sábado, 26 de agosto de 2017

Mônica Salmaso resgata o talento caipira de um Brasil rural


Em 2014, Mônica Salmaso nos encantou com o belo CD Corpo de Baile (para ler clique aqui), resgatando e revelando canções maravilhosas de Guinga e Paulo César Pinheiro. Neste mês de agosto, lançou o disco Caipira, um mergulho profundo e requintado às raízes de um gênero musical que é a cara do interior brasileiro, principalmente de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Mônica alia seu talento de cantora à paixão pela pesquisa de informações e peças que compõem o cenário musical brasileiro.
Caipira é uma prova inconteste da importância dessa artista para a música popular brasileira. Um projeto que começou a tomar forma há 14 anos, quando ela foi apresentar o show Casa de Caboclo, promovido pelo Sesc de São Paulo. Nesse mergulho ao longo de mais de uma década, Mônica Salmaso visualiza um universo mais ruralista do que propriamente caipira, o que dá ao álbum, além de requinte de arranjos e harmonias, uma amplitude temática capaz de incluir Alvoradinha e a alma nordestina, com suas tradições orais e religiosas, o talento baiano de Roque Ferreira, Gilberto Gil e Nana Caymmi, além do requinte carioca de Cartola, com a tragédia passional de Feriado na Roça.


No bom sentido, Mônica Salmaso, dessa vez, pulou o corguinho, num salto de qualidade que leva consigo a viola caipira de Neymar Dias, um dueto com Rolando Boldrin, canções como Minha Vida (Carreirinho e Vieira, de 1955), a belíssima Leilão (Hekel Tavares e Joracy Camargo, de 1933) e o sucesso Saracura Três Potes (Cândido Canela e Téo Azevedo), gravada em 1983 por Tonico e Tinoco.

Baile Perfumado é uma toada cheia de melancolia, composição de Roque Ferreira e participação de Robertinho Silva na percussão. Ainda de Roque Ferreira, tem o samba Água da Minha Sede, em parceria com outro carioca, Dudu Nobre, e que foi gravada por Zeca Pagodinho. Com sofisticada musicalidade, Mônica Salmaso e Teco Cardoso – flautista, parceiro na direção e produtor do álbum – transpõem essa canção para o mundo caipira.
É preciso ouvir para sentir a delícia poética de Primeira Estrela de Prata (Rafael Alterio Rita Alterio, de 2013), que já foi gravada com o título de Lua Madrinha. O disco todo é um deleite para a nossa sensibilidade. Traduz e enaltece um Brasil rural, interiorano e ao mesmo tempo sofisticado e grandioso.
Mais um álbum para mostrar que a música popular brasileira não perdeu sua capacidade de produzir obras primas. Que venham outros.





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