segunda-feira, 9 de julho de 2018

Um anjo da guarda me protege há exatos 64 anos


Eu, meu pai Juarez, minha mãe Iracema, com Mozart nos braços

Esta segunda-feira é dia da Juventude. Também dia Internacional pelo Desarmamento. E de quebra dia da Revolução e do Soldado Constitucionalista, daqueles que lutaram pelo respeito à Constituição. Valores que, com certeza, foram decisivos para que eu viesse ao mundo naquele longínquo 9 de julho de 1954, por volta das 15h30. Teimosamente, porque a natureza fez de tudo para que o rebento não rebentasse e não visse a luz do dia.

Conta minha mãe Iracema que quando nasci vi a morte de perto. Tanto que o médico achou por bem me batizar logo ali, com o nome de José. Passado o susto, já no quarto, quando ficou sabendo que o seu primogênito, teimosamente, iria sobreviver, dona Ira – como a chamamos carinhosamente – resolveu manter o nome escolhido pelo médico, acrescentando Carlos, e abandonando a sua própria escolha, que era a de me dar a graça de Rui.

Na primeira metade da década de 1950, os recursos médicos e hospitalares em Uruaçu eram escassos. Meu avô, Antônio Pereira Camapum, Seu Toim, então resolveu que o parto daquela menina de apenas 16 anos de idade deveria acontecer na cidade goiana de Anápolis. Não sei se teria sobrevivido se o parto tivesse sido feito em Uruaçu; também não consigo imaginar o contrário. Sei apenas que provavelmente não teria esse nome pomposo, universal e ao mesmo tempo tão raro.

Acredito também que Uruaçu não é lugar para se morrer, mas sim para se viver ampla e intensamente. Por isso mesmo, sou duplamente agradecido a vovô Toim, que teve a ideia de mandar minha mãe pra Anápolis. Hoje, posso dizer orgulhoso: sobrevivi em Anápolis e não morri em Uruaçu.

Até gostaria de saber como minha mãe fez para sobreviver à penosa viagem de Uruaçu até Anápolis. Ela é piauiense e como todo nordestino, antes de tudo, uma mulher muito forte.

Enfrentou estrada de terra, muita poeira, buraco e costela de vaca – pois, era julho e não chove no inverno goiano, mas fazia e faz até hoje frio em Anápolis. Um dia inteiro de viagem... Saía-se cedo de Uruaçu e chegava-se no final da tarde em Anápolis. Quase doze horas na boleia do caminhão de Seu Joaquim Caetano, sacolejando, passando calor e respirando poeira...

Dona Iracema também sobreviveu ao parto “natural”, que de natural não teve nada. Uma criança de 4,3 quilos, bem distribuídos por 52 centímetros faz qualquer parto deixar de ser normal. Tanto que doutor Oscar, o ginecologista, pediu apoio para o experiente doutor Bonfim, na tradicional Casa de Saúde Santa Lurdes de Anápolis. Ambos lutaram para tirar a criança com vida e não deixar a mãe morrer. Tive convulsões, fiquei roxo, mas engatei uma segunda e rompi lá na frente. Filho de nordestinos é assim mesmo, antes de tudo, um forte.

Os médicos venceram e eu ganhei na sorte grande. Sobrevivi e minha mãe, também. Melhor que ganhar um prêmio acumulado da Mega Sena. Acho que é por isso que eu jogo e não consigo acertar nada na Loteria. Ninguém tem uma sorte dessas duas vezes...

Nasci no meio da tarde. Anápolis faz até um friozinho gostoso no mês de julho. Brasília, nessa época, também, que até me faz lembrar aquele dia de inverno... Queria mesmo estar em Anápolis, nascendo novamente, sobrevivendo mais uma vez, curtindo aquele tempinho ameno de julho... Sem sofrimentos para Iracema, claro, uma criança de 16 anos que então tornava-se mãe...


2 comentários:

  1. Parabéns cunhado!! Seu nascimento foi uma verdadeira aventura! Iracema era só menina .

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  2. Parabéns meu amigo. Deus sabe o que faz. Deixou esse menino bem vivinho para que fosse um presente para os seus amigos. E eu sou um felizardo por tê lo como meu amigo.

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