quinta-feira, 21 de abril de 2022

Brasília faz 62 anos de sonhos e esperanças



Brasília vive em mim e vivo sob suas asas há 49 anos, quase meio século. Aquele ano de 1973, quando por aqui cheguei, foi marcado pela tragédia da pequena Ana Lídia. Mas, tudo era belo e puro naquele horizonte de céu imenso e tardes resplandecentes quando fui recebido por essa cidade de sonhos e esperanças.

Nem tudo era tragédia, embora vivêssemos ainda sob o manto escuro e obscuro de uma ditadura sangrenta e opressora. Amigos presos, amigos sumindo... e o povo ansioso por uma luz no fim do túnel.

Nos anos de 1970 o Lago Paranoá fedia em uma cidade ainda não afetada pela poluição do ar e dos seus rios e córregos. Até sua completa despoluição no final da década, o lago estava longe de ser uma opção de lazer e entretenimento.


Essas e outras tragédias marcaram a cidade que nunca perdeu a marca da esperança e dos sonhos de milhões de brasileiros. Perdemos nosso fundador e criador Juscelino Kubitschek, depois Tancredo Neves que encarnava o sonho da democratização.

Foi aqui que me formei e exerci, e ainda exerço, orgulhosamente a profissão de jornalista, tão ameaçada e incompreendida atualmente. Nessas mesmas Asa Sul e Norte constitui família e criamos nossos filhos, em uma cidade tida “como o melhor lugar do mundo para se criar os filhos”.

Brasília sempre foi fascinante pela capacidade de acolher e abrigar quem a procurasse. Um dom que ela já irradiava desde antes mesmo de existir, quando os raios de aconchego brilhavam da Cidade Livre.

A cidade cresceu. Superou todos os desafios, embalada pelo horizonte musical de serestas, sambas, chorinhos e as tão promissoras bandas de rock. Atravessou décadas criando, recriando e se reinventando num mundo cada vez mais moderno e tecnológico.

Atravessou o século, o milênio, e chegou incólume, garbosa e sempre gentil aos anos de 2020. Agora, mais que sexagenária, mostra ares de amadurecimento sem perder sua natural juventude, jamais.


Assim como o mundo todo, os cinco continentes e dezenas de países, Brasília comemora seus 62 anos de existência ainda sob o signo ameaçador e onipresente de tantas incertezas pós pandemia, novas guerras, ameaças à democracia, tragédias e destruições do meio ambiente e da cultura. Nós candangos, seus filhos, que já são muitos, seus visitantes, transeuntes, vivemos, nos últimos dois anos, uma dura realidade. Tivemos que nos isolar socialmente, afastarmos das pessoas que amamos, recusar abraços e apertos de mãos que sempre foram a marca dessa cidade.

Brasília assistiu, e ainda assiste, entes queridos adoecerem, se isolarem e morrerem. Os fins de tarde, os alvoreceres tão famosos, o céu de Brasília e a luminosidade de um horizonte de sonhos e esperanças ficaram ofuscados, à meia luz, à espera de um novo sonho de Dom Bosco, de onde possam transbordar mel e bálsamo para dores que ainda teimam em não se aplacarem.

A cidade dos sonhos enfrentou mais um pesadelo sem perder a esperança e agarrada à missão para a qual logrou existir: somos o futuro e ele ressurgirá no amanhã.

Brasília é o que somos, o que plantamos e o que colhemos.

Obrigado, Brasília. De coração.


Superquadras

José Carlos Camapum Barroso

 

Quadras quadradas,

Retângulos obtusos,

Saídas em círculos

De retas infinitas...

Triângulo (in)vértice,

Curvas imaginárias,

Onde paralelas finitas

Enfim se encontram

Entre duas asas.

 

Povo e povoado

Distantes do amanhã.

Casa e casebre...

Longe, perto, edifício...

Um mato que mata

Um sonho, pesadelo.

 

Árvore arvoredo...

De buscar bem cedo

Antes que o retorno

Sombrio da noite

Tire o Eixo dos eixos.

 

Brasília em brasa

No círculo do circo

Que teima em circular.

Brasília de traços

Vistos do horizonte...

 

Hoje ainda de manhã,

Belas tardes de ontem.




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