domingo, 9 de março de 2025

Papel guardado traz sempre boa surpresa aos nossos corações

Encontrei nos alfarrábios de minha mãe um texto poético do meu saudoso e grandioso tio e padrinho Batista Coelho Barroso. Sempre fuço os calhamaços de Iracema à procura de peças raras e preciosas da nossa memória familiar. Fotos antigas, textos já esquecidos, objetos e peças às vezes desfigurados pelo tempo, mas de valor incalculável para a nossa história, brotam como passe de mágica daquelas pastas e caixas antigas, envelhecidas...

Um dos momentos mais belos e emocionantes que vivi foi a noite de comemoração dos 50 anos de casados de Batista e Marilha, na nossa sempre querida Uruaçu, no interior de Goiás. O Clube Recreativo Uruaçuense estava lotado de amigos, que eram muitos, e de parentes que se deslocaram de todos os cantos de Goiás e de outros estados para prestigiar o evento e, ao mesmo tempo, trazer solidariedade ao casal.

Eles tinham acabado de perder, de forma trágica, o filho João Batista. Uma partida dolorosa, prematura, surpreendente, que abalou toda a comunidade e deixou a família sem chão para apoiar os pés. Foi um daqueles acontecimentos que marcam a todos, de forma inimaginável, para sempre, de tristezas e saudades – mais ainda, pai e mãe!

Tio Batista leu esse poema com a voz sufocada, engasgada pela dor, porém resoluta por que não poderia deixar de fazê-lo naquele momento tão significativo de sua vida. Seus 50 anos de casados foram repletos de amor, solidariedade e carinho para com os parentes, amigos, conhecidos e mesmo para com os desconhecidos que o procuravam. O que dizer, então, do seu amor para com os filhos Edmar, João e Marisa?

Nós, sobrinhos, todos, somos testemunhas dessa grandeza e ao mesmo tempo devedores de tanto apoio que recebemos do meu padrinho Batista. A comunidade uruaçuense sempre manifestou, e manifesta hoje e sempre, todo o respeito e gratidão que guarda dessa figura inesquecível e inigualável.

Agora está, ao lado de sua querida Marilha, lendo, sob as bençãos de Deus, aos ouvidos do João, esses mesmos versos, mas, de forma suave, mansa, sem engasgar a voz...

Nosso querido primo João é todo ouvidos, com seu jeito tímido, calado, cabeça baixa. Não estará mais entristecido: papai e mamãe estão por aqui.

As saudades agora são nossas.

 

E agora?
Batista Barroso
 
Eu sou a brisa que beija e balança a copa florida e perfumada das árvores
Eu sou o murmúrio das águas cristalinas que desce em cascatas nas cachoeiras cantando uma canção de ninar
Eu sou o canto sonoro do sabiá apaixonado que desperta a natureza com sua sonata saudosa do alvorecer
Eu sou o sorriso meigo da criança que ainda tem esperança de um dia chegar ao esplendor de seu sonho
Eu sou o irmão pedinte que vaga maltrapilho implorando caridade
Eu sou o amor que consola a criança que chora
Eu sou o bem maior que dá equilíbrio ao universo
Eu sou o asteroide desgarrado do planeta mãe, vagando na imensidão do cosmo em busca de luz
Eu sou o sonho do sono que não desperta
Eu sou a porta sempre aberta esperando você chegar...
E agora... Que faço do meu coração que está partindo em pedaços desde que você se foi?
E agora?
Estás em tudo
E não te encontro em nada
E agora?

 

12 comentários:

  1. Sempre bom ler histórias...

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  2. Toda a bela história de amor toca o coração e que linda poesia que bela declaração de amor em "E agora" emocionante 💖

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  3. Muito linda! Sr Batista foi um exemplo de pessoa humana, excelente no seu jeito de ser ! Que saudades do casal ! Meus grandes amigos, deixaram belas lembranças !

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    1. Um ser humano admirável. Hoje em dia temos poucos com esses valores. Obrigado!

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  4. Muito bom! Gostei demais.

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  5. Que belo e emocionante poema do Sr.Batista! Estávamos presentes nessa celebracao tão cheia de amor.
    Resgatar essas preciosidades faz sempre bem aos nossos corações. 👏

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    1. Também acho belo esse poema! Obrigado pela participação aqui no blog.

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  6. Papai só deixou saudades. Só escuto elogios do seu carisma perante a sociedade. Mamãe, mulher exigente porém muito sábia e justa em sua ações perante o povo de Uruaçu. Cumpriu seu dever com maestria.

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    1. Sinto isso de forma muito intensa, pois ele foi um verdadeiro pai para mim. Muito mais que um tio ou mesmo um padrinho. Um casal bondoso e prestativo. Sempre disponível para ajudar.

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