quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Cronista descobre plano de fuga de Bolsonaro no dia 1º

Nagé, Maragogipe, Bahia

José Américo, conhecido como “Das Américas”, além de um grande amigo, é também um baita escritor, cronista e jornalista admirado no cenário nacional. Tem um faro especial para a notícia, jornalismo investigativo. Deve ser por isso que descobriu que há um plano traçado e pronto para ser executado de fuga do presidente Bolsonaro.

O destino e outros meandros ele revela nessa bela crônica publicada abaixo. Faz parte de sua coleção de textos sobre o cotidiano de Joãozinho Naturá, figura típica do Recôncavo baiano. Um morador de Nagé, ilha do município de Maragogipe, foz do Rio Paraguaçu.

 

A fuga do presidente

José Américo 


Joãozinho Naturá* me ligou lá da ilha de Nagé, Maragogipe, Bahia. Sempre liga quando acorda da madorna de depois do almoço. Conta primeiro sobre o que comeu e depois desembesta a falar.

Desta vez, tava se gabando de uma farofa de inhame com camarão defumado. A iguaria foi servida por Dorinha da Gameleira, chamego dele de anos. Foi ela que, depois do almoço e enquanto se deliciava com uma cocada mole, contou o segredo que ficou sabendo.

- Das Américas, vou te contar uma bomba. Bolsonaro vai fugir e se esconder em Maragogipe.

- Que história é essa, Naturá?

- Tá duvidando é, Das Américas?

Dorinha, como você tá careca de saber, é filha de Iansã e, pra seu governo, foi só ela tocar no assunto que bateu uma ventania do nada, envergou o coqueiro gigante na beira da praia, e fez roncar o tronco da gameleira no terreiro da casa dela. Você é de santo e sabe muito bem do que tô falando.

A história é longa mas eu vou resumir para não gastar meus créditos.

Em todo lugar e em toda religião tem gente boa e gente que não vale o que o gato enterra. Pois bem, aqui na região tem um pai de santo que é da Igreja Universal, aquela do Bispo Macedo.

- Pelo amor de Deus, Naturá! Isso não existe. Como pode uma criatura ser do candomblé e crente ao mesmo tempo? E ainda por cima da Universal. Esse sincretismo seria uma anomalia, uma aberração a ser estudada em Harvard. Aí você já tá curtindo com minha cara.

- Das Américas, já vi que depois de se isolar nessa ilha da fantasia que é Brasília, você perdeu a noção do metabolismo social em que vivem os simples mortais. Você parece um alienígena que chegou hoje no Brasil e nada sabe do que acontece no cotidiano da nossa gente. Se liga ou vai virar um morto vivo, desligado da realidade, como esses políticos, seus amigos aí de Brasília.

- Joãozinho, você me aparece com uma história estrambólica, dizendo que Bolsonaro vai fugir e se esconder em Maragogipe, que tem um pai-de-santo evangélico envolvido na trama e quer que eu reaja com naturalidade? Tenha paciência. Vai quebrar coquinho!

- Pois é, acredite porque eu não gosto de Fake News e Dorinha fala a verdade até quando mente.

Você sabe que pelo andar da carruagem e pelos desmandos que a equipe de transição do Lula tem revelado, Bolsonaro vai ser preso logo que perder aquele tal foro privilegiado que o cargo de presidente lhe confere.

Vai não, poderia ser. Só vai se não executar seu plano de fuga, conforme planejado.

Tá tudo, milimetricamente, traçado com apoio dos golpistas da Marinha do Brasil. Você sabe que o atual comandante da força naval brasileira é bolsonarista até debaixo d’água.

Preste atenção no que vou lhe contar, em detalhes.

O Bozo deixa Brasília na noite de 31 para 1º de janeiro, desembarca no Rio de Janeiro, embarca numa van preta com vidros fumê e, dentro do túnel Acústico que liga a Zona Sul à Barra da Tijuca, ele vai trocar de carro, iniciando o audacioso plano de fuga.

Nagé, Maragogipe, Bahia

Daí segue até um ponto no litoral, nas imediações da restinga da Marambaia, área sob domínio das Forças Armadas, embarca num submarino de tecnologia venezuelana - veja a ironia do destino - pertencente à milícia carioca, segue em direção a Maragogipe e, uma vez já na terra de São Bartolomeu, segue para o terreiro do pai-de-santo evangélico, que já está sendo reformado para escondê-lo.

- Caraca, Naturá! Essa história parece livro de João Ubaldo, em parceria com Agatha Christie.

- Das Américas, a história realmente tem lances cinematográficos, mas o roteiro é baseado em fatos. E vou lhe dar provas cabais de que o plano já está em plena execução.

No dia do primeiro jogo do Brasil na Copa do Qatar, enquanto toda a gente estava ligada na partida de futebol, um caminhão camuflado na cor cinza - como são os veículos da Marinha - foi visto entrando no terreiro e descarregando uma grande remessa de leite condensado ou leite Moça, como queira. Quer evidência maior que essa? Parafraseando o lendário detetive Sherlock Holmes: “Elementar meu caro Watson.”

- Joãozinho, você tem que denunciar isso à polícia imediatamente.

- Você quer me ver na terra do pé junto, é? Tá doido? Não quero virar herói defuntado. Quem tem que denunciar é você aí em Brasília.

- Eu? Tá variando? Quem tem as informações, inclusive a localização do esconderijo é você e Dorinha. Eu sou um mero confidente seu.

- Das Américas, eu aqui lhe dando a oportunidade de sair do ostracismo e entrar para a história com uma informação privilegiada dessa e você arrega. Quem viu naninha! Não te reconheço mais naquele jovem e intrépido foca do Jornal da Pituba, nos idos dos anos da década de 1980, ao lado de feras como Zé de Jesus Barreto, Vander Prata, Césio Oliveira, Sonia Carmo, Jair Dantas, Sérgio Guerra, e dos saudosos Renato Pinheiro, Claude e seu guru Zé Roberto Berni. Que decepção.

- Peraí, Naturá! Você não tinha me passado o controle da história, queria inicialmente que eu fosse um delator,  indo à polícia para contar a trama. São coisas totalmente diferentes.

- Então trate logo de se reunir com esses jornalistas tipo Remington, seus amigos, e veja uma estratégia para revelar a trama nacionalmente. Lembre-se de que essa bomba tem que ser detonada no dia 1º de janeiro de 2023. Vai ser a notícia do ano. Minha parte eu quero em dinheiro. E vivo, viu! À moda Bolsonaro. Hahahahaha!

Como dizia Ibrahim Sued quando dava um furo jornalístico:  “Sorry, periferia."

Fui!

*Joãozinho Naturá é um amigo de infância que exagerou no desfrute do famoso chá de cogumelos do Recôncavo baiano e hoje vive entre a filosofia, a crença em extraterrestre e os devaneios. Conta que sonha coisas que muitas vezes acontecem. Vive na ilha de Nagé, em Maragogipe, Recôncavo baiano.

  

4 comentários:

  1. Muito bom essa figura do Joãozinho Naturá... Esse plano é muito criativo... adorei o "abusou do chá de cogumelo"

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    1. Também gostei muito do personagem. O Zé Américo é muito criativo. Abraço e obrigado.

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  2. Pelo visto, as previsões de Joãozinho Naturá nunca faia!

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    1. Pois num é... O cabra é bom. Obrigado pela participação aqui no blog.

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