sábado, 18 de maio de 2019

Viola Perfumosa lembra Inezita Barroso e Villa-Lobos


Continuo dizendo, como disse em outras oportunidades neste espaço, que a música brasileira é de uma riqueza inestimável e uma capacidade extraordinária de nos surpreender. Com a indústria cultural, o que aparece e faz sucesso são as músicas e os artistas descartáveis, nos quais a qualidade artística pouco importa, se ela existir é apenas um detalhe. Os bons compositores e intérpretes de qualidades transitam por um limbo, como se fossem almas penadas em busca da salvação.

Esse nariz de cera, ou prolegômenos, como queiram, está posto porque descobri mais um disco maravilhoso, lançado no ano passado, sobre o qual pouco se sabe, e muitos nada ficaram sabendo. Tem o delicioso nome de Viola Perfumosa. É obra e arte do trio formado pela mineira Ceumar (violão, canto e percussão), o carioca Lui Coimbra (canto e violoncelo) e o paulista Paulo Freire (viola e canto), que se juntaram para gravar um disco em homenagem à Inezita Barroso (para ler sobre ela, clique aqui), uma das mais emblemáticas artistas da música popular brasileira.


No repertório, estão sucessos como Luar do Sertão (João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense), Tamba-Tajá (Waldemar Henrique), Índia (versão de José Fortuna) e Amo-te Muito (João Chaves). Como é uma homenagem a Inezita, não poderia faltar A Marvada Pinga (Ochelsis Laureano). Esse é o disco que seria o dos sonhos dessa paulista, que nos deixou em março de 2015, aos 90 anos de idade, a maior parte deles dedicada a música popular e ao folclore brasileiro.

O álbum é basicamente executado pelos três, contando apenas com o pandeiro de Marcos Suzano, em algumas gravações. A instrumentação, toda ela conduzida basicamente pela viola de Paulo Freire, o violão e as percussões de Ceumar, o violão, violoncelo, rabeca e charango de Lui Coimbra, têm trejeitos de música de câmera.


O disco é conduzido em formato de prosa, com direito a “causos”, conversas, mas sem com isso perder, em momento algum, a ternura e um grande rigor na execução. Fui descobrir essa obra-prima graças a um zap recebido do amigo Nélio Bastos, como eu, um apaixonado pela boa música brasileira.

Em tempos de funk, sertanejos universitários e outros desarranjos que são tocados por aí, esse disco vem lavar a nossa alma, nos enche de ternura e contentamento. A interpretação de Horóscopo (Alvarenga, Ranchinho e Capitão Furtado), por Paulo Freire é uma graça, e nos remete à obra desse paulista, sempre repleta de prosas e “causos”. No álbum, Lui Coimbra é responsável pelo toque camerístico, que nos dá uma boa ideia do interessante diálogo da obra de Villa-Lobos com a cultura popular. Com o talento desse carioca, o disco acaba homenageando também Villa-Lobos.

Ouçam, apreciem essa Viola Perfumosa, ela tem brilho, cor, cheiro e gostinho de Brasil do interior! Interpretações impecáveis para as belas canções Tamba-Tajá e Luar do Sertão.


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