Tem artista que nos encanta logo ao primeiro tom, ao primeiro som, já nos acordes iniciais. Ana Salvagni é dessa estirpe. Cantora, poeta e regente formada pela Unicamp, ela já nos apresenta, de cara, esse currículo suntuoso. Já gravou quatro CDs e todos são lindos de morrer. Seu primeiro disco solo foi lançado em 1999, sendo, portanto, uma intérprete deste milênio.
Mas, bem antes disso, integrou o Trio Bem Temperado, com o qual gravou os discos Trilhas e Mexericos da Rabeca. Também teve uma experiência interessante com o coral Da Boca Pra Fora, que trazia na sua formação componentes de 25 a 60 anos de idade.
No
segundo disco, em 2005, ela arrasa ao revisitar canções como Fiz a Cama na
Varanda (Dilu Melo e Ovídio Chaves) e Incelença do Amor Retirante,
obra-prima de Elomar. Mas, o auge do disco é, sem dúvida, a belíssima
interpretação dada à música Avarandado, de Caetano Veloso, que dá título
ao disco. Já no terceiro disco, lançado em 2009, com o belo nome de Alma
Cabocla, a interpretação dada a Sussuarana, de Heckel Tavares e Luiz
Peixoto, é de doer nos ossos.
No
quarto CD, lançado em 2016, Ana Salvagni une-se ao
violonista Eduardo Lobo (foto acima), que assina os arranjos e a direção musical. Casamento
perfeito para canções que têm estilos variados. Grandes compositores da MPB,
como Guinga, Dominguinhos e Tom Jobim são combinados ao italiano Vinicio
Capossela, ao venezuelano Manuel Yánez e a um trovador do século XIII.
Participações de Matteo Ricciardi, Paulo Freire e Thibault Delor, entre outros.
A produção do CD foi inteiramente financiada por cerca de 250 apoiadores,
através da plataforma Benfeitoria.
Ana é mais um talento perdido em um país que não valoriza sua cultura. Quem ainda não conhece o trabalho dessa artista deve fazê-lo o mais
rapidamente possível. Ana Salvagni é tudo de bom, preserva a música
brasileira das más influências e nos ajuda a enfrentar tantas mediocridades espalhadas por aí.
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