Musicar
um poema é acentuar-lhe as emoções, disse, certa vez, o poeta português
Fernando Pessoa, um dos mais geniais da literatura mundial. Ele teve alguns de
seus textos musicados, como canções-concertos de raras belezas, admirados no
mundo das artes.
No
Brasil, vários poemas foram musicados. Podemos citar Carlos Drummond de
Andrade, Manoel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, Cecília Meirelles, Haroldo de Campos
e, como não poderia deixar de ser lembrado, Vinícius de Moraes, o nosso “poetinha”,
entre tantos outros.
O compositor e
cantor Raimundo Fagner teve a sensibilidade e a ousadia de musicar o poema Fanatismo,
da também portuguesa Florbela Espanca, trazendo para nossa alma a beleza infinita
desses versos:
“Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”
Música
e poesia são artes que se cruzam no tempo. Sempre existiu uma vontade de
conciliação dessas duas formas diferentes de comunicação e expressão. Mas, esse
tema me foi despertado, no dia de hoje, ao receber, bem cedo, um poema do
amigo, jornalista, poeta e escritor Maranhão Viegas.
Fez-me lembrar que, em 2011, no nascedouro deste blog, tive um poema musicado por Ocelo Mendonça, multi-instrumentista, arranjador, professor de música e membro da Orquestra Nacional do Teatro Cláudio Santoro. Ocelo gravou os instrumentos e foi acompanhado pela bela voz do cantor Leonel Laterza.
Maranhão
recorda ter escrito uma poesia que virou letra de música. Ele frisa que “não pensava em
música quando escrevi. Pensei em poesia. Mas a música já estava ali, desde
sempre. Foi o que me disseram mais tarde Marcos Mendes e Maria Cláudia,
criadores da melodia, dos arranjos… e intérpretes gentis que deram tratos ao
que escrevi. Fazendo poesia virar melodia”.
Assim,
os dois momentos do passado cruzaram-se no presente por mero acaso da paixão de
dois jornalistas por poesia e música. Resolvi compartilhar com os amigos e
amigas do ZecaBlog. Espero que apreciem e possam fazer suas
considerações sobre o encontro dessas duas artes.
Beijos poéticos e musicais no coração.
José Carlos Camapum Barroso
Vou perguntar aos céus
Qual será meu desafio
Na hora do último adeus
Que é senhor da razão
Se amanhã o sofrimento
Será menor que a paixão
Se devo ouvir e calar
Palavras que matam a sede
Escondem o sentido do verbo amar
Antes d’a noite chegar
A lua tem como agonia
Os raios do sol a brilhar
Notas de dor, compaixão
Se choro aumenta o frio;
Se canto, chega o verão
É dia já vai escurecer
Faz tempo essa agonia
Meu desvario vai adormecer...
Maranhão Viegas
veem a mesma direção
O meu já sabe que não
Viagem na contramão
Esfrego os olhos aflito
recorro à intuição
Abra o olho, ele te mostra
O olhar que tens aí dentro
Já encontrou a resposta
O olho aberto é clarão
Pra um olho que inveja o vento
Ventania é furacão
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