quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Trem de ferro chega a Uruaçu regado a poesia e música


Sempre fui muito questionado por afirmar que Uruaçu é o centro de Goiás, do Brasil, do planeta Terra, e quiçá do Universo (aqui falta a conclusão de alguns cálculos matemáticos de Stephen Hawking, mas ele prometeu terminar logo). Até o pior cego – aquele que não quer ver – pode constatar isso, basta observar um Mapa Mundi. Depois, veio a confirmação quando decidiram que a estrada de ferro Leste-Oeste, ainda um projeto, cruzará com a Norte-Sul bem ali pertinho, na grande Uruaçu, mas especificamente em Campinorte.

A verdade é que a Norte-Sul já está pronta no trecho de Açailândia, no Maranhão, até Anápolis, em Goiás. E as locomotivas já chegaram a Uruaçu para deleite e glória de doutor Cristovam Francisco de Ávila (foto acima), o nosso querido e eterno professor, promotor, advogado e prefeito, que sonha há cerca de vinte anos com esse momento histórico. Uruaçuense da gema, filho da família Fernandes Carvalho, fundadora de Uruaçu, o mestre Cristovam nunca escondeu sua ansiedade com a chegada de tão distinto progresso.

No entorno dele, centenas de familiares e amigos, pessoas tradicionais de Uruaçu, sonhavam acordados com a possibilidade de um dia esse projeto virar realidade. Depois da Belém-Brasília de JK e Bernardo Sayão, do Lago da Serra da Mesa, a esperança maior de desenvolvimento para a região estava aportada na ferrovia Norte-Sul. E esse sonho chegou espalhado pelos 80 vagões de uma bela locomotiva, moderna e imponente.

Doutor Cristovam é desenvolvimentista, patriota, progressista, nacionalista, tudo isso embornado por uma cultura vasta e humanística. Nós crescemos bebendo dessa fonte de sabedoria. E temos muito orgulho disso, e nos regozijamos com a sua alegria num momento tão especial de sua vida e de milhares de família goianas do interior.

Fico a imaginar quanta dificuldade para dormir terá tido Cristovam, seus parentes e amigos na noite de véspera da chegada do primeiro trem. Se o sonho estava prestes a ser realizado, para quê dormir e correr o risco de vê-lo transformado em um pesadelo? Melhor esperar acordado, contando as estrelas, ouvindo o coaxar dos sapos, o trinido dos grilos e assistir o alvorecer na Tapera, ao canto dos galos. 

Quem teve a extraordinária sensibilidade de registrar tudo isso em versos, foi o amigo, psicanalista e poeta, filho de Cristovam, Ítalo Campos, neste belo poema que reproduzo abaixo. Para completar o deleite, duas composições musicais que falam desse universo dos trens de ferro e suas idiossincrasias. O trenzinho do Caipira, de Villa-Lobos, na voz de Edu Lobo, e o Trem das Sete, do saudoso Raul Seixas.

O Trem é esse
Ítalo Campos

Acordem, vovô Afonso e vovó Leonídia,
Ouçam a toada do trem chegando...
Não, não é sonho!
Levantem Diva, Cristovam, Carolina, Dica e Olímpia,
Abram os olhos e vejam.
Não é sonho! Vá chamar Adelino.
Acordem, Dito de Jesus e Adelaide, Dulce,
Derci e Luluca.
Lá vem a Maria Fumaça escrevendo no céu.
Vejam a esperança! Ouçam os pássaros fazendo coro!
Apreciem o vuc-vuc-vuc da máquina de fogo.
Acordem, Ditão e Júlia, acordem os meninos!
Venham ver o cavalo-de-ferro rompendo o cerrado,
Arrebentando lagoas, espantando os animais.
A onça, o macaco, as capivaras e as antas, observam
O bicho centopeia de patas redondas e olhos brilhantes
Avança.
Acordem, Zé Lobo e Helena, Ozorio, Francelino, Domingos e Izaias.
Corram ao terreiro venham ver a
Locomotiva oitocentista que corre como seriema
Carregando no seu rabo todo tipo de Encomenda.
Acorde todo povo da Tapera,
Venham para a porta fazer a festa, cantar alegrias.
Dancem, fortes sertanejos, de mãos dadas, as cirandas
De saudação.
Todos os mortos e os vivos desta Tapera - Fazenda
Imaculada Conceição – girando a ciranda no dia seguinte
Da Imaculada, fazem chegar o trem.
Que ela traga, junto com sua mãe Santana, o bálsamo para esta
Terra que elas sempre habitaram.
Que a Imaculada e Santana desarmem o forasteiro, fertilizem
Estes campos, abrandem os corações...
Que Iraídes e Hildelbrande, de mãos dadas aos Fernandes,
Reguem este cerrado de chuva natural, façam correr o riacho,
Cresçam a manga, o abacate, a banana, o arroz o feijão e a cana.
E que, para o ano, no dia da Imaculada, esta fazenda abençoada
Conte o seu progresso em forma de toada.



Um comentário:

  1. Do autor da poesia aqui publicada, recebi o seguinte comentário por e-mail:
    "Obrigado, poeta e irmão. Eu não consigo fazer comentário lá no blog.
    Grande abraço e Feliz Natal para você, Stelinha, Ramiro e Jordano.
    Ítalo Campos."

    ResponderExcluir