terça-feira, 30 de junho de 2020

Neve da Montanha e o Inverno do nosso tempo



No quintal aqui de casa tinha um pé de Neve da Montanha (Euphorbia Leucocephala), também conhecida como Cabeça-de-velho ou Cabeça-branca por causa do visual que a planta fornece quando está florida. Senti falta dela hoje, ao ver essa foto acima. Nesta época, estaria resplandecente, espalhando beleza pelos quatro cantos do quintal. Começa a florir no Outono e só termina na Primavera. Mas, seu auge mesmo é no Inverno.

Sinto mais falta ainda pelo momento tão difícil que estamos vivendo em razão da pandemia do coronavírus. Se estivesse lá no fundo do quintal com seu manto de noiva, seria mais um descanso para os olhos e um acalanto para alma em meio a tanto isolamento, em noites longas e frias. Como disse o poeta Leminski: “O Inverno é tudo que sinto/ viver é sucinto”.


O Cabeça-de-Velho faz falta. Pra superar essa ausência fui ouvir Cartola e a sua belíssima Inverno do Meu Tempo. Poesia pura, como tudo que o mestre Angenor de Oliveira nos deixou como legado ao trocar esse mundo por outro há 40 anos. São marcantes os versos que dizem “Surge a alvorada/ Flores a voar/ E o Inverno do meu tempo/ começa a brotar/ a minar...”

Também resgatei os versos que foram feitos nos tempos que a Noivinha ainda dava seus ares pelo quintal. Ler poesia e ouvir música nos ajuda aplacar os temores. Por isso mesmo, trago Profissão de Febre, poema lindo de Leminski.

Acho que dá pra esperar o sono, adormecer e acordar amanhã cheio de esperanças. Logo, chegará a Primavera...


Folhas e flores
José Carlos Camapum Barroso


Neve da montanha

Que não quer florir

É cabeça de velho

Sem teto a esculpir.

Cabeleira-de-velho

Troca folha pela flor,

Cabelos por ideias,

Na fronte alva a luzir.

Vão-se folhas verdes,

Brotam flores brancas,

Caem amores esquecidos,

Nascem outros rejuvenescidos.

Cabeça branca no Outono a florir

É como a saudade do Verão a partir,

Num Inverno, frio, que teima em resistir...

Euphorbia Leococephala a florir é Deus a sorrir,

Gerar um novo mundo, antes que as flores voltem a cair.



Profissão de Febre
Leminski

quando chove,
eu chovo,
faz sol,
eu faço,
de noite,
anoiteço,
tem deus,
eu rezo,
não tem,
esqueço,
chove de novo,
de novo, chovo.
assobio no vento,
daqui me vejo,
lá vou eu,
gesto no movimento.



8 comentários:

  1. Que maravilhoso, Zeca. Amei. Obrigada por escrever e compartilhar textos, fotos e música, tudo no mesmo lugar tornando o anoitecer de hoje mais feliz.

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  2. Que maravilhoso, Zeca. Amei. Obrigada por escrever e compartilhar textos, fotos e música, tudo no mesmo lugar tornando o anoitecer de hoje mais feliz.

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  3. Gostei tanto! Ñ sei como apareceu, nunca tinha visto um blog - sou bem ignorantezinha dessas coisas de informática - mas se tivesse talento gostaria de escrever coisas assim...

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