domingo, 16 de junho de 2019

Entre o corpo e a alma, os versos dos poetas


Há quem não goste de falar sobre alma. Acredita que só o corpo e a mente são a razão do existir. Um tema profundo e delicado, abordado em uma dimensão especial pelos filósofos. Mas, é um tema interessante para a poesia, não há dúvidas. Carlos Drummond, por exemplo, falando do amor, desafiou “quem ousará dizer que ele é só alma/ quem não sente na alma o corpo expandir-se/ até desabrochar em puro grito/ de orgasmo, num instante infinito”. 
Clarice Lispector foi mais longe e chegou a refletir sobre o peso que a alma tem, nesses versos de extraordinária beleza:

“Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. 
Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. 
Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. 
E a lágrima que não se chorou. 
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros. ”


Os poetas são assim: enxergam a leveza do corpo e a materialidade da alma na imensidão da vida, do universo e dos sonhos, e por que não dizer, do amor. Conseguem sentir a dificuldade de se amar pela alma. Como Manuel Bandeira nesse belíssimo poema abaixo. Na sequência um vídeo do ZecaBlog, com a poesia Corpo e Alma, uma tentativa de também viajar pelo tema.

Arte de Amar
Manuel Bandeira

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Um comentário:

  1. Maravilhoso, voz fluente e agradável de ouvir tão belos versos. A alma é dona do sentir: Alegria, tristeza, saudade.

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