sábado, 8 de outubro de 2022

Águas passadas não movem moinho... e as palavras?

Palavras são palavras, nada mais do que palavras. Provérbio antigo, assim como: águas passadas não movem moinho. Ambos ficaram registrados na minha memória desde criança. Lembro, como se fosse hoje, da figura esquálida, inteligente, espirituosa, do jornalista e memorialista Filomeno Luiz França a dizer esses pensamentos, sentado na cozinha da casa dos meus pais, em rodas de conversas naquele tempo em que não havia televisão por lá.

Águas que se foram não moverão mais aquele velho moinho, engenhoso, de saudosa memória. Outras águas, provavelmente não tão límpidas e desprovidas de encanto, por ali passarão a desempenhar tal função.

As palavras, por si mesmas, se perdem no tempo e no espaço. Sempre foi assim, desde que o ser humano deixou de grunhir, trocou o ranço do murmúrio por sábias palavras, engendrou frases e construiu parágrafos. Por esse caminho, veio o canto, a musicalidade da espécie e a filosofia.

Moinhos movidos a água e vento são como literatura – poesia e prosa – que continua a gerar beleza, encantamento e a revolucionar o mundo e a nossa existência, mesmo quando as palavras já se foram. Águas passadas giram novos moinhos, produzem energia e seguem curso afora, incólumes, deslizantes e suaves como o sopro divino.

Águas e palavras são sonoras, de tonalidades átonas, preenchidas pela vogal “a”, a mesma que inicia a palavra amor. Dois termos que, quando sobrepostos, podem gerar expressões como agualavras e paralaguas. Se muito misturadas, sacudidas e soltas ao vento, moverão aqueles moinhos de Dom Quixote. Serão mais que palavras, além das águas, muito mais do que nada mais. Voltarão no tempo e seguirão rumo ao futuro.

Pensem nisso hoje e amanhã. O dia de ontem, não nos deixará seguir incólumes e nem nos deixará isolados, perdidos e soltos na imensidão da dúvida e do destempero.

Palavras são muito mais do que palavras. Águas passadas nos conduzem, sempre, à vida eterna.

Amém. 

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