sábado, 12 de fevereiro de 2022

Onde estão os invisíveis que a transparência não permite ver?


Invisíveis foram os judeus que conseguiram sobreviver na Berlim nazista até o final da Segunda Grande Mundial, escapando do extermínio determinado por Adolf Hitler. Estima-se que sete mil judeus tenham permanecido na capital da Alemanha, mas somente 1.500 deles sobreviveram à perseguição nazista e ao bombardeio dos aliados. Conseguiram sobreviver na invisibilidade.

Invisíveis são os mendigos que dormem nas calçadas das grande cidades. Perambulam pelas ruas, pedem esmola e ajuda nos sinaleiros sem que sejam vistos ou percebidos. Sofrem  preconceitos. Além de não possuírem as condições básicas de sobrevivência (comida, água, local para dormir etc.), estão suscetíveis a maus tratos, violência e principalmente ao desprezo e ao abandono.

Ilustração das Cidades Invisíveis de Italo Calvino

Também são invisíveis os varredores de rua, lixeiros, porteiros, idosos e as crianças. Estas não são vistas, mas têm a capacidade e a sensibilidade de enxergar aquilo e aqueles que são, em tese, invisíveis, aos olhos dos adultos. As crianças acenam, cumprimentam, conversam com esses personagens da sociedade moderna...

Os invisíveis são vítimas da dureza do cotidiano, do desprezo, da falta de afeto, do autoritarismo e do fanatismo político, religioso e ideológico. De tão invisíveis são transparentes, não carregam manchas, nódoas, mágoas ou ressentimentos.

Talvez por isso mesmo, sobreviveram e sobrevivem. Sobreviverão?



Transparência

José Carlos Camapum Barroso

 

Invisível transparência

Nessa malemolência

Que endurece a pele

E blinda corações.

 

Almas que vagueiam

Pelos quatro lados

Do espaço redondo,

De mentes quadradas.

 

Almas que se perdem

No infinito, adormecem

Em buracos-negros

De tantas indiferenças.

 

Mãos estendidas em vão

Não superam a solidão,

Inibem, traem a indignação

De tão poucos indignados.

 

Invisível transparência

Em tempos modernos

De tantas lentes, contatos...

Instantaneamente sós.

 

Almas que se amoldam

Em becos, ruas e avenidas...

Não dormem, apenas tiram

O sono de passantes.

 

Porque não acordam,

Trazem recordações

Sempre desprezíveis,

Preservadas na indiferença.

 

Invisível transparência

De uma dor trespassada,

Transpassada no tempo

De sempre para sempre.


2 comentários: