quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Histórias de nomes e de registros em cartórios

Se há um lugar no serviço público brasileiro que tem muitas histórias engraçadas, interessantes e curiosas, é em cartório de registro civil.

Quase todo mundo conhece alguma história ocorrida em cartório quando os pais vão para registrar seus filhos. Seja pelo inusitado dos nomes escolhidos, ou por causa de erros, propositais ou não, cometidos pelos escrivães. Em alguns casos, também é divertido o comportamento adotado pelos servidores.

Registro, neste espaço, duas histórias ocorridas no interior brasileiro. Uma foi contada por um colega de Banco do Brasil, nos tempos em que eu e a minha mulher Stela trabalhávamos por lá. A outra foi contada no Facebook pelo amigo Rodrigo Kramer, morador e músico em Uruaçu, Goiás. Uma situação que ele mesmo presenciou em um cartório, a qual reproduzo mantendo a sua narrativa.


Entendimento errado

No interior de Goiás, lá pelos idos de 1950, o pai e a mãe foram levar duas crianças para realizar o registro de nascimento. Naquela época, era muito comum o casal deixar para registrar a criança junto com o segundo filho, ou mesmo com o terceiro, todos de uma vez só para resolver tudo na cidade em uma viagem só.

Os pais se sentaram, humildemente, à frente do escrivão, com as crianças no colo. O atendente, do alto de sua autoridade, perguntou com determinação:

–   Quais os nomes das crianças, mamãe?

–    Ela é Neide e ele é Nelson – disse a mãe, com voz suave e carinhosa que só as mães conseguem emitir.

Saíram do cartório com a ilusão do dever cívico cumprido, em um país em que exercer tal direito nunca foi fácil. Pouco anos depois, descobriram que as crianças estavam registradas com os nomes de Eleneide e Elenelson. E assim ficaram e estão por aí com esses nomes, devidamente registrados e conscientes de que papai e mamãe fizeram sua parte no cumprimento do dever cívico. A Stela conheceu o Elenelson, em Goiânia.


Nome apropriado

São tantas as pessoas com nomes estranhos. Ou que não encontram seu correspondente no feminino ou no masculino. Meu nome, por exemplo, é Rodrigo, mas, nunca vi nenhuma Rodriga por aí. No máximo, o gênero neutro Rodrigues...

Quando estava em um cartório, um casal, à minha frente, pediu para que fosse registrada sua pequena filha. Ouvi o nome: Leide Max. A mulher do cartório, na hora, arregalou o olho e disse pro casal:

–   Esse nome é masculino!

–   Qual? Leide?! – ironizou a mãe.

–   Não... Max!

–   Mas, é esse o nome que desejamos e vamos colocar na nossa filha, queira você ou não!

A regulamentadora de nomes, achou muita petulância da mãe, e retrucou:

–   Aqui neste cartório, não vai, não!

O pai, calado, até então, pergunta:

–   Qual é mesmo o seu nome minha senhora?

Ela na maior displicência, responde:

–   Maria José.

Neste momento, fez-se um silêncio sepulcral no cartório. Ao fundo, dava pra ouvir um pequeno zunido de quem segura uma risada prestes a explodir. Mas, foi impossível contê-la. A gargalhada brutal contagiou a todos e a atendente percebeu o grau da sua paranoia.

Leide Max saiu do cartório com seu nome devidamente registrado.

  

2 comentários:

  1. Que legal, obrigado mais uma vez pelo apoio Zeca. Adoro histórias de cartório.

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    1. De nada, imagina. É uma satisafação publicar aqui suas histórias (im)pessoais.

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