campos foi o escolhido para abrir o blog naquele 16 de fevereiro de 2011, com a sua bela poesia Áspera Flor. De lá pra cá, foram muitos textos, poesias, contos, crônicas, fotografias, músicas relacionados de alguma forma ao mundo da cultura, nacional e mundial.

Desde Áspera Flor, dezenas de poemas foram publicados nestas páginas. Vários artigos, crônicas, contos, ensaios, em sua maioria do próprio autor do blog, mas, também, de outros artistas, jornalistas, poetas, cronistas e contistas. O espaço sempre esteve aberto para todos e todas. E continuará com suas portas escancaradas para o mundo da cultura.


Cidades – como a nossa querida Uruaçu –, estados, países, pontos turísticos, culturais e históricos foram sempre abordados por aqui. E continuarão sendo.

Para homenagear essa data em que comemoramos onze anos de existência, publicamos abaixo poemas de uruaçuenses, tendo como tema o córrego Machombombo  ou será um rio? Ou Machambombo? Ou Maxambombo? , que atravessa a cidade, deságua no Passa Três, depois no Maranhão, no Tocantins, que desagua no bolsão Marajoara, ou Baía do Marajó, e, por fim, no imenso Oceano Atlântico. Os poetas, pelo menos, enxergam tudo isso e muito mais...

PS – O blog segue aberto para os colaboradores que transitam pelo mundo da cultura.



Machombombo vive

Luiz Ricardo Oliveira da Silva

 

O Machombombo é para Uruaçu,

Como o sangue é para o corpo;

Num passado não distante

Matava a sede desse povo.

Hoje vive bem desprezado

E por nós abandonado...

Mas é resistente, é frondoso.

 

Ainda resta uma esperança

De ver esse córrego brilhar,

Ainda tenho na lembrança

Quando nele podíamos banhar;

Éramos felizes e realizados,

São memórias do passado

Que dá vontade de chorar.

 

Machombombo é patrimônio

Da nossa história ambiental;

Era fonte que alimentava

Nossa essência cultural.

Ainda vive nessa peleja,

Lutando contra a sujeira

Nesse enorme lamaçal

 

No meu sonho ele é límpido

De águas claras, transparente.

Voltava então a alimentar

E matando a sede dessa gente!

Nosso Machombombo viverá,

Nós voltaremos a brincar

Em suas águas correntes”.

 

 

Machombombo

Ítalo Campos

 

O Rio da minha vila não é Vermelho, nem das Almas

é Machombombo.

É o maior rio do mundo, o mais bonito.

Nele cabem piabas, papa-terra e jaú,

cabem canoas e jangadas

no tempo dos meus avós.

Meu rio é o maior rio do mundo

e me leva ao Passa Três, Maranhão,

ao Tocantins e Araguaia.

Meu rio desagua no céu.

Meu rio me banha, 

(e aos meus amigos)

me afaga, me refresca

e me esconde.

Sobre ele a ponte, a vila.

Ele, a marca, a vala, o limite,

o nome majestoso,

o mergulho gostoso

no fundo do quintal.

Meu rio é lindo

e proparoxítona.

E fio d'agua na minha

velhice.

 

 

 

Rio do meu coração

Itaney Campos

 

O Machambombo não tem a largura do Tejo.

Nem a formosura do Tejo. Muito menos a majestade do Tejo.

O Machambombo,

que também se escreve Maxambombo,

não tem sequer a limpidez do Tejo,

garboso rio de Portugal

espelho  da vetusta, heráldica,

heróica cidade de Lisboa.

O Maxambombo é um riozinho obscuro,

nem os peixes costumam frequentá-lo.

Esse riacho sequer consegue banhar

os barrancos da

modesta vila de Santana,

minha terna cidade natal.

O Maxambombo é humilde, tal qual o povo da minha terra,

mas é o Ribeirão que atravessa a minha longínqua  infância

a reter os seus segredos palpitar suas venturas

no fundo dos seus poços remansosos.

Nos murmúrios desse riacho

a história da nossa gente,

a melancolia do nosso povo

e suas cantigas

e suas rezas de antigamente.

Nas águas desse Ribeirão

fluem as vozes dos nossos avós,

as velhas mangueiras que desabaram,

os casarões que se apagaram,

os longos vestidos, os colares, as porcelanas,

os véus e os chapéus de palha de nossos avós.

Nas espumas desse riacho

se infiltram nossas mortes, nossos cantos, nossos filhos,

o futuro como esgotado veio.

O Maxambombo, a escorregar

por entre as pedras,

se desmancha sem remorsos,

nas águas rasas do rio Passa três.

O Maxambombo  parece às vezes

derramar-se,

em gotas,

dos meus olhos mais antigos.

E correr por entre os dias, não pro rio Maranhão,

mas para as vias venosas

que fazem deslizar disparado

 o arroio do meu coração.

 

 

Rio da Alma

José Carlos Camapum Barroso

 

O rio que corta minha cidade

Corta antes meu coração,

Desperta nossa memória,

Faz soar sinos das Igrejas,

Abre as portas do armazém,

Das lojas e bares dispersos

Pelas avenidas da ilusão.

 

O rio que corta a minha cidade

É um pedaço da nossa alma

Perdida na imensidão

De tantos anos distantes

Das suas águas, corredeiras...

 

Poços, pedras, seixos, pecados,

Pensamentos, versos, canção...

Tudo brota da nossa mente,

Transita pelas nossas veias

Impulsionado pelo coração

Mambembe, descompassado

De tanta saudade do que se foi,

Ansiedade por tudo que virá.

 

O rio Machombombo corta

A nossa cidade, apara as arestas

Dos novos tempos, sem deixar

Que os velhos tempos morram

Afogados pelas águas turvas

E revoltas da indiferença.

 

O Machombombo corta Uruaçu,

Corta também o estado de Goiás,

Um país chamado Brasil,

A Terra e, quiçá, o Universo.

 

Mansamente... como se fosse

Morrer ali na curva do rio.


3 comentários:

  1. Parabéns Zecablog! Foram 759 maravilhosas e ricas postagens! 16 anos é a flor da idade! Siga nos acalentando a alma! Vamos rumo às bodas de prata!

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  2. Obrigado, Solange, pelas palavras carinhosas. Você sempre atenta às coisas do blog. Valeu!

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  3. Parabéns ao Blog pelos 11 pela cultura que promove, pelo destaque que dá aos artistas de Uruaçu-GO... Parabéns!!

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