domingo, 11 de dezembro de 2022

Uruaçu ganha novas poesias no cenário cultural

A querida cidade de Uruaçu, incrustada no centro do Brasil e do mundo (há também estudos de que ela estaria no centro do Universo), é – e sempre foi – uma região muito rica culturalmente. Sua produção literária e musical é relevante no cenário do Centro Oeste brasileiro.

Temos um grupo de amigos no WhatsApp, sob o nome de Amigos do Zé Sobrinho, voltado para manter acesa a chama desse viés cultural da terrinha. Recentemente, foi organizada a edição de um livro de poesias que já está na gráfica sendo editado e virá com o título de As Tranças de Ana.

Nas duas últimas semanas, por termos sidos provocados, melhor, instigados, quatro poesias foram elaboradas e lançadas lá no grupo, de forma bem espontânea e descompromissada. Uma de minha autoria e outra de minha irmã Juracema Camapum Barros, e duas poesias dos irmãos Ítalo Campos e Itaney Campos. Dois pares de irmãos.

Publico-as para avaliação dos leitores do blog. Também serve como uma pitada do que vem aí, em breve, em forma de livros de poemas de uruaçuenses.

Esperamos que gostem. Beijos no coração e viva a Cultura tão desprestigiada e atacada nesses últimos quatro anos.

 


Ocaso
Juracema Camapum Barroso

 
Tenho o olhar fixo
Diante do sol do ocaso.
Não há como ignorar o belo entardecer.
Ou não alegrar com as estrelas surgindo...
Amarelo, rosado partindo
Como uma tristeza pálida
O final do dia tem algo
de perde-se no encontro da noite.
A luz docemente esvaindo entre os transeuntes, 
exalta o colorido das vestimentas.
Esta é a arte do céu: morrer o dia e nascer a noite.
O fluxo dos destinos mudam.
Apressados, lentos, perdidos.
Há os que nem sabem o que fazer de si.



 
Terra em Trans
Ítalo Campos
 
Transporta o trem do futuro
novos gêneros transfigurados
em velocidade vertiginosa
transcorrendo do futuro ao futuro.
Neste imenso transatlântico
dependurado no universo
Tudo é transitório!
Tudo múltiplo e concentrado
transcurado!
Transeunte, na avenida de mão única.
Sem nome, um número, um transviado,
em constante transformação.
Não há rastro, traço, a transmitir.
Todos em trânsito. Transparente!
O sol se pôs pelo lado do oriente.
Nenhuma transcendência é possível,
nenhum transbordamento com a poesia,
apenas um transamazônico ruído
é repetido.
Todos somos trans.
Transfixados pela espada da ciência.
Transitórios! Não há dor. Nada a transpor.
Nada a transgredir, nada a transbordar.
Tudo vazio transfundido.
Trans torno,
Transtorno!

 

 
E agora, José?
José Carlos Camapum Barroso
                          (Para Lastênia)
 
Sei lá agora o que farei nesta hora
Em dias tão difíceis, em noite escura
Minha alma implora por doçura
Quando a amargura já não demora
 
Sei lá o que farei neste momento
De nobre sentimento tão aviltado
Pela dor de que houvera retirado
Do fundo da alma todo sofrimento...
 
Mergulhar o coração no leito do rio?
Afogar as mágoas na noite, madrugada
Seria então apenas mais um desafio
 
Que não acalmaria esta dor passada
À beira de uma estrada, em desvario,
Indo também embora para Parságada



 
Soneto Antigo
Itaney Campos

Ah, estranho mal de amor, tão decantado,
Tanto espinhoso quanto bem querido,
Em vão procuro tê-lo resumido
No peito ainda cedo magoado.

Aumentá-lo é aumentar a dor, um fado
Que me domina o peito malferido,
Se o busco restringir, vejo crescido
O mal que em mim pressinto arraigado.

Filho da liberdade, me aprisiona,
Pródigo de cuidados, me abandona,
Fazendo da razão mesmo, cegueira.

De uma gentil senhora carecente,
Amor é chama, corvo persistente
que a alma me dilacera a vida inteira.
  

4 comentários:

  1. Muito bom, José! Essa turma é demais! Valeu!

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  2. Muito boas as poesias, lindas o "Ocaso" é muito sensivel... no aguardo do livro as tranças de Ana.

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    1. Obrigado, Rodrigo, pelas palavras carinhosas e pela participação no blog.

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