terça-feira, 4 de junho de 2019

Ana Salvagni, um talento que o Brasil pouco conhece


Tem artista que nos encanta logo ao primeiro tom, ao primeiro som, já nos acordes iniciais. Ana Salvagni é dessa estirpe. Cantora, poeta e regente formada pela Unicamp, ela já nos apresenta, de cara, esse currículo suntuoso. Já gravou quatro CDs e todos são lindos de morrer. Seu primeiro disco solo foi lançado em 1999, sendo, portanto, uma intérprete deste milênio.
Mas, bem antes disso, integrou o Trio Bem Temperado, com o qual gravou os discos Trilhas e Mexericos da Rabeca. Também teve uma experiência interessante com o coral Da Boca Pra Fora, que trazia na sua formação componentes de 25 a 60 anos de idade.



No CD de estreia, Ana teve a felicidade de unir canto e viola em uma parceria com o violeiro Paulo Freire, que, além da viola e dos arranjos, também divide com ela a direção musical. A cantora impressiona pela voz doce e límpida, e no disco ela reinventa temas de domínio público, como Nesta Rua e Nhapopé, colocando-os lado a lado com canções de Luiz Tatit, Zé Miguel Wisnik e André Abujamra. Participam também Luiz Fiamingui (rabeca), Lara Ziggiatti (cello), Swami Jr. (violão) e Dalga Larrondo (percussão). Um disco de peso para uma estreante.

No segundo disco, em 2005, ela arrasa ao revisitar canções como Fiz a Cama na Varanda (Dilu Melo e Ovídio Chaves) e Incelença do Amor Retirante, obra-prima de Elomar. Mas, o auge do disco é, sem dúvida, a belíssima interpretação dada à música Avarandado, de Caetano Veloso, que dá título ao disco. Já no terceiro disco, lançado em 2009, com o belo nome de Alma Cabocla, a interpretação dada a Sussuarana, de Heckel Tavares e Luiz Peixoto, é de doer nos ossos. 





No quarto CD, lançado em 2016, Ana Salvagni une-se ao violonista Eduardo Lobo (foto acima), que assina os arranjos e a direção musical. Casamento perfeito para canções que têm estilos variados. Grandes compositores da MPB, como Guinga, Dominguinhos e Tom Jobim são combinados ao italiano Vinicio Capossela, ao venezuelano Manuel Yánez e a um trovador do século XIII. Participações de Matteo Ricciardi, Paulo Freire e Thibault Delor, entre outros. A produção do CD foi inteiramente financiada por cerca de 250 apoiadores, através da plataforma Benfeitoria.
Ana é mais um talento perdido em um país que não valoriza sua cultura. Quem ainda não conhece o trabalho dessa artista deve fazê-lo o mais rapidamente possível. Ana Salvagni é tudo de bom, preserva a música brasileira das más influências e nos ajuda a enfrentar tantas mediocridades espalhadas por aí.


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