quarta-feira, 8 de março de 2023

Dia da Mulher é marcado pelo aumento do feminicídio no Brasil

Inacreditável! Em pleno século XXI, mais de dois mil anos depois de Jesus Cristo pregar e espalhar o amor e a justiça entre homens e mulheres, o feminicídio no Brasil bateu recorde no ano de 2022. Foram 1,4 mil mulheres mortas apenas pelo fato de serem mulheres – uma média de uma a cada seis horas. O maior índice desde que a Lei do Feminicídio entrou em vigor, em 2015.

Isso nos reforça a visão de que o Dia Internacional da Mulher é muito mais de luta do que de comemorações. Principalmente no Brasil que ocupa a 80ª colocação num levantamento que analisa a qualidade de vida para as mulheres, ficando ao lado de Fiji e Suriname. Enquanto o orçamento do governo federal para o combate à violência contra mulheres é o menor em quatro anos, a cada 10 minutos uma mulher é vítima de estupro e a cada 6 horas uma mulher é vítima de feminicídio no país. Nada a comemorar.

Muitas razões para se ampliar a luta em defesa das mulheres, seu direitos e aspirações em uma sociedade terrivelmente machista. Elas, ao lado das crianças e dos idosos, foram as vítimas mais atingidas por uma nova realidade imposta pela pandemia da covid-19. Como se não bastasse, também o crescimento das redes sociais e o maior acesso à internet trouxeram um aumento da violência política contra as mulheres, intensificando os ataques virtuais.

A luta pelos direitos das mulheres vem de longa data. O 8 de março foi escolhido para homenagear 129 mulheres que foram mortas pela repressão ao movimento grevista de uma fábrica, em Nova Iorque. Lutavam pela redução da jornada de trabalho, então de 16 horas, para 10 horas diárias, equiparação de salários com os homens, que chegavam a ganhar três vezes mais do que as mulheres, e tratamento digno no ambiente de trabalho.

O ano era o de 1857. Durante uma manifestação, a companhia Triangle Shirtwaist foi fechada. Um incêndio começou e se alastrou tão rapidamente que foi impossível evitar a morte de 146 pessoas (129 operárias e 17 operários, que estavam na fábrica na hora do protesto), apesar dos esforços dos bombeiros. Muitas vítimas morreram queimadas e algumas, sufocadas pela ingestão de fumaça.

Somente no ano de 1910, a data foi declarada como o Dia Internacional da Mulher, durante uma conferência realizada na Dinamarca. No ano de 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou a data como dia oficial da luta das mulheres pelos direitos sociais. Daquele longínquo ano de 1857 até os dias de hoje, foram duras e muitas as lutas das mulheres pelos seus direitos. De lá pra cá, as conquistas foram se sucedendo, mas ainda há muito a ser conquistado. E muitas injustiças a serem combatidas.

Precisava passar tantos anos e acontecer tantas tragédias para que a sociedade reconhecesse os direitos da mulher? Direitos óbvios: remuneração digna, compatível com a dos homens, tratamento justo nos locais de trabalho, direito de votar, direito à licença maternidade e tantos outros que foram sendo conquistados ao longo dos anos...

Talvez, por todas essas injustiças acumuladas e mantidas para com as mulheres através dos tempos e dos espaços, os homens buscam recompensá-las, enchendo-as de flores, presentes, versos, canções e monólogos de amor...

Eu também fiz esses meus versos, postados abaixo, numa tentativa de ajudar a aplacar um pouco das minhas dívidas para com as amigas, companheiras, colegas de trabalho e de profissão e, principalmente, para com aquela que sofre ao meu lado, no dia a dia, todas as pequenas, médias e grandes injustiças. Publico, também, os versos do psicanalista, poeta e amigo Ítalo Campos, um artista no manuseio das palavras.

No campo musical, uma Nova Ilusão, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz é uma bela homenagem às mulheres, elegantemente apresentada na voz suave e macia de Paulinho da Viola.

Passada a euforia das comemorações, não podemos nos esquecer de que o dia da mulher não se encerra à meia-noite deste 08 de março de 2023. Pelo contrário, continua pelos dias, meses e anos afora, assim como a luta delas pelos direitos iguais.

A luta continua, companheiras!

Mulher
José Carlos Camapum Barroso

Nem com uma flor
Se bate numa mulher.
Ela é fonte de amor,
Pétala do bem-me-quer.
 
Nem com um buquê
De rosas deve apanhar...
Se não sabes por quê?
Logo, logo saberás.
 
Ponhas num vaso
O buquê de flores.
Em cima, por acaso,
Um cartão de amores.
 
Em volta, espalhes
Rosa, lírio, jasmim...
Como a lembrares
Um canto do jardim.
 
Verás, então, surgir
Nos lábios da mulher
Um sorriso, elixir
Para dor qualquer...
 
No rosto, corado,
Verás a expressão
De um ser amado
A revelar gratidão.
 
E olhos... brilhantes,
Marejados de prazer,
Desejos cintilantes
Estarão a oferecer
 
Abraços e beijos
Regados de emoção...
Revelam desejos
Que brotam do coração.
 
Saberás que mulher
Não é para apanhar.
Mas, sim, para ser
Objeto do verbo amar.

Mulher
Ítalo Campos

Mulher não nasce,
ela aparece quando saca em si
o vazio e a ausência.
Mulher não nasce,
ela floresce.
Quando seu ventre arrebenta
o novo, aí desperta.
Não feto, fato.
Mulher não nasce,
se faz,
quando contém o não-continente,
quando é, não é,
quando é verdade, ao mesmo tempo, mentira.
Mulher não existe na carne,
se não for antes na mente.
Mulher não nasce, se cria,
sem forma, de natureza incerta,
no dia a dia, às vezes demônio, às vezes gente.
Mulher não nasce. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário