sexta-feira, 1 de setembro de 2017

As Caravanas do Chico passam, enquanto os cães ladram


Muito se tem dito sobre Chico Buarque de Holanda. Boa parte, melhor seria se não tivesse sido pronunciada. Evitaríamos tanto dissabores, incorreções e até mesmo injustiças sobre esse cidadão que é sem dúvida um dos maiores e mais completos artistas da cultura brasileira. Intempéries ditas tanto no plano pessoal, político, ideológico, quanto no que diz respeito ao conteúdo do seu trabalho e às interpretações sobre peças que compõem seu universo artístico.
O volume de bobagens que já foi dito sobre Chico Buarque daria para escrever uma enciclopédia, um bê-à-bá da bestialogia que assola o país. A mais recente delas, a interpretação que fizeram feministas sobre a música Tua Cantiga, que compõem o belo e delicioso CD Caravanas, lançado no final do mês de agosto. Pequenas mentes medíocres que não conseguem enxergar na arte a diferença que existe entre personagem e pessoa.

Desde a Banda até As Caravanas, que dá nome ao novo disco, Chico atravessou o tempo, gerações as mais diversas, avanços tecnológicos e modismo de todas as espécies, até chegar aos tempos da comunicação on line, das redes sociais, da paixão e do ódio virtuais mesmo que flagrantemente reais. A obra dele é tão boa hoje como no passado, mas encontra dificuldade de se comunicar com o presente. O presente é cruel e superficial. Chico é tratado nas redes sociais como se fosse um burguesinho que acredita no socialismo, mas tem apartamento em Paris e representa o universo acadêmico, por ser filho de um historiador e de ter sido, sem nunca ter sido, beneficiado pelas benesses do poder, entre elas, a Lei Rouanet. Tempos tão difíceis como os da ditadura militar. Agora, a ditadura da intransigência.
Mas Chico Buarque de Holanda é superior a tudo isso. É o compositor mais completo da Música Popular Brasileira, embora não seja o melhor músico e nem o único e extraordinário letrista. Sua obra é ampla, repleta, exuberante, sensível e apaixonante. Quem não a conhece por inteiro não sabe o que está perdendo. Mas, nunca é tarde para fazê-lo. Isso tudo sem falar do Chico da literatura, dos musicais, das trilhas sonoras e outras versatilidades.
Mais uma boa oportunidade para conhecer e apreciar tanto talento está nesse impecável trabalho chamado Caravanas. O artista reforça o amadurecimento musical que já se mostrava no CD Chico. Vai do blues ao samba, passando pelo bolero, sem perder o lirismo, jamais, o talento e o bom gosto, que sempre fizeram parte de seu vasto repertório artístico.


Certa vez, li em algum lugar a opinião do compositor Ismael Silva de que “Chico Buarque é samba”. É, sim, essencialmente o samba que está na raiz da nossa cultura. Mas, um compositor que, graças a seu talento e sensibilidade, soube plainar por todos os estilos, ritmos, tendências e modismos, sem perder a ternura e sem abandonar suas raízes.
Salve Chico. Parabéns por todos esses anos de dedicação plena à cultura. Parabéns por mais um belo disco. O ZecaBlog, humildemente, agradece.
Pode-se até dizer que enquanto As Caravanas de Chico passam, os cães ladram!




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