Enquanto as florestas brasileiras
tentam, desesperadamente, sobreviver ao ferro e ao fogo das máquinas e das
queimadas, é de bom alvitre relembrar Castro Alves – um dos mais belos poetas
da literatura brasileira. Curumim não tem dado conta de enfrentar o
desmatamento por meio de queimadas, principalmente nas regiões de Mato Grosso e
do Triângulo Mineiro, mais particularmente na área de Uberlândia.
A região do Mato Grosso é recordista em
queimada de florestas, enquanto em Uberlândia, o recorde ocorre em vegetações.
Mas a destruição das florestas por
meio das queimadas aumenta em todo o País. Em Goiás, o crescimento foi de cerca
de 20% no ano de 2013 em relação a 2012. E a tendência é que piore ainda mais
este ano quando chegar setembro. O monitoramento por satélite permite registrar
forte impacto sobre o bioma da Amazônia, em consequência de queimadas. No
período de poucas chuvas, as temperaturas atingem níveis altíssimos e o estrago
nas florestas é devastador, irreversível.
Certa noite, sonhei que Curumim, o
protetor das florestas, dizia mais ou menos o seguinte:
Que fogo colocou
Foi fogo forte
De queimada
Que me alcançou
Foi fogo forte
De queimada
Que me alcançou
Nada, nada adiantou
Andar de contrário
Fogo não se enganou
O vento forte mudou
Meu cabelo avermelhou...
E tudo, tudo, acabou.
O melhor mesmo nessas horas é lembrar
que hoje é o Dia de Proteção das Florestas, rezar pra São Curumim, ouvir uma
boa música e recitar versos de Castro Alves. Quem sabe o vento muda e a
história toma rumo novo.
A queimada
Castro Alves
Meu nobre perdigueiro! vem comigo.
Vamos a sós, meu corajoso amigo,
Pelos ermos vagar!
Vamos lá dos gerais, que o vento açoita,
Dos verdes capinais n'agreste moita
A perdiz levantar!...
Vamos a sós, meu corajoso amigo,
Pelos ermos vagar!
Vamos lá dos gerais, que o vento açoita,
Dos verdes capinais n'agreste moita
A perdiz levantar!...
Mas não!... Pousa a cabeça em
meus joelhos...
Aqui, meu cão!... Já de listrões vermelhos
O céu se iluminou.
Eis súbito da barra do ocidente,
Doudo, rubro, veloz, incandescente,
O incêndio que acordou!
Aqui, meu cão!... Já de listrões vermelhos
O céu se iluminou.
Eis súbito da barra do ocidente,
Doudo, rubro, veloz, incandescente,
O incêndio que acordou!
A floresta rugindo as comas
curva...
As asas foscas o gavião recurva,
Espantado a gritar.
O estampido estupendo das queimadas
Se enrola de quebradas em quebradas,
Galopando no ar.
As asas foscas o gavião recurva,
Espantado a gritar.
O estampido estupendo das queimadas
Se enrola de quebradas em quebradas,
Galopando no ar.
E a chama lavra qual jibóia
informe,
Que, no espaço vibrando a cauda enorme,
Ferra os dentes no chão...
Nas rubras roscas estortega as matas...,
Que espadanam o sangue das cascatas
Do roto coração!...
Que, no espaço vibrando a cauda enorme,
Ferra os dentes no chão...
Nas rubras roscas estortega as matas...,
Que espadanam o sangue das cascatas
Do roto coração!...
O incêndio — leão ruivo,
ensangüentado,
A juba, a crina atira desgrenhado
Aos pampeiros dos céus!...
Travou-se o pugilato... e o cedro tomba...
Queimado..., retorcendo na hecatomba
Os braços para Deus.
A juba, a crina atira desgrenhado
Aos pampeiros dos céus!...
Travou-se o pugilato... e o cedro tomba...
Queimado..., retorcendo na hecatomba
Os braços para Deus.
A queimada! A queimada é uma
fornalha!
A irara — pula; o cascavel — chocalha...
Raiva, espuma o tapir!
...E às vezes sobre o cume de um rochedo
A corça e o tigre — náufragos do medo —
Vão trêmulos se unir!
A irara — pula; o cascavel — chocalha...
Raiva, espuma o tapir!
...E às vezes sobre o cume de um rochedo
A corça e o tigre — náufragos do medo —
Vão trêmulos se unir!
Então passa-se ali um drama
augusto...
N'último ramo do pau-d'arco adusto
O jaguar se abrigou...
Mas rubro é o céu... Recresce o fogo em mares...
E após... tombam as selvas seculares...
E tudo se acabou!...
N'último ramo do pau-d'arco adusto
O jaguar se abrigou...
Mas rubro é o céu... Recresce o fogo em mares...
E após... tombam as selvas seculares...
E tudo se acabou!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário