segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Primavera chega pela poesia e na flor do pé de pequi



 A entrada da Primavera em algumas regiões do planeta é motivo para grande e efusiva festa. O amigo e maestro Joaquim Jaime, conhecido como Nega, disse-me certa vez que só entendeu a razão para tanto regozijo quando morou na Europa, por alguns anos na Alemanha, onde concluiu sua vasta formação musical. O fim do Inverno e a chegada da Primavera é como se tivéssemos acabado de sair do Inferno para ingressar redimidos no Paraíso.
Muda tudo. O clima, a paisagem, o humor das pessoas e até o ar que se respira. A beleza está nas ruas, nas praças, nos campos e nas palavras que os transeuntes trocam entre si. É vida nova que surge.


Aqui no Brasil, principalmente nesta nossa região do Centro-Oeste, são poucos os sinais de que a Primavera está chegando. Ficamos sabendo mais pelos noticiários do que pelas observações à paisagem e ao clima, por exemplo, que a nova estação começa hoje, segunda-feira, às 23h29m. Nosso país tropical tem dois climas: o chuvoso e o da seca. Com predomínio cada vez maior do segundo.

O cantar do Sabiá
José Carlos Camapum Barroso

Sabiá cantou no quintal,
Depois de longo,
Tenebroso inverno...
Fim de tarde?
Início de manhã?
Não sei... Sei apenas
Que o mundo mudou:
Veio o ar da Primavera,
O gosto seco de chuva...

O vento de setembro
Pôs fim ao de agosto.
Sabiá-laranjeira,
Ave do peito-roxo,
Canto de primeira.
Som de Altamiro
Carrilho na flauta...
Meu sabiá, bandeira,
Brasão infinito de um
Brasil brasileiro.

Sabiá-ponga,
Sabiá-piranga,
Meu Caraxué!
O sabiá-laranja
Cantou um canto
Triste no terreiro?
Barriga-vermelha,
De um canto fino,
Um cantar sovina,
Bem brasileiro.

Sabiá, sabiá
Não me leve a mal...
Vem cantar de novo
Aqui no meu quintal!

Mas, alguma coisa é possível observar e, de modo geral, nos traz contentamento. As primeiras chuvas começam a acontecer por agora. Algumas flores como a do pé de pequi, vejam as fotos, mostram sua exuberância neste período. Os passarinhos, de modo especial o Sabiá, cantam com mais euforia no pé de amora daqui de casa e fazem uma festa de dar inveja! E, se formos para o campo, já será possível colher os primeiros cajus silvestres.
Olavo Bilac, que conheceu várias regiões do mundo, e era um poeta de aguda sensibilidade, mostrou muito bem a razão da euforia com a chegada da Primavera, nos versos que se seguem. E a Primavera de Vivaldi, na obra prima As Quatro Estações, diz tudo e muito mais...

Primavera
Olavo Bilac

Coro das quatro estações:

Cantemos! Fora a tristeza!
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a Natureza!
Já nos voltou a alegria.

A Primavera:

Eu sou a Primavera!
Está limpa a atmosfera,
E o sol brilha sem véu!
Todos os passarinhos
Já saem dos seus ninhos,
Voando pelo céu.
Há risos na cascata,
Nos lagos e na mata,
Na serra e no vergel:
Andam os beija-flores
Pousando sobre as flores,
Sugando-lhes o mel.
Dou vida aos verdes ramos,
Dou voz aos gaturamos
E paz aos corações;
Cubro as paredes de hera;
Eu sou a Primavera,
A flor das estações!

Coro das quatro estações:

Cantemos! Fora a tristeza!
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a Natureza!
Já nos voltou a alegria.


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